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694 I SÉRIE - NÚMERO 19

uma forma muito mais violenta do que na música, talvez porque os censores não tivessem cultura musical!
Apresentamos um voto de pesar porque a sociedade portuguesa fica mais pobre com a morte de Lopes Graça, mas, ao mesmo tempo, está mais rica porque recebeu a sua mensagem, a sua mensagem de comunicabilidade, a sua mensagem socialista.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Narana Coissoró.

O Sr. Narrara Coissoró (CDS-PP): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: O Grupo Parlamentar do CDS-PP não quer deixar de se associar ao voto de pesar e presta a sua homenagem ao Maestro Lopes Graça, recentemente falecido, figura de grande relevância no campo da música e da intelectualidade portuguesas.
Deixa-nos o Maestro Lopes Graça uma obra notável enquanto artista, cumprindo destacar que o seu contributo está para além de uma extensa obra, enquanto compositor, ao longo de mais de 60 anos de actividade neste domínio. A estas facetas de compositor e de director coral, que mais o celebrizaram e lhe deram reconhecimento internacional, soma-se uma actividade de grande importância como folclorista, domínio em que nos deixou uma intervenção relevantíssima no campo da recolha de música popular portuguesa, que foi sempre uma das suas principais fontes de inspiração.
A figura do Maestro Lopes Graça é indissociável da sua intervenção cívica e política. É impossível ignorar a ligação que sempre estabeleceu entre a sua obra, a criação cultural e a sua própria intervenção política.
O CDS-PP nunca deixará de respeitar e lembrar os homens que se batem com lealdade pelas suas convicções de toda uma vida, mesmo que, como neste caso, essas convicções se distingam claramente das ideias e dos valores em que sempre acreditámos e que sempre defendemos.
Desapareceu uma figura marcante da música e cultura portuguesas, pelo que o País e a nossa vida cultural ficarão sempre a dever um duplo tributo a um homem simples, bom e que prestigiou Portugal e a cultura portuguesa.
O CDS-PP associa-se, assim, à homenagem nacional e ao pesar desta Câmara, sublinhando a perda que representa o desaparecimento de uma figura tão marcante da intelectualidade nacional. Apresenta os seus pêsames à família enlutada e ao PCP, de que foi destacado militante.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Pacheco Pereira.

O Sr. Pacheco Pereira (PSD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Temos hoje uma oportunidade, aliás, pela pior das razões, de nos referirmos à obra de Lopes Graça, que tive o gosto de conhecer, como muitos outros estudantes associativos, naquilo que era a sua obra, conjuntamente com o Coro da Academia dos Amadores de Música, animando muito daquilo que era, na altura, a cultura de resistência ao regime autoritário.
De qualquer maneira, há na obra de Lopes Graça dois aspectos fundamentais que perdurarão para além do seu autor: por um lado, a sua própria obra, enquanto compositor, discípulo de Bela Bartok, renovou, em grande parte, a música portuguesa, que tinha, nos anos 30 e 40, afunilado a sua influência e qualidade na tentativa de reconstruir um nacionalismo musical que a afastava de todas as grandes tendências da música do século XX. Por outro lado, Lopes Graça combateu, enquanto compositor e enquanto jornalista e crítico musical, publicando uma extensa obra crítica que hoje, infelizmente, é pouco lida, mas que foi fundamental para a foi mação de toda uma geração, num país no qual a tradição musical não era forte.
As obras de Lopes Graça, como, por exemplo, A nossa Companheira Música, foram fundamentais para divulgar em Portugal a obra de Bela Bartok e de Schoenberg, uma interpretação da modernidade musical que a nossa tradição nacionalista e provinciana tinha afastado.
Enquanto compositor, não só ajudou a preservar o espólio da nossa música tradicional, fazendo uma colheita nas fontes daquilo que eram as raízes efectivas da nossa música popular, conjuntamente com Jacometti, como também, escrevendo e musicando alguma da grande poesia portuguesa do seu tempo, escrevendo obras sinfónicas que traduziam a visão do mundo da música que lhe era contemporânea, foi fundamental para criar uma tradição musical num País que a teve nos séculos XVII e XVIII e que, em grande parte, a perdeu no século XIX.
Foi também um militante político destacado, cuja intervenção na vida cívica merece o nosso respeito e, por isso, é com todo o gosto que nos associamos à sua lembrança e que damos também os pêsames ao Grupo Parlamentar do Partido Comunista Português, de que Lopes Graça era militante, pela morte do grande compositor.

Aplausos gerais.

O Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Isabel Castro.

A Sr.ª Isabel Castro (Os Verdes): - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Em nome do Grupo Parlamentar de Os Verdes, também eu me quero associar a este voto de pesar pelo falecimento do Maestro Lopes Graça.
Lamentavelmente, no nosso país, a obra dos intelectuais que mais nos marcam não é muitas vezes lembrada, divulgada e partilhada em vida e é na sua ausência que é recordada a forma como a sua intervenção foi marcante. Pensamos que, relativamente ao Maestro Lopes Graça, também é um pouco isto que acontece.
A sua vida de investigador, como já foi referido, de alguém que abriu novos caminhos para a compreensão do universo da música e que teve um papel fundamental na recolha e na compreensão das nossas raízes culturais e na busca e preservação da nossa identidade cultural, foi extraordinariamente importante e importa sublinhar, como foi importante a sua intervenção, que está associada à sua vida, no Coro da Academia dos Amadores de Música, que, para os seus contemporâneos e para os mais jovens, foi uma forma de descobrir outras realidades para além da realidade fechada que nos rodeava. Julgo que esse foi um papel extremamente importante, o de despertar e ser um quadro de referência para as gerações mais novas. Julgo que é fundamental lembrar hoje essa mensagem.
Por último, quero recordar e com respeito referir-me à sua intervenção cívica e de cidadão, com tudo o que isso pesou na sua carreira, que foi marcada, por exemplo, pela proibição do regime totalitário de permitir que ele exercesse a sua actividade profissional. Mas esse é também um aspecto marcante na sua vida e que está ligado à sua obra.
Por isso, gostaria, tão-só, de, em nome de Os Verdes, apresentar ao Partido Comunista os nossos pêsames e associar-me a este voto.