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1814 I SÉRIE - NÚMERO 52

Como Pascoaes e Pessoa, entendia que a colectividade nacional é a expansão de uma alma, de um espirito, sendo, depois, um ente com vida e energia própria.
Pensava que nenhuma pátria pode subsistir e afamar-se na plenitude do seu ímpeto vital e da sua energia criadora sem radicar no que os gregos chamavam Paideia, ou seja, um código de valores, englobando, numa univocidade plural - a expressão é sua -, um pensamento, uma literatura, um teatro, uma arte, um sistema de educação. Proeurou construir a Paideia portuguesa e proeurou-a, sobretudo, nos poetas.
Teve a grandeza de espirito de quebrar um tabu: á de que o patriotismo é exclusivo de urra direita histórica pretensamente legitimista.
Apontou como actuais poetas lusíadas alguns que se situam na margem esquerda da cultura portuguesa.
Sinto-me muito honrado com as páginas generosas que sobre mim escreveu. Era um homem de ideias, com um espírito aberto, tolerante, dialogante, que compreendia que a grandeza de Portugal tinha de ser encontrada na pluralidade das manifestações do pensamento e da arte.
Estabelecemos relações que começaram por ser de respeito intelectual e que depois foram de estima e amizade. Penso que são exemplo de como homens de formação diferente podem encontrar-se em volta de uma mesma paixão: a poesia e Portugal!
Com a morte de António Quadros, Portugal perdeu, com certeza, um dos seus mais significativos pensadores e servidores.
Da margem esquerda em que sempre me situei, curvo-me respeitosamente, em nome pessoal e em nome do Partido Socialista, perante a memória de um grande português.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Rui Carp.

O Sr. Rui Carp (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Tive o privilégio de conhecer pessoalmente António Quadros, descendente de uma família ilustre de pensadores e intelectuais portugueses.
Concorde-se ou não com eles, António Quadros proeurou honrar e até transcender os pensamentos de António Ferro e de Fernanda de Castro. Por sua vez, ele deixa também para a cultura portuguesa promissores vultos da literatura e da arte em Portugal.
Para além do que já foi aqui dito pelo Sr. Deputado Manuel Alegre, há que realçar que António Quadros proeurou incutir na cultura portuguesa as artes ou técnicas que, aparentemente, pouco têm a ver com ela. Refino-me concretamente às artes decorativas e ao design, onde ele proeurou, através de cursos que, na época, foram inovadores em Portugal, lançar uma ideia de portugalidade àqueles que trabalhavam ou procuravam concluir cursos que, à partida, não tinham muito a ver com essa identidade nacional.
Vulto português ligado à filosofia, à poesia e à história, integrou, em todos estes ramos da cultura portuguesa, um certo sentido de portugalidade, não procurando criar ghettos na forma de tratar a filosofia portuguesa mas respeitando e procurando divulgar a memória e o pensamento de filósofos como Joaquim de Carvalho e Leonardo Coimbra, e Incutindo o gosto peio pensar às camadas mais jovens.
Até falecer e ao longo de uma doença que se previa que iria ter um breve desenlace, proeurou sempre ter uma intervenção na sociedade portuguesa, quer escrevendo na imprensa quotidiana, quer dando, poucos dias antes de falecer, uma entrevista de esperança sobre o futuro de Portugal.
É exactamente nessa filosofia, nesse pensamento de ter homens que podem dar a linha de rumo, a esperança no porvir português, que nos associamos a esta homenagem a alguém que marca, certamente, a história do pensamento português do século XX.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Adriano Moreira.

O Sr. Adriano Moreira (CDS): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: A morte de António Quadros alarga - e seriamente! - as perdas que temos sofrido nos últimos tempos.
Como disse Luís Trigueiros, seu amigo e grande companheiro, embora tenha sido ficcionista e poeta, é, sobretudo, como pensador, ensaísta e critico que António Quadros fica ligado à segunda metade deste século. Pensador que um preocupação de definição da identidade portuguesa, suas matrizes e indagações muito ponderadas quanto aos destinos da Pátria, sempre motivou.
Obras suas como A Ideia de Portugal na literatura Portuguesa dos Últimos 100 Anos ou Memórias das Origens, Saudades do Futuro e a triologia, da qual apenas saíram dois volumes, Portugal, Razão e Mistério, credenciam simultaneamente um investigador aturado das nossas raízes mais profundas e que a partir dai proeurou na sua obra, senão responder, pelo menos fundamentar a legitimidade da interrogação que ele próprio resumiu: «Para onde vamos?»
Mestres como Leonardo Coimbra, Jaime Cortesão, Pascoaes, Álvaro Ribeiro e Agostinho da Silva tiveram grande influência na sua formação, tal como Ferrando Pessoa, poeta e pensador ao qual consagrou vários volumes de exaustiva exegese.
Homem de acção, cultura tão eficaz quanto discreta, deve-se-lhe a fundação do IADE - Instituto de Arte e Decoração, que orientou e dirigiu até foral; professor de Comunicação Social na Universidade Católica, frequentemente deu lições em universidades brasileiras e foi, ainda há pouco, um dos fundadores do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira.
A sua vida e a sua obra foram sempre um exercício pedagógico, o que cabe no trecho de um livro seu de 1992:

Imperativo hoje é libertar a essência portuguesa, submersa sob o peso esmagador de tema espécie de aparelho rasurante e sem rosto, caminhando desnorteadamente segundo os tropismos de sucessivas cintilâncias exteriores [...].

E, logo adiante, continua:

São indispensáveis o diálogo, a aculturação e a actualização, com vista a um desenvolvimento económico que nunca poderá ser possível no isolamento, um que serão sempre insuficientes para a exigência dos Portugueses quando desacompanhados de um outro nível de desenvolvimento, no sentido do criacionismo ou da criatividade na filosofia, na educação, na arte, em todos os ramos da cultura.

São as suas últimas palavras que cito.
Julgo que bem merece a homenagem desta Câmara.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Manuel Sérgio.