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2858 I SÉRIE - NÚMERO 89

Também é recentemente analisado o processo de governamentalização em curso nas Comunidades Europeias; que para muitos reforçaria estabilidade política interna e explicaria os consecutivos (sucessos eleitorais, de executivos das mais variadas inspirações ideológicas.
Mas talvez por tudo isto se preocupem os estudiosos da democracia - para além dos seus defensores - com a necessidade de oposições fortes e coerentes que, não só minimizem a fraqueza do seu posicionamento perante o poder como, maximizem o trunfo essencial na hora da verdade: a credibilidade do seu líder para constituir alternativa real ao chefe do Governo em funções.
Ora, o panorama que vivemos em Portugal nos últimos anos merece, a este propósito, uma breve reflexão: a reflexão sobre o défice democrático da oposição partidária na vida política portuguesa.
Concentremo-nos, por exemplo, no primeiro semestre. de 1993, agora, prestes a terminar. Ele deixa nos espíritos mais insuspeitos a enorme perplexidade de um Partido Socialista errático, carecido de liderança, de sentido estratégica e de coerência táctica, virado para dentro e para as suas contradições.
É compulsar os órgãos de comunicação, social das últimas semanas. Estão cheios de ditos e desditos, de críticas e de ameaças, de entrevistas e de contra-entrevistas. São unânimes na denúncia daquela perplexidade.
Formalmente, o Partido Socialista tem um Secretário-Geral eleito e que não suscita objecções internas generalizadas.
Formalmente, esse Secretário-Geral, designa porta-vozes, que cobrem as diversas áreas da governação.
Formalmente, o Grupo Parlamentar, segue o líder, sendo penhor dessa fidelidade o Presidente do partido, paciente, garante da ortodoxia e, em particular, da aceitabilidade histórica do Secretário-Geral.
Formalmente, o líder socialista, tenta interpelar o Governo sobre, questões de âmbito nacional, debate nos grandes meios de comunicação social com o líder do CDS-PP, promove as candidaturas autárquicas do seu partido, aparece onde pode e mostra deseja de cumprir.
Formalmente o seu discurso fácil escorreito, mesmo torrencial; o seu estilo é simpático, juvenilmente insinuante, cheio, de sinceridade, de espírito de servir, de optimismo teórico. Isso mesmo, nele encontramos sempre a boa vontade, do teórico, a abstracção do generalista, a pureza de que quem nunca teve de confrontar-se como incómodo da gestão real, em particular da coisa pública.
Formalmente, o Partido Socialista tem um líder que não é menos simpático do que José Maria Aznar, nem menos insinuante de que Englhom, nem menos bem intencionado do que Fabius. Poderá ser muito menos expediente do que Michel Rocard, mas também a diferença de idades e de percursos é bastante para tanto justificar.
O Drama reside no salto do formal para o substancial.
Substancialmente, o Partido Socialista tem um líder eleito, mas a minoria derrotada continua a reunir, continua a descrer das virtualidades daquela, continua a manifestar a sua autonomia de pensamento e de estratégia, continua a Ter um símbolo, e esse símbolo, possui poder real, contrastando com o poder formal do líder partidário.
Substancialmente, o Partido Socialista tem um líder que se pretende alternativa ao Primeiro-Ministro, mas alguém que já foi Governo e conhece o poder por dentro como o líder não o conhece - o Deputado Jaime Gama - encarregou-se recentemente de escrever o epitáfio antecipando daquele. Ao retratar o seu frenesim tacticista, ao desmontar a sua ânsia de activismo, ao desfazer esse Governo-sombra que o não é, feito de porta-vozes deles próprios e nunca ou quase nunca do partido ou do líder.
Como acrescentou o Deputado Jaime Gama, verdadeiramente «degradante» foi «a situação em que se colocaram alguns dos respondentes, levando a série» essa simulação de Governo. Com a prudência que o caracterizava, Vítor Constância, mal leu o depoimento de Jaime Gama , apressou-se a apunhalar - também ele - o governo-sombra.
Substancialmente, o Secretário-Geral do Partido Socialista escolheu porta-vozes que todos os dias afirmam o contrário do que ele esperaria e, sobretudo, menos, desejaria. É a despenalização da droga, logo desmentida. É o elogio a facetas da gestão financeira do Governo, logo silenciado. É a apologia do aumento de impostos e de um maximalismo de convergência nominal engolido a seco.
Substancialmente, é um Secretário-Geral que almoça com um director de semanário, que aceita a cumplicidade de discutir ao café um governo-sombra, aliás tão desconchavado, que envergonharia os seus pares socialistas e causaria a irrisão nacional, e que, depois, desmente o sucedido em termos tais que é difícil encontrar exemplo recente de maior tunda jornalística do que aquela que recebeu em comentário a esse desmentido.
Brincadeiras destas aos governos-sombra normalmente fazem-se no decurso da adolescência política, precisamente para esconjurar o risco de manifestações recomendaria prudência e contenção.

Aplausos do PSD.

Substancialmente, nem o talento indesmentível do Presidente do Partido evita que a propensão bombeiro-pirómana da liderança socialista ateie fogos toadas as semanas, quase todos os dias.
Substancialmente, ainda há dias o grupo parlamentar socialista, desdenhou, em peso, da solene ameaça que o Secretário-Geral publicamente dirigira aos prevaricadores, quiçá devolvendo-lhe a ligeireza com que em público também, é para mais no estrangeiro, se referira, a iniciativa do Presidente da república. O Secretário-Geral respondeu com o seu enésimo murro na mesa, tão pouco crível que durará tanto quanto o último: um curto verão.
Num ponto a substância esmaga a forma - no frenesim tacticista.
Fazer política, para o líder socialista, é, por natureza, desmultiplicar-se em avanços pontuais, desdobrar-se em iniciativas avulsas, ir a todas as causas por insignificantes que seja, assumir todas as improvisões +elo imperativo de aparecer. Para ele, quem aparece é.
Um conselheiro sopra a sugestão de um dito sobre a Guiné , outro apresenta-lhe dossiers sobre a Somália, ele opina sobra a Somália, um terceiro interessa-o pela sorte dos esquimós, ele associa-se à sua luta.
Pouco interessa se existe coerência substancial ou consistência ideológica nas posições sustentadas. O que importa é a notoriedade associada a um frenesim resultante do cruzamento de uma activismo de cruzada fora de época com um novo-riquismo no protagonismo político. Tudo num labor infrutífero de Sísilo, de empurrar um rochedo, que não se sabe qual é, pela encosta de um poder no cimo do qual se não sabe o que se faria se, alguma vez, tivesse de ser exercidos.
Tudo numa mistura de liberalismo pontual com solidarismo escatológico e socialismo envergonhado. Não admira