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312 I SÉRIE - NÚMERO 11

ficiando de uma linguagem e de um sistema curricular relativamente unificados.
Assim, foi também pela sua Universidade que Portugal começou a ser Europa. Oferecendo para a construção deste projecto nomes como o de Santo António de Lisboa ou D. Jerónimo Osório, abrindo por sua vez as portas a vultos da grandeza de um Suarcz, o doctor eximius, que teve cátedra na Alma Mater Conimbrigcnsis.
São, em segundo lugar, muito elevadas as nossas expectativas em relação à Universidade. Pela negativa, deve ser recusada a pretensão de instrumentalização da Universidade, da ciência e do ensino em abono de qualquer projecto de poder. À semelhança do que a seu tempo proclamava Kant, também hoje a Universidade terá de ser espaço de perguntabilidade, com o potencial de crítica que inarredavelmente comporta. Mas também não pediremos à Universidade um qualquer programa de gestão do poder e arranjo da sociedade, capaz de se louvar do seu estigma de científico, para se sobrepor e impor. Hoje, soa já a evidência a denúncia da perversidade intrínseca e dos incontáveis custos humanos que invariavelmente trazem no bojo os projectos de poder que se reivindicam da verdade. E tanto mais quanto mais verdadeira se pretender a verdade. Como o confirma a falência da última utopia, precisamente científica, que ruiu sem glória - nem sequer a glória e a grandeza das coisas trágicas - e deixa atrás de si um saldo de sofrimento impossível de ressarcir e que dificilmente poderá ser esquecido...

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Mas que, de qualquer forma, nos reconforta na nossa convicção: a pretensão de verdade científica - afinal, sempre penúltima - não justificará nunca os sacrifícios impostos ao homem, sempre único e, por isso, último.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Pela positiva, esperamos uma Universidade empenhada, com todas as forças da alma, na procura do verdadeiro e do belo. Com liberdade, tolerância e abertura aos problemas reais do homem, a começar pelo próprio homem universitário, aquele que, no tempo concreto, vai emprestando o seu rosto à Universidade.
Mesmo neste período de massificação da relação universitária, de dissolução da identidade pessoal por detrás das máscaras dos papéis sociais, a Universidade terá de reencontrar espaços de diálogo, participação e convivência dignos de verdadeiras pessoas. O docente universitário é muito mais do que um funcionário e o estudante muito mais do que um consumidor anónimo de conhecimentos.
Quanto às orientações e caminhos básicos da investigação e ensino, hoje não teria sentido, como deixámos assinalado, qualquer antinomia radical do género: Natureza versus homem, ciências exactas versus ciências humanas, racionalidade matemálico-abstractivizante versus compreensão histórico-concrctizadora. Isto quando a Natureza se adensa de directa e insuspeitada significatividade humana. Quando uma das ameaças que mais nos ensombra o horizonte é precisamente o holocausto ecológico, devido à exploração irracional da Natureza.
De todo o modo, não será exagerado enfatizar o peso acrescido da apoteose da racionalidade técnico-cientifca na experiência actual do mundo e da vida. Isto à vista, sobretudo, dos novos «oitavos dias da Criação» que aí vêm, como o que a aventura biogenética deixa adivinhar e face aos quais o homem se confronta com um défice de sabedoria, na perspectiva da sua orientação e inserção ética no mundo.
É seguramente esta «cientiae thesaurus mirabilis - expressão com que se inicia o «documento precioso» dado por D. Dinis em l de Março de 1290 - que hoje mais caberá pedir à Universidade. Noutros termos, e na esteira de Habermas, o que mais esperamos dela é que antecipe os fundamentos teóricos daquela comunicação ideal própria de uma «pragmática transcendental» de libertação e isenta de coerção.
Por último, Sr. Presidente e Srs. Deputados, é este espectro de expectativas que dá a medida da nossa responsabilização perante a Universidade. Instituição multissecular que queremos transmitir, mais enriquecida e prestigiada, às gerações futuras. E a que devemos propiciar a necessária liberdade de investigação e ensino: tanto pela negativa - não transigindo com qualquer atentado à sua autonomia - como pela positiva - disponibilizando com generosidade os meios adequados. Para o que bastará, de resto, uma correcta e esclarecida representação do interesse nacional e dos caminhos do Portugal de amanhã, para cujo serviço todos nesta Casa nos declinamos mobilizados.
É este, pelo menos, Sr. Presidente e Srs. Deputados, o propósito dos deputados sociais-democratas.

Aplausos do PSD, do PS, do PRD, do CDS e de Os Verdes.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Ministro da Educação.

O Sr. Ministro da Educação (Roberto Carneiro): - Sr. Presidente da Assembleia da República, Srs. Deputados, Magnífico Reitor da Universidade de Coimbra, Srs. Reitores, Srs. Professores, Caros Estudantes, Ex.ªs Autoridades, Minhas Senhoras e Meus Senhores: Felicito em nome do Governo a Assembleia da República - centro da vida política do País e fórum privilegiado do debate democrático - pelo acto solene que hoje, aqui, tem lugar por sua expressa vontade.
O Governo assumiu já, por sua parte, a importância nacional e indiscutível projecção externa desta efeméride, como resulta da resolução do Conselho de Ministros, aprovada em 23 de Março passado, tendo em vista a comemoração do VII Centenário da Universidade de Coimbra.
Cumpre-me, nesta circunstância, dirigir uma saudação muito calorosa a toda a comunidade universitária - professores, investigadores, alunos e funcionários -, designadamente à Academia de Coimbra, que vive com particular emoção e intensidade estas celebrações.
Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Reitores: O acto em que participamos assume particular importância em termos culturais, pois reflecte a vontade de um órgão de soberania se associar às comemorações da fundação ex privilegio da nossa primeira Universidade - uma das mais antigas da Europa.
O valor simbólico deste acto assenta na certeza de um país que se assume plenamente; encontradas a maturidade política, a consolidação democrática, a confiança