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10 DE MARÇO DE 1989 1775

que «o PS tinha metido o socialismo na gaveta» e pensei que V. Ex.ª ia por esse caminho. No entanto, ao referir que é preciso meter a justiça social na macroeconomia, o Sr. Deputado quis, certamente, dizer que há justiça social na microeconomia.
O PSD pode, realmente, orgulhar-se do seu Governo porque, em termos de justiça social, está atender ao maior número de portugueses.
Falou depois na questão da pobreza. Eu não sabia, Sr. Deputado, que havia pobreza urbana e pobreza rural. V. Ex.ª só aqui falou na pobreza urbana!... A pobreza também está dividida em urbana e rural?

Risos do PS.

Sr. Deputado Torres Couto, a terminar, quero dizer-lhe que, para mim, há uma outra pobreza, a do seu discurso, que foi uma pobreza cultural.

O Sr. João Corregedor da Fonseca (Indep): - Que grande esforço!...

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, antes de dar a palavra ao Sr. Deputado Torres Couto para responder aos pedidos de esclarecimento, porque se têm suscitado algumas dúvidas, quero informar - e pedia aos grupos parlamentares que disso informassem também os Srs. Deputados - que procederemos a votações às 19 horas e 30 minutos, hora habitual e tradicional de votações.
Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Torres Couto.

O Sr. Torres Couto (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Registei as questões que aqui me foram colocadas e, antes de lhes dar resposta, quero tecer uma consideração de ordem geral.
Os Srs. Deputados, nomeadamente os do PSD, glosando o mote do Sr. Deputado Marques Júnior, tentaram aqui marcar uma contradição - que esclarecerei a seguir - uma hipotética contradição entre o dirigente sindical e o deputado.
Gostaria de dizer que, pelas questões postas, nomeadamente pela bancada do PSD, estamos em presença de problemas levantados por parlamentares de grande mérito mas por pessoas que quase poderia rotular de ignorantes em matéria sindical e social. Como Secretário-Geral da UGT, estou disposto a vir aqui, na qualidade de sindicalista, explicar aos senhores algumas coisas que deviam ver e que tinham a obrigação de ver. Pêlos vistos VV. Ex.ªs seguem de tal maneira o vosso chefe que também já deixaram de ler os jornais, não seguindo sequer atentamente aquilo que a comunicação social escreve.

Aplausos do PS e do CDS.

Sr. Deputado Joaquim Marques, V. Ex.ª perguntou-me se era possível separar o deputado do PS do Secretário-Geral da UGT. Respondendo-lhe de uma forma muito simples: felizmente não é possível!!
E não é possível porque sou responsável por uma central sindical e sou deputado de um grande partido de trabalhadores, um partido com enormes preocupações sociais, o partido da liberdade, o partido que não suspende os seus militantes por pensarem de forma diferente do chefe...

Aplausos do PS.

O Sr. Joaquim Marques (PSD): - Quem é que expulsou o Aires Rodrigues?

O Orador: - ..., é o partido onde podemos livremente, sem sanções e sem punições, defender as nossas posições e, inclusive, marcar as nossas diferenças. É por isso que sou socialista e é por isso que não há incompatibilidade alguma entre as duas funções.
De qualquer maneira, em outras bancadas, como a sua, há, de facto, algumas incompatibilidades, que referirei.

O Sr. Joaquim Marques (PSD): - Quem é que expulsou o Aires Rodrigues?

O Orador: - Gostaria de dizer ao Sr. Deputado Joaquim Marques, por quem tenho um grande respeito e uma enorme amizade pessoal, que, para mim, é tremendamente penalizador, é muito difícil, responder a questões que me colocou não por imposição da sua consciência mas apenas por obrigação e por disciplina partidária. No entanto, o Sr. Deputado a isso me vai obrigar.
Como consigo separar as coisas e não tenho qualquer dificuldade em encerrar o pequeno contencioso aqui estabelecido consigo, estou convencido de que, depois disto, a nossa amizade vai continuar. Parece-me extremamente incorrecto, em nome do passado que V. Ex.ª aqui citou, em nome, inclusive, de uma história que, efectivamente, fizemos juntos, contrariando grande parte de militantes do seu partido a de deputados que actualmente se sentam na sua bancada, contrariando mesmo a vontade do líder da altura, Dr. Sá Carneiro, que também estava contra o percurso conjunto que trilhámos, que é inaceitável, o Sr. Deputado, que V. Ex." se tenha dirigido a mim dizendo: «Sr. Deputado, Secretário-Geral da UGT». Isso é tão incorrecto como se eu lhe respondesse dizendo: «Sr. Deputado, Ex-Secretário de Estado do Emprego».

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - Era grave, era incorrecto, não o faço e lamento profundamente que V. Ex.ª, uma pessoa que me habituei a respeitar pelo seu comportamento elevado, pela forma correcta como se comporta na política, o tenha feito. Não esperava que tentasse, com essa pequena nuance, lançar alguma confusão num debate que, em nome da minha bancada, estou disposto a assumir com W. Ex." até às últimas consequências.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - E estou disposto a assumi-lo até às últimas consequências pela simples razão de que VV. Ex.ªs querem confundir as questões. VV. Ex.ªs pretendem que eu, pelo facto de, como líder sindical, ter tido uma reunião institucional com o Sr. Primeiro-Ministro, seja obrigado a chegar à tribuna desta Assembleia e, sonegando a verdade, dizer que o Governo negoceia e dialoga.
Quero dizer-lhe, Sr. Deputado, que já cheguei à conclusão de que quantas mais horas dialogo com o Primeiro-Ministro menos negoceio, de quanto mais tempo passo com o Sr. Primeiro-Ministro menos vontade