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956 I SÉRIE - NÚMERO 26

O Sr. João Matos (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Ao intervir, hoje, neste Plenário, pretendo reflectir convosco um assunto que, como poucos, têm uma dimensão e um importância que ultrapassam as paredes deste Hemiciclo, as barreiras de qualquer partido, as diferenças entre camadas etárias ou classes sociais.
Uma questão que tem sido esquecida e sobre a qual, no entanto, brevemente todos, repito, todos, teremos de prestar contas.
Uma questão que poderá representar um ponto de viragem histórico no desenvolvimento cultural e desportivo das populações, principalmente das camadas mais jovens, ou então, mantendo-se o completo alheamento verificado até agora por todas as entidades responsáveis representará seguramente um falhanço, também, histórico na protecção e apoio ao desporto de alta competição e à prática do desporto em geral.
Ao contrário do que possa parecer não pretendo falar do orçamento do próximo ano, ou da revisão constitucional...
Pretendo sim falar duma questão tão simples e ao mesmo tempo tão decisiva como os próximos Jogos Olímpicos de Barcelona e a Feira de Sevilha que se realizarão em 1992, em Espanha.
Os primeiros Jogos Olímpicos que se realizam na Europa nos últimos 16 anos, com o impacto noticioso que isso representa, e com a enorme afluência de espectadores europeus que isso permite.
Os primeiros Jogos Olímpicos a terem lugar na Península Ibérica com enorme projecção que isso representará para os dois países ibéricos e, mais importante, com a possibilidade, pela primeira vez aberta, de os atletas em número significativo participarem, de os desportistas em geral aprenderem, os jovens assistirem e, não menos importante, os nossos aeroportos, hotéis e tantas outras infra-estruturas e equipamentos servirem de apoio.
Em traços muito sumários esta a decisiva importância para o nosso país, dos próximos Jogos Olímpicos.
Importância tão ou tão pouco significativa que levou países anfitriões dos jogos, como a Coreia do Sul, a construírem de raiz infra-estruturas desportivas, parques habitacionais, equipamentos turísticos, serviços de transporte e comunicações, superiores à totalidade dos existentes nesses países até esse momento.
Importância tão ou tão pouco significativa que levou os países anfitriões e os países vizinhos a desenvolverem com anos de antecedência campanhas publicitárias, de sensibilização e divulgação das suas potencialidades nesses domínios.
Que levou esses países a investirem importantes recursos em programas de apoio e desenvolvimento intensivo das modalidades olímpicas, não só com vista à obtenção de resultados significativos (lembro que a Coreia obteve mais medalhas nos últimos jogos do que em todos os jogos anteriores, lembro também que a Espanha e a França já iniciaram há mais de dois anos estas acções com vista a 92) mas procurando, simultaneamente, que esses resultados servissem como impulso para a prática do desporto em geral.
Importância tão ou tão pouco significativa que levou esses países e sobre este aspecto os Jogos de Barcelona assumem especial importância pela simultaneidade com a realização da Feira de Sevilha, que levou esses países, dizia eu, a enquadrarem inteligentemente a realização dos jogos, em iniciativas mais amplas e talvez ainda mais significativas de carácter cultural.
Que levou esses países, numa palavra, a mobilizarem o conjunto nacional transformando a realização dos jogos numa aventura colectiva normalmente transformada em motivo de orgulho nacional.
No entanto, pasme-se, face a tanta evidência e onde era tão fácil ter simplesmente copiado o que outros já fizeram e estão a fazer a verdade é que nada se fez em Portugal com vista aos Jogos de Barcelona.
Pelo menos nada que surgisse enquadrado num plano de conjunto, que atenda simultaneamente e de forma integrada todas estas vertentes. Que seja programada a quatro anos de prazo, com princípio, meio e fim.
Como exemplo suficiente basta referir que sendo do conhecimento público a possibilidade quase garantida de se poderem realizar em Espanha as provas equestres, devido à peste equídea, e apesar das excelentes alternativas que o nosso país pode oferecer, ainda assim, Portugal nada fez até hoje enquanto a França, aproveitando este silêncio, já nos Jogos de Seul fez uma enorme campanha publicitando as suas instalações hípicas.
E não se diga que era impossível ou que agora é impossível a inversão deste estado De um modo geral, a valorização da cultura e história do nosso país na Expo 92 a realizar em Sevilha, e se possível a mobilização do colectivo nacional em torno da nossa presença e participação nos Jogos Olímpicos de Barcelona...
Sr. Presidente, Srs. Deputados: Tudo isto ainda é possível embora seja hoje mais difícil pelo tempo perdido, sonolência colectiva.
Sublinhe-se sonolência colectiva porque mais do que o Governo as federações desportivas ou os atletas, os culpados somos todos nós que mais uma vez não conseguimos a mobilização e empenhamento colectivos necessários para um empreendimento como este.
Com maior responsabilidade para aqueles que, como eu, por serem jovens dentro e fora deste Hemiciclo deviam tomar a dianteira neste campo.
Apenas pretendi deixar o alerta, apontando os problemas concretos e levantando as principais questões.
Quero terminar dizendo que se não soubermos responder a este desafio, dentro de pouco tempo, e com razão, seremos responsabilizados, em particular, pelos jovens, por perder mais uma oportunidade única e histórica de afirmar o nosso país, de apoiar e promover o desporto e a cultura junto das nossas populações.
E, principalmente, estaremos a dar razão aos espanhóis que utilizam já neste momento, como cartaz oficial de que a Espanha é toda a Península Ibérica, sem demarcação do nosso território e das nossas fronteiras..

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Lemos.

O Sr. Jorge Lemos (PCP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Dois factos recentes são bem exemplificativos do que vem sendo a prática da governação PSD/Cavaco Silva: mais uma vez o Governo abdica da defesa do interesse nacional; o PSD, por outro lado, acentua a tentativa de controlo absoluto da vida política portuguesa, com sistemático recurso à manipulação dos órgãos de comunicação social.
O primeiro facto é este: o Ministro dos Negócios Estrangeiros discursou em inglês na recente Conferência