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1730 I SÉRIE - NÚMERO 49

que agia como quem ama, sendo por isso sempre coerente a partir da profundeza telúrica do seu sentir, apoiada no brotar vulcânico do seu verbo.
Por isso, fazia as mais belas sínteses do viver profundo, dionisíaco e erótico das mulheres e dos homens, das suas paixões mas também do seu pensamento crítico.
Natália dizia: «Democracia sem cultura é como um corpo sem alma.» Ou quanto muito, digo eu, em homenagem a Natália, com uma alma de Santana Lopes.
Se a poesia é a palavra exacta no tempo, como disse António Machado, então Natália Correia encarnou a poesia em Portugal.
A necessidade de defender a cultura como vida levou-a a empenhar-se activamente, com tantos outros, na acção. Isso valeu-lhe ser ofendida com acusações descabidas, ao ponto de alguns «melisautos» (é um termo de um anúncio qualquer, mas apetece-me chamar-lhes assim), mesmo no elogio fúnebre, porem em causa a vitalidade da sua alma. «Mesmo assim ficará na história», compuseram de seguida num insulto definitivo e escusado.
Mulher inteira, Natália fez com que os verdadeiros homens chegassem a sentir pena de não serem mulheres. Adeus Natália amiga, açoriana lagoa de fogo.
O meu abraço amigo ao Dórdio Guimarães, que, na sua dor desmedida, continua decerto a sentir a enorme felicidade de ter sido o seu companheiro.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado João Corregedor da Fonseca.

O Sr. João Corregedor da Fonseca (Indep.): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Vulto maior da nossa cultura, exemplo de independência, voz inconformista na defesa das liberdades cívicas e culturais, assim era Natália Correia. Mulher intelectual, que todos respeitavam, defensora da paz, ela soube corajosamente pugnar, em circunstâncias difíceis, pelos ideais democráticos, abandonando a sua tranquilidade pela intervenção permanente, intervenção que sempre teve até à sua inesperada morte.
Era crítica e generosa, mas nunca deixava passar em claro aqueles que, exercendo funções de responsabilidade, entendem a cultura como um bem menor. Foi sempre interveniente, quer nos meios intelectuais quer políticos, e aqui, nesta Casa, deu o exemplo flagrante desse seu comportamento, sem complexos e sem preconceitos, com elevação e com cultura.
Foi uma voz culta e clara, simultaneamente - e felizmente - incómoda. Era uma personalidade forte e, ao mesmo tempo, fascinante, insubstituível e merecedora de todo o respeito da Assembleia da República e do povo português.
Vamos, Sr. Presidente e Srs. Deputados, sentir, sem dúvida, a sua ausência.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados, vamos proceder à votação do voto n.º 68/VI, de pesar pela morte da escritora e ex-Deputada Natália Correia.
Submetido à votação, foi aprovado por unanimidade, registando-se a ausência do PSN e do Deputado independente Freitas do Amaral.
A Câmara guardou, de pé, um minuto de silêncio.
Srs. Deputados, como já referi, deu igualmente entrada na Mesa o voto n.º 69/VI, de pesar pela morte do embaixador Franco Nogueira, apresentado pelo PSD.
Para proceder à respectiva leitura, tem a palavra o Sr. Secretário.

O Sr. Secretário (João Salgado): - Sr. Presidente e Srs. Deputados, é do seguinte teor

Voto n.º 69/VI

De pesar pela morte do embaixador Franco Nogueira

Foi ontem a enterrar o embaixador Franco Nogueira, a quem coube a condução da política externa de Portugal em grande parte da década de 60. Político e diplomata, Franco Nogueira serviu em função do seu próprio entendimento da coisa pública os valores do Estado e exerceu com competência e dignidade a sua profissão.
De igual modo, pôs o seu talento ao serviço da cultura e da docência universitária, onde realizou uma obra notável.
A Assembleia da República, reunida a 17 de Março de 1993, exprime publicamente o seu respeito pela personalidade do embaixador Franco Nogueira e aprova um voto de pesar pela sua morte.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Sousa Lara.

O Sr. Sousa Lara (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Tive a honra de ter privado, como colega de docência e como confrade, com o Sr. Embaixador Franco Nogueira.
Republicano convicto, invariável e constante, fiel aos seus princípios, ainda que em boa parte distantes dos do PSD, sempre soube pôr os interesses da nossa pátria acima dos demais. Ao invés da já saudosa Natália Correia, teve a felicidade de ver publicado o seu último livro a que premonitoriamente, pelo menos num sentido, chamou de Juízo Final.
Exemplo de dignidade como diplomata, fica como referência de competência na sua casa, que sempre e bem considerou como instituição fundamental para o passado, para o presente e para o futuro de Portugal.
Nesta semana trágica para a cultura portuguesa, quer o PSD exprimir publicamente o seu respeito pela personalidade do embaixador Franco Nogueira e significar o seu pesar pela sua morte.
Que Deus o tenha em descanso.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Almeida Santos.

O Sr. Almeida Santos (PS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Se eu quisesse encontrar o verdadeiro antípoda das minhas convicções de sempre, iria respeitosamente encontrá-lo no espírito brilhante do Dr. Franco Nogueira. Por isso, não poderia, sem alguma hipocrisia, votar favoravelmente este voto nos seus exactos termos.
Não quereria dizer muito. Mas queria dizer que tudo o que não seja um voto de sincero pesar pela morte de um português, que ficará na história, tudo o que não seja uma homenagem à sua inteligência e à firmeza das suas convicções, à coerência com que sempre as defendeu, para lá do tempo e da lógica e da racionalidade que há nas coisas, seria