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2 DE NOVEMBRO DE 1989 237

na altura era considerado o sectarismo das nacionalizações foi feito pelo meu camarada socialista Sottomayor Cardia na altura em que a moda eram as nacionalizações e em que era moda toda a gente ser de esquerda, estava no programa de todos os partidos... E os senhores ainda não tiraram o marxismo do vosso programa...!

Aplausos do PS, do CDS e da deputada independente Helena Roseta.

Srs. Deputados, estamos, pois, perfeitamente à vontade, e penso que o Sr. Deputado Narana Coissoró disse o essencial, que é a separação das águas ...

O Sr. Silva Marques (PSD): - O poeta abdicou!

O Orador: -Não, o poeta nunca abdicou, e o Sr. Deputado, que conheço há muitos anos, não venha deformar o sentido profundo das coisas. Simplesmente, o poeta não quer que o Partido Socialista cumpra o papel que os senhores lhe tinham predestinado, o Partido Socialista não se deixou colonizar ...

O Sr. Silva Marques (PSD): - Não, está num casulo!

O Orador: -... em 1975 pela esquerda, não se deixa colonizar por estrangeiros nem intimidar pelo Partido Social-Democrata, porque sabemos que é preciso a transparência democrática, uma clara separação das águas, uma solução clara à direita e à esquerda. E essa é de facto protagonizada hoje pelo Partido Socialista.
E também não temos nenhuns complexos em relação ao problema da coligação "Por Lisboa". Estive na primeira linha desse combate em 1975, e fui um dos primeiros no meu partido, se não o primeiro, a advogar uma coligação com o Partido Comunista em Lisboa para tentar substituir a catastrófica gestão da direita. Trata-se de uma solução que tem a ver já com as dinâmicas de mudança que se operam no Mundo - em 1975 isso não teria sido possível-, e pensamos que pode contribuir também para uma clarificação e para mudanças mais profundas na sociedade portuguesa. Não se trata de nenhum pacto secreto ...

Vozes do PSD: -Ah...!

O Orador: -... com o Partido Comunista. O Partido Socialista, sozinho, saberá ser, nas umas, alternativa ao Partido Social-Democrata, e fazemo-lo sem complexos, porque a situação hoje é outra.
Devo dizer, aliás, que não caracterizei o Partido Social-Democrata como um partido totalitário, mas os tiques estalinistas podem existir nos partidos tanto da esquerda como da direita e manifestam-se quando há poder pessoal, autocracia, centralismo, distorções à prática democrática. Isso são tiques estalinistas, e até o disse com uma certa simpatia, para não dizer que são tiques salazaristas. São tiques que resultam da tentação hegemónica e da tentação autoritária. Nós hoje, como sempre, defendemos a transparência democrática, defendemos uma clara separação das águas, mas defendemos sobretudo um regular e claro funcionamento da democracia. E não queremos distorções à democracia, o seu esvaziamento, ou seja, qualquer forma de poder pessoal, tenha ele a cor que tiver, queremos que a democracia avance e se enraíze na sociedade portuguesa e não queremos novas tentações hegemónicas, venham elas de onde vierem.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Luís Filipe Meneses.

O Sr. Luís Filipe Meneses (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Os partidos da oposição parlamentar iniciaram a sessão legislativa votando em conjunto uma moção de censura ao Governo apresentada pelo Partido Socialista.
Foi para a oposição o culminar de um conjunto de acções desconexas, incoerentes, sem qualquer objectivo estratégico compreensível.
Foi o zénite da política do "bota abaixo", da crítica pela crítica, da insinuação mal-intencionada, sem suporte argumentativo.
No final, todos ficámos sem saber mais uma vez não só quais as propostas alternativas às políticas do Governo como também quem poderia aspirar a ser poder para as implementar.

O Sr. Narana Coissoró (CDS): - Nocturnos doutorais!

O Orador: - O PS, maior partido da oposição parlamentar, teórico polarizador de um projecto de poder alternativo, foi, no debate da moção de censura, coerente com a imagem que tem dado de si próprio desde que Jorge Sampaio assumiu a sua liderança - generalista, vazio de propostas concretas e objectiváveis, literário e cinzentão, comportou-se durante o debate com o ar triste e comprometido de quem desempenha um ritual em que não acredita, pela simples razão de que já não acredita em si próprio. Este calvário socialista -discretamente alegrado pela intervenção final, "estilo bombeiro", do seu líder parlamentar- que, segundo dizem as más línguas e alguma comunicação social bem informada, até pouco tinha a ver com aquela guerra (leia-se extemporânea e despropositada iniciativa política).
Ò engenheiro António Guterres, com o brilho, talento e capacidade imaginativa que todos lhe reconhecemos, conseguiu trazer alguns sorrisos de nostálgica esperança à sofredora bancada socialista, mas não conseguiu o impossível: demonstrar que o governo do PSD tem dirigido o País de forma deficiente ou que o PS é o núcleo duro aglutinador de um projecto alternativo viável no curto ou médio prazo.
A intervenção do líder parlamentar socialista teve, contudo, um certo mérito: obedeceu a uma sistematização lógica que nos facilita contraditar, de forma clara e circunstanciada, todas as críticas que pretensamente dariam corpo à moção de censura socialista.
Comecemos pela acusação de que os governos de Cavaco Silva beneficiaram de uma conjuntura económica e financeira internacional favorável, ...

O Sr. José Magalhães (PCP): - Milagre!

O Orador: -... única responsável pelos excelentes resultados da governação e pela boa saúde da economia portuguesa - é de salientar que esta acusação já tem pelo menos subjacente o reconhecimento da boa prestação do governo do PSD.
É uma acusação habitual e repetida pelos dirigentes socialistas, que ainda a exacerbam com comparações fantasistas e romanceadas referentes ao passado imediatamente anterior - o PSD teria conduzido o País ao descalabro económico e financeiro com os governos da AD, o PS teria liderado com o bloco central a patriótica