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28 I SÉRIE - NÚMERO 2

Tudo em homenagem à política da terra queimada e à ideia de que uma crise económica não é negativa, porque desgasta o Governo e serve os desígnios da oposição.
Tudo em homenagem à máxima de que os fins justificam os meios.
Por tudo isto e relativamente a tudo isto também incidirá o julgamento da opinião pública, o julgamento dos portugueses.
É que o julgamento político, quer se queira quer não, não tem uma única vertente e uma só direcção. Ele é, e será sempre, o julgamento do Governo, do seu programa, das atitudes que toma e dos resultados que apresenta. Mas é também o julgamento político das oposições, do seu comportamento, da sua postura, da sua contribuição, ou ausência dela, para o clima nacional de recuperação e de desenvolvimento que o País, reclama e deseja.
Não o julgamento entre os que têm mais ou menos patriotismo; não o julgamento entre os que são mais ou menos portugueses, porque não temos essa visão maniqueísta das coisas, das pessoas e da vida em sociedade.
Mas antes, e sim, o julgamento que permitirá acentuar a diferença entre condutas é comportamentos políticos e estabelecer o contraste entre os que, compreendendo as dificuldades, apelam à confiança e à mobilização da sociedade e os que, marcados pela cegueira das suas ambições, parece que se comprazem com a crise, que ficam satisfeitos com ela e que mais não são capazes de fazer que não seja apelar continuadamente à frustração ou à resignação dos portugueses.

Aplausos do PSD.

Sr. Presidente, Srs. Deputados: Esta interpelação é mais um exemplo da conduta è da postura que ensaiaram alguns partidos da oposição.
A preocupação, como, de resto, já se viu, não é a de dizer ou acrescentar nada de novo. A preocupação é, sim, a de prosseguir na estratégia delineada e no objectivo traçado.
A própria ideia da interpelação e o momento do seu surgimento nem sequer introduzem no debate político qualquer inovação. Também no plano da forma e da oportunidade insiste-se em jogar jogo jogado, reincindindo na iniciativa e recorrendo a idêntico instrumento.
De facto, já há quatro anos, também, como agora, a cerca de dois meses de eleições autárquicas, a oposição desencadeou um idêntico debate político, então centrado na discussão de uma moção de censura ao Governo.
Então, como agora, á cerca de dois meses de um acto eleitoral, as intenções não divergem na substância, ainda que se revelem menos audaciosas na forma. Trata-se, uma vez mais, apenas e tão i só, de tentar desgastar o Governo e a maioria que o apoia. As eleições a tal obrigam.
Com uma singular diferença: então, foi o PS a desencadear a iniciativa; agora, é o PCP a fazê-lo.
Uma diferença que, parecendo despicienda e sem significado político, acaba, todavia, por ser sintomática e esclarecedora.
Trata-se de tentar mostrar e demonstrar quem, de entre a oposição, é mais oposição ou consegue fazer maior oposição e quem mais eloquentemente protagoniza o combate político ao Governo.
Como é bom de ver, trata-se de mais um episódio da disputa política que entre os dois partidos da oposição de esquerda se vem gerando e estabelecendo. Disputa que, como facilmente se intui, tem como alvo o Governo, como falso pretexto o interesse do País e como objectivo superior a luta entre os dois partidos pela liderança da oposição. E se é verdade que nesta disputa o PCP parece querer ganhar ao PS a primazia da liderança política da oposição e a capacidade de antecipação da respectiva agenda política, fazendo ir os socialistas a reboque dos seus temas ou iniciativas, também não é menos verdade que ao PCP lhe sobra em iniciativa o que lhe falta em autoridade moral e política para granjear credibilidade e sucesso.

O Sr. Lino de Carvalho (PCP): - Não venha com a cassette.

O Orador: - E o que realmente surpreende é que, não obstante continuar a defender um modelo económico e social já claramente desacreditado em Portugal, como em todo o mundo, e a ser contra a integração europeia ou a perfilhar as posições da mais pura ortodoxia, o PCP consegue, apesar de tudo, exibir e demonstrar alguma capacidade de antecipação política relativamente ao maior partido da oposição. Demérito dos socialistas, por certo, mais do que mérito do partido interpelante.
Não lhe fica o PS atrás, no entanto, em intenção de iludir, pela via da demagogia discursiva, a verdadeira natureza dos problemas com que nos defrontamos a par dos nossos parceiros europeus.
Primeiro, amplia e dramatiza as dificuldades do País.
Logo a seguir, surgem as promessas «a torto e a direito», as facilidades para tudo, as benesses para todos, as soluções milagrosas para todos os problemas e reivindicações.
Prometendo «mundos e fundos», logo fazendo tábua rasa da crise que antes empolaram, os socialistas só conhecem verdadeiramente duas cores - o preto do País e o cor-de-rosa das facilidades que propõem.
Actuam como se Portugal pudesse ser governado com o orçamento dos Estados Unidos da América, mas esquecem-se que também aqui o velho ditado popular dita a sua sentença: «quando a esmola é grande o pobre desconfia».

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - A receita para o pleno emprego, por exemplo, agora eleita como uma das bandeiras do líder do PS não é mais do que uma evidente mistificação.
Mistificação, porque não chega a atitude fácil de detectar dificuldades e contrapor-lhes a ideia de soluções miríficas que desprezam o realismo e ignoram o elementar princípio de que nenhuma solução teoricamente perfeita é possível sem que para ela existam meios disponíveis, eficazes e suficientes.
Tal discurso busca apenas aproveitar oportunisticamente a bondade de um sentimento que, naturalmente, todo o cidadão perfilha. Mas fica longe, muito longe, de convencer pela ausência de suporte objectivo que lhe nega todo o crédito.
Com efeito, o desafio com que toda a Europa e o mundo em geral hoje se confrontam é o de, em termos imediatos, estancar o crescimento do desemprego. O caminho para o aumento do emprego fica a seguir, e é importante, mas só pode ser conseguido quando as políticas estruturais de dinamização da economia fizerem valer os seus efeitos.
O PS e o seu líder sabem isto mesmo. E confirmaram-no no espaço de debate e análise que a Internacional Socialista desenvolveu recentemente em Lisboa numa reunião, cujas conclusões se limitaram a acentuar, na perspectiva mundial, as questões relativas «ao aumento do de-