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30 DE JUNHO DE 1993 2861

o que diz o semanário Independente. E a Sr.ª Deputada devia ser a pessoa, neste Parlamento, que mais cuidado devia ter em utilizar o que os jornais dizem.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: - Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Lacão.

O Sr. Jorge Lacão (PS): - Sr. Presidente, Sr.ª Deputada Leonor Beleza: Já tive ocasião de, como todos nós neste país, ler acerca da Sr.ª Deputada, da sua personalidade e da sua actuação pública, tantas e tantas coisas que, se porventura não a conhecesse pessoalmente, por reflexo do tanto que já se disse sobre si, não deixaria de ter a seu respeito uma péssima impressão.
Quero dizer-lhe que a não tenho nem a tinha, porque quem a conheceu até hoje e se habituou à força de convicção que põe nas causas em que se empenha, sempre guardou por si a consideração de quem luta politicamente pelas crenças que partilha. Mas, hoje, o que ouvimos da Sr.ª Deputada Leonor Beleza foi um discurso contra a personalidade reconhecida da Dr.ª Leonor Beleza.
Quero dizer-lhe que fiquei profundamente desapontado, não com as coisas que disse sobre o PS ou sobre o seu líder, mas desapontado por si própria. Quero mesmo convencer-me que, daqui a pouco tempo, a Sr.ª Deputada se arrependerá da intervenção que hoje fez neste hemiciclo. Aliás, se esta intervenção tem algum significado, ele é, justamente, o de que a força de convicção por causas nobres da Deputada Leonor Beleza hoje foi inteiramente aqui posta em dúvida, porque aquilo que aqui trouxe não é uma causa nobre. É, pura e simplesmente, a lógica da pior conspiração partidária e da pior intriga política.
Há certos políticos e determinados analistas que nos habituaram a esse tipo de conduta Não o esperávamos- sinceramente, não o esperávamos- da Sr.ª Deputada Leonor Beleza. Mas porque essa foi a sua escolha, apenas lhe digo que, em política, mais do que certos eventos de conjuntura, vale o percurso dos homens, a sua força de convicção e a sua capacidade de assumirem os projectos e as causas pelas quais combatem.
Ora, o Partido Socialista está envolvido em grandes causas, como já disse aqui o Sr. Deputado Almeida Santos. Temos um projecto para o País, que vamos, certamente, poder concretizar, no plano autárquico, nas próximas eleições de Dezembro; temos uma compreensão da Europa e do papel de Portugal que vamos, certamente, concretizar, com apoio dos portugueses, nas próximas eleições europeias e salta cada vez mais à vista que um número crescente de portugueses assume o PS como a alternativa cada vez mais urgente ao vosso Governo e à vossa maioria.
Sr.ª Deputada Leonor Beleza, era acerca deste sentimento profundo dos portugueses- que preferem acreditar na liderança partidária de um partido de oposição que hoje está, nos estudos de opinião, à frente do PSD- que as suas palavras neste Hemiciclo teriam sentido. Mas, acerca disso, do desapontamento dos portugueses, nada disse, tendo-se limitado, isso sim, a tentar coleccionar os desapontamentos das várias intrigas.
Sr.ª Deputada Leonor Beleza, a sua intervenção não ficará para a história, mas esperamos que outras se lhe sucedam e possam lavar a nódoa negra que hoje deixou na Assembleia da República.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente: - Para responder, se assim o desejar, tem a palavra a Sr.ª Deputada Leonor Beleza.

A Sr.ª Leonor Beleza (PSD):- Sr. Presidente, agradeço a todos os Srs. Deputados que me colocaram pedidos de esclarecimento. Perante eles, queria afirmar com toda a força de que sou capaz que, enquanto Deputada desta Casa, tenho a liberdade de referir-me tanto ao Governo do meu partido como às oposições quando e nos termos que o entender.

Aplausos do PSD.

Os Srs. Deputados não se referiram àquilo que eu disse. Evidentemente, também são livres de o fazer, mas aquilo que não podem retirar-me é a liberdade de pensar que a democracia se faz de maiorias e de oposições e que o julgamento que os cidadãos que nos elegeram fazem, no momento em que colocam o voto nas umas, é tanto sobre as maiorias que estiveram no poder como sobre as oposições que a elas opuseram as suas razões.

Vozes do PSD: - Muito bem!

A Oradora: - Na democracia, nada impede quem quer que seja de falar sobre o estado dos partidos das oposições, e nada impede qualquer Deputado de chamar a atenção, nesta Casa, para as condições em que as oposições estão ou não de poder vir a ser alternativa.
Srs. Deputados, falei das condições em que entendo que o PS está hoje em relação à possibilidade de ser alternativa, mas VV. Ex.ªs só me reconhecem a liberdade de falar do meu Governo. Mas - valha-nos Deus! - aquilo que se passou na. semana passada e, em particular, na ultima quinta-feira, talvez faça o PS compreender melhor o vigor, a força e o entusiasmo com que a minha bancada apoia o Governo. No. momento em que tentaram retirar a liberdade interna de criticar, no momento em que tentaram retirar aos militantes do vosso partido a possibilidade de, publicamente, se manifestar contra a liderança, perderam toda a autoridade moral com que passam a vida a tentar criticar os meus companheiros e eu própria pela posição que aqui assumimos no que respeita ao apoio ao Governo.

Protestos do PS. Aplausos do PSD.

A Oradora: - Sr. Deputado Almeida Santos, compreendo que não tenha respondido àquilo que eu disse e que tenha preferido situar as coisas no domínio do que faz ou não o Governo. Mas, Sr. Deputado, quando fala das sondagens ou em tudo aquilo que, eventualmente, demonstre, no seu entender, um posicionamento diferente do PS e do PSD, lembro-lhe que foi o actual líder do PS que, ao contrário daquilo que sempre previu, conduziu o seu partido a derrotas estrondosas nas únicas eleições que foram disputadas desde que ele é líder, as eleições nas regiões autónomas.

Aplausos do PSD.

Os Srs. Deputados fizeram-me várias observações sobre os jornais, aquilo que dizem- e o acreditarmos ou não naquilo que eles noticiam. Quem observa a cena política portuguesa, o comportamento dos partidos e, em particular, o comportamento do seu partido, tem algumas dificuldades em encontrar coerência naquilo, que VV. Ex.ªs referiram.
A enorme maioria das vezes em que o seu partido toma supostas iniciativas políticas, fá-lo a reboque daquilo que os jornais denunciam ou daquilo que contam e, muitas vezes, seguramente, daquilo que inventam.