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314 I SÉRIE - NÚMERO 11

relação de abertura e cumplicidade que comprometa o Estado e as universidades na consolidação de novos caminhos de cooperação.
Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Reitores: Comemoramos os 700 anos da Universidade. Façamos do tempo da comemoração um tempo de reflexão!
A Universidade enfrenta hoje as exigências impostas pela necessária democraticidade do acesso ao saber, pelo imparável avanço científico e tecnológico, pela visão transnacional imposta pela nova arquitectura europeia e mundial. E ela vive, em Portugal, um momento indiscutivelmente alto da sua existência.
Com efeito, a aceleração do tempo histórico português, evidente nos últimos anos, tem tido marcada tradução na evolução e transformações do sistema universitário. Por outro lado, a reforma das estruturas universitárias foi sempre momento de renovação do País.
O ensino superior cresce hoje, entre nós, à taxa mais elevada no contexto europeu. Por isso, a Universidade encontra-se, hoje, em Portugal, no centro das tensões transformadoras da comunidade nacional.
Nenhuma questão social, económica ou cultural pode ser-lhe indiferente, nenhuma outra instituição pode ignorá-la. Há que assumi-la, pois, como centro de permanente diagnóstico e agente motor imprescindível de avanço social.
Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Reitores: A comemoração de 700 anos de vida de uma instituição assume não apenas a expressão de uma celebração efémera e circunstancial; tem igualmente o significado de um apelo à mobilização de um imenso capital de experiência e de saber, acumulado ao longo de séculos.
700 anos-reserva inesgotável de energia, tempo de balanço para novos caminhos, alavanca prodigiosa de novos cometimentos e ambições.
Hoje como ontem se apela aos seus conhecimentos, ao capital intelectual mais genuíno que ela comporta, à força inesgotável da sua juventude, à sua capacidade de investigar e transmitir o saber.
Bastião da verdade, fortaleza do espírito, a Universidade deve ser, como a sonhava o grande pensador Leonardo Coimbra, e como o disse, nesta Câmara, um verdadeiro «templo da liberdade».
Cada vez mais ela deverá ser o espaço de criar e de inovar, de inventar e de progredir. Mas mais do que nunca se espera o seu contributo para a salvaguarda dos valores perenes, dos velhos sonhos de sempre, que hão-de nortear a formação integral do homem de amanhã: os valores da liberdade, da justiça, da democracia!
Para nós, europeus, a Universidade, mais do que uma realidade corpórea, é, na verdade, um valor, sobretudo, um ideal a atingir.
Como escreve D'Irsay: sA história da Universidade é a história da alma procurando exprimir-se através da matéria e subjugando-a.»

Aplausos do PSD, do PS, do PRD e do CDS.

O Sr. Presidente: - Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados, Sr. Reitor da Universidade de Coimbra, Srs. Reitores Membros do Conselho de Reitores, Srs. Membros da comissão organizadora do VII Centenário da Universidade, Srs. Professores, Autoridades Académicas, Srs. Presidentes das Associações Académicas, Minhas Senhoras e Meus Senhores: «Para que a Republica possa ser bem governada no tempo da guerra, e paz: porque o mundo se alumea pela sciencia».
Assim, segundo o costume da época, em 12 de Novembro de 1288, os pais da Universidade» peticionavam ao Papa Nicolau IV que confirmasse «huma obra tão pia, & louvável, intentada para serviço de Deos, honra da pátria, e proveito geral, & particular de todos».
Passado pouco mais de um ano, em 1 de Março de 1290, D. Dinis reconhece aquele «admirável tesouro de ciência» (scientiae thesaurus mirabilis), sque quanto mais se derrama mais aumenta a sua uberdade, ilumina espiritual e temporalmente o mundo». Para logo acrescentar: «Nós (...) prometemos, com a presente carta, plena segurança a todos (...), curaremos de os defender.»
Sete séculos decorridos, a súplica e a Carta Régia mantêm plena actualidade.
Desparamentado dos trajos universitários e envergando as vestes parlamentares, quero, na cerimónia de hoje, enaltecer expressamente o VII Centenário da Universidade: os 700 anos da Universidade de Coimbra, a Universidade decana - e permitam-me a referência, aliás, já aqui hoje feita, a minha Universidade -, e a Universidade de Lisboa, cujo historial ocupa lugar privilegiado, que remonta ao início dos studia.
Quero, igualmente, saudar as demais universidades que, entretanto, foram sendo criadas. E ao fazê-lo na pessoa dos seus reitores, que nos distinguem com a sua presença, estamos a «honrar a Pátria», que tem a lonjura de séculos.
Na vida premente de hoje importa fazer uma pausa para nos determos e examinarmos o que somos como povo. Relembrar que possuímos uma cultura multissecular, arreigada na consciência da Nação, de que legitimamente nos devemos orgulhar!
Não se trata de solhar para o umbigo», por sermos o mais antigo País europeu. O que tem valia é retirar do passado o seu merecimento para encarar, de face erguida, o futuro e fazer um esforço para que o Mundo nos conheça melhor!
Por tudo isto, a Assembleia da República, como órgão da representação nacional, por onde passam, se discutem e se aprovam as reformas educativas, decidiu promover esta sessão solene para assumir, em relação à Universidade, o prometimento de D. Dinis: «Curaremos de a defender.»
Prometimento esse que, neste fim de século, releva do maior significado.
A grande riqueza de um país reside no grau de formação dos seus cidadãos. «Nas condições da vida moderna a regra é absoluta: a nação que não valoriza a inteligência pela educação está condenada (...) Amanhã a ciência dará ainda mais um passo em frente e não haverá apelo para o julgamento dos que não receberam instrução.» Assim dizia Whitehead.
A Universidade Medieval detém os primórdios de uma integração europeia: mestres e alunos deslocavam-se, com frequência e livremente, de uma para outra Escola. O corredor sul da Europa, que passava por Lisboa/Coimbra, Salamanca, Paris e Bolonha, ganhou fama, impondo-se como veículo singular da inteligência europeia.
À sombra das alma mater construiu-se a ideia da Europa, fermentou a cultura comum, nasceu a cidadania europeia.
E a partir do início do século XX, os alunos de vários países que frequentaram os cursos graduados nas universidades mais avançadas criaram entre si ligações de valor inestimável.
Assim se sedimentaram espaços e traços culturais, afinidades indeléveis nesse intercâmbio de estudo.