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30 DE JUNHO DE 1993 2863

maioria se atreve - parece que me atrevi, Srs. Deputados - a falar do vosso partido é uma coisa que me faz alguma preocupação!

O Sr. Duarte Lima (PSD): - Doeu!

A Oradora: - Devo confessar que me faz alguma preocupação a forma com os Srs. Deputados falam da crise. Sei que acham que a crise é o vosso fone; sei que pensam que quanto mais crise, quanto mais dificuldades, quanto mais desemprego, mais hipótese têm de chegar onde desejam. Mas, passando por cima da atitude, porventura, não muito patriótica que essas posições possam revelar, o que vos digo, Srs. Deputados, é que a crise não chega. E não sou eu que o digo, mas o líder do vosso partido, a menos que seja mentira que ele fez esta referência na reunião de quinta-feira. Na verdade, foi o líder do vosso partido que disse que assim não dava, que os Srs. Deputados a continuar assim, daqui a dois anos, não conseguiam ser alternativa! Não fui eu, Srs. Deputados!
Repito, a menos que os Srs. Deputados digam que o secretário-geral do Partido Socialista não disse que não estavam em condições de ser governo, as dificuldades, aparentemente, são reconhecidas de dentro.
Srs. Deputados, aquilo que me parece muito preocupante, é que o principal partido da oposição, aquele que verosimlmente alguma vez pode ser alternativa ao actual Governo, ao fim de oito anos de oposição, não consiga sequer ter ordem interna suficiente, nem um líder com suficiente força, nem consiga que aqueles que pensam de uma maneira diferente não minem considerável mente a liderança e a força do líder!
Isso é extremamente preocupante, porque os Srs. Deputados estão há oito anos na oposição, sem terem as responsabilidades do Governo, sem terem de fazer escolhas, sem terem de nomear pessoas, sem terem de enfrentar dificuldades, sem terem de enfrentar impopularidade e, mesmo assim, apesar disso, pela voz do vosso líder, não estão em condições de ser governo!
Considero isto sério, não apenas para os Srs. Deputados mas para todos nós e para o regime democrático. É sério também para a maioria, que gostaria de ver na oposição a força e a credibilidade suficientes, como um estímulo, para que o trabalho que é feito seja cada vez melhor e seja, também, a consciência que os portugueses devem ter. Isto é, aconteça o que acontecer, terão sempre um partido em condições de liderar um governo, mesmo um partido que não seja aquele que está no momento no Governo.

Aplausos do PSD.

Entretanto, assumiu a presidência o Sr. Vice-Presidente Adriano Moreira.

O Sr. Presidente: - Para defesa da honra da sua bancada, tem a palavra o Sr. Deputado Almeida Santos.

O Sr. Almeida Santos (PS): - Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Leonor Beleza, não posso deixar sem um reparo o facto de ter afirmado que, na última quinta-feira, na reunião da Comissão Política do meu partido, houve a preocupação de cortar a Uberdade interna, bem como que se fizeram ameaças para dentro, ou que alguém as fez..., e que, até que lhe provem o contrário, parece que o que lê nos jornais seria aceite como verdadeiro pela Sr.ª Deputada.
Queria dizer-lhe, muito simplesmente, que não precisamos do 25 de Abril para defender a liberdade de opinião. Defendemo-la desde muito cedo!

O Sr. Duarte Lima (PSD): - É verdade!

O Orador: - Entre nós, o apego à liberdade é uma ideia muito velha - noutros não poderá ser tão velha porque são jovens! Mas, esta é uma acusação que não pega num partido como o nosso.
Por outro lado, não se pode dizer que temos desordem interna. Uberdade interna, divergências de grupos e, simultaneamente, que somos um partido espartilhante. Penso que, a esse respeito, a Sr.ª Deputada podia, talvez, encontrar melhor exemplo dentro do seu próprio partido e, até, dentro do seu próprio grupo parlamentar.
Não temos o mérito da grande disciplina que, neste momento, reina no seu grupo parlamentar. Contudo, esse mento tem de ser assumido pelo preço de algum autoritarismo!
Voltou a dizer que não estamos em condições de ser governo. E se a Sr.ª Deputada deixasse esse juízo aos eleitores,...

O Sr. José Magalhães (PS): - Muito bem!

O Orador: - ... que é a quem compete fazê-lo! Aliás, neste momento, as sondagens até dizem que estamos em melhores condições para ser governo do que o próprio Governo do seu partido: nas intenções de voto - que valem o que valem - estamos acima do vosso partido. Mas parece que as intenções de voto só são boas quando vos são favoráveis e não prestam quando são favoráveis às oposições!
Não temos ordem interna, temos apoio externo, Sr.ª Deputada! E se não temos ordem interna é porque o povo português não valoriza tanto a ordem imposta como, talvez, a Sr.ª Deputada valorize.
Sr. Deputada, vamos, pois, acabar, de uma vez por todas, com essa história de não sermos alternativa. Desde logo, o que é não ser alternativa? Assim vejamos: o Sr. Prof. Cavaco Silva era alternativa a alguém ou a alguma coisa quando ganhou o poder na Figueira da Foz?

Vozes do PSD: - Era!

O Orador: - Tinha sequer a rodagem política que tem, neste momento, o Sr. Engenheiro Guterres? Tinha sequer demonstrado capacidade de decisão como a que tem, hoje, o Sr. Engenheiro Guterres? Aliás, foi ele quem ajudou a afirmar todos os secretários-gerais que ganharam eleições dentro do partido! Foi ele que teve a coragem de se opor ao líder...

O Sr. Pacheco Pereira (PSD): - Que ganharam e que perderam!...

O Orador: - Sim, é verdade! Aliás, o Sr. Dr. Jorge Sampaio, nas últimas eleições, atingiu uma cifra de 30 %, ou seja. uma percentagem superior à do Sr. Prof. Cavaco Silva, na sua primeira vitória eleitoral!

O Sr. Duarte Lima (PSD): - Com a ajuda do PCP!

O Orador: - E, em termos europeus, 30 % corresponde à votação de um grande partido socialista.
Não há alternativa?! Acabemos, pois, com essa história da alternativa e deixemos que seja o povo português a ajuizar se há ou não! De facto, há sempre alternativas: o povo português não é mentecapto e produz, com certeza, um sucedâneo mais feliz para o actual Primeiro-Ministro, que tem o País no estado lamentável que se vê!