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2 DE NOVEMBRO DE 1989 233

nhou um largo avanço em relação às ideias. Mas as transformações por ela provocadas, bem como as grandes mudanças políticas em curso, irão trazer de novo a ideologia ao primeiro plano dos grandes debates.
Por isso, a perspectiva de reformas democráticas é um motivo de esperança para toda a esquerda europeia e vem dar uma nova força e dimensão aos ideais do socialismo, aliás, como o demonstra a nova e significativa vitória do PSOE nas eleições espanholas.

Aplausos do PS.

Nem todos assim o entendem. E não apenas aqueles cujas certezas de toda uma vida são abaladas pelos acontecimentos actuais. Também b Governo parece apegado a uma concepção das coisas que dia-a-dia está a ser subvertida pelo próprio acontecer histórico. Por vezes, para efeitos de politiquice interna, procura utilizar em proveito próprio os factos que ocorrem no Leste Europeu. Mas na verdade não compreende o sentido profundo do que ali se passa. Caso contrário, não adoptaria aqui, no extremo oeste, algumas das práticas e das taras que estão a ser postas em causa a leste.

Vozes do PS: - Muito bem!

O Orador: - É que certos traços do estalinismo são comuns às tentações hegemónicas que se manifestam por vezes no quadro de um regime democrático. A inspiração ideológica pode ser diferente, mas a essência é parecida: é sempre a busca de um poder sem partilha, é sempre uma abdicação cívica e uma perversão da cidadania.

Vozes do PS e do CDS: - Muito bem!

O Orador: - Por isso, pode morrer a leste e renascer a oeste, pintado, no caso lusitano, de cor laranja. Não porque o PSD seja um partido totalitário, mas porque os tiques estalinistas podem ter várias cores e várias formas e podem atingir qualquer partido, sempre, que nele se manifeste a tentação da hegemonia e da arrogância.

Aplausos do PS e do CDS.

Vimo-lo no debate da moção de censura apresentada pelo PS, lemo-lo nos editoriais do jornal Povo Livre, ouvimo-lo nas declarações do porta-voz da comissão política do PSD. Constatamo-lo aqui, diariamente, na total abdicação da maioria parlamentar perante o Governo. Nem já no parlamento soviético tal acontece. Lá já se ouvem críticas ao Governo e a Gorbatchov. Não consta que alguma vez um senhor deputado da maioria tenha ousado criticar Cavaco Silva ou qualquer dos seus ministros.

Aplausos do PS.

O que nós aqui vemos é algo de muito diferente da dinâmica democrática que um pouco por, toda a parte abala o Mundo. O que nós vemos aqui é o culto e o endeusamento do líder e a tentativa de submeter tudo e todos à sua vontade e às suas decisões; é o narcisismo, o auto-elogio, a transformação da informação em propaganda e a apologia dos actos do Governo.
O que nós vemos aqui é a oposição à oposição como programa e estratégia única e última do Governo, pouco, faltando para considerar a sua existência e o legítimo exercício dos seus direitos como um pecado de lesa-pátria e um crime de lesa-majestade:

Aplausos do PS.

O que nós vemos, Sr. Presidente e Srs. Deputados, é a confusão entre o partido e o Estado, com a subordinação destes aos interesses e apetites daquele. O que nós vemos é a desvalorização da política e a exaltação do número para disfarçar a ausência de uma estratégia, de um pensamento e de uma visão cultural dos problemas do Estado e do País. E é também, não podia deixar de ser, a irresistível tentação de reescrever a história para manipular o passado e o colocar ao serviço das conveniências do presente, como o comprova o infeliz voto apresentado pelo PSD.

O Sr. Duarte Lima (PSD):- Não é verdade!

O Orador: - Finalmente, o que nós vemos é a repetição sistemática da mentira, com a ilusão de que a opinião pública acabará por torná-la como um dado de facto. Foi assim que ultimamente o Governo se vestiu de capuchinho laranja e se pôs a gritar aos quatro ventos que vem aí o lobo mau.
E quem é o lobo mau com grandes olhos para nos ver e grandes dentes para nos comer?

Voz do PSD: - É um cordeiro!

O Orador: - Nada mais nada menos que o PS, que já foi cordeiro e agora anda de lobo, coligado em Lisboa com o papão do PC, com "pacto secreto" entre os dois, para abocanharem o Poder em 1991. Ouvimos algo de parecido em 1958, quando a propaganda salazarista começou a falar do "Pacto de Cacilhas" a propósito da desistência do Dr. Arlindo Vicente em favor do general Humberto Delgado.
O País devia estar a tremer de medo, mas não. Não está. Ninguém acredita na fábula do lobo mau, porque todos sabem que a coligação "Por Lisboa" é por Lisboa e nada mais. Mas aí é que está: quem tem medo, afinal, é o Governo. Em primeiro lugar, de perder Lisboa e, depois, de uma dinâmica de mudança que leve de novo o PS à vitória no País.
É por isso que o Governo não gosta de mudanças, nem no Leste nem cá. O seu estilo dá-se melhor com a crispação do que com a distensão. O que verdadeiramente preocupa o Governo não é o lobo mau, mas são os sinais de um tempo de mudança, porque esses sinais também põem em causa os seus dogmas, os seus conceitos, os seus tabus e preconceitos e exigem algo a que este governo é profundamente avesso: o diálogo, a abertura, a busca de consensos nacionais em tomo dos objectivos essenciais do País.
Sr. Presidente, Srs. Deputados: As grandes prioridades nacionais e os desafios que Portugal tem de enfrentar exigem uma nova atitude mental e política e uma outra forma de considerar as questões do Estado e do País.
Antes de mais, como tem sublinhado o Sr. Presidente da República, é necessário um novo pensamento estratégico capaz de orientar a modernização do Estado, tendo em vista a transformação e a adaptação exigidas à sociedade portuguesa pelo desenvolvimento do Acto Único Europeu e pela realização do mercado comunitário em 1992.
Uma nova política para a educação e para a cultura, uma estratégia nacional da ciência e da tecnologia que permita um maior rendimento do ensino e dos centros de investigação, por forma a modernizar e diversificar o nosso aparelho produtivo.