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1188 I SÉRIE - NÚMERO 33

O Sr. Carlos Pinto (PSD): - Sr. Presidente, Sr. Deputado Almeida Santos, V. Ex.ª acabou, no final da sua intervenção, de titular as suas palavras como tendo sido um desabafo. Portanto, enquanto tal, poucas considerações mereceria, na medida em que todos temos direito ao desabafo, também, nesta Sala.
Quero apenas salientar alguns aspectos que me parecem pouco consonantes com o discurso oficial do PS, pela voz do seu Secretário-Geral. De facto, num posicionamento pouco claro quanto ao que é suposto ser a vida interna do PSD, há poucos dias o Secretário-Geral do PS dizia: afinal de contas, não há nenhum drama dentro do PSD e nada nos importa se o Professor Cavaco Silva continua ou não, enquanto líder do PSD.
V. Ex.ª, agora, vem dizer que importa. 0 que significa que devemos aqui expressar um desejo de que o PS se deve entender a este propósito. Porque para um partido que se diz alternativo em termos de governação para o País, ter uma parte que diz que o futuro do actual Primeiro-Ministro lhe importa e outra parte que diz que "não é coisa que esteja na nossa agenda", naturalmente tem um significado.
A nossa leitura, em relação ao Eng. António Guterres, é de que estas circunstâncias mediático-jornalistas em que se aborda a questão do Professor Cavaco Silva não causam qualquer preocupação; e, em relação ao Sr. Dr. Almeida Santos, é de que a circunstância de o Sr. Professor Cavaco Silva continuar a disputar, em Outubro deste ano, a liderança do País é qualquer coisa que o preocupa. Compreendo assim porque V. Ex.ª já passou por uma concorrida disputa eleitoral em 1985 e conhece bem o que significou ter o Professor Cavaco Silva como opositor nas eleições.
Não terá o PS, na tentativa de mobilização do País, ou de alguns sectores do País, através dos Estados Gerais, algo para trazer a esta Casa, em termos de ideias novas, em termos de alguma luz que ilumine os passos da comunidade nacional para o futuro? Mas até agora, decorridos alguns meses, o PS não foi capaz de encontrar qualquer coisa que, no fundo, pudesse envolver o discurso que acabou de fazer, de forma a constituir a resposta àquilo que, supostamente, V. Ex.ª diz que é uma ausência e um vazio de poder e de governação.
São estas as questões.
No fundo, o discurso de V. Ex.ª, é de tal forma pouco claro sobre os objectivos, de tal forma difícil de compreender enquanto exposição de uma postura política de um partido que se quer alternativo, que apenas lhe situo as minhas questões nestas duas vertentes.
Finalmente, Sr. Deputado Almeida Santos, ciente de que V. Ex.ª sabe valorizar as verdadeiras questões políticas nacionais, pergunto-lhe se, de facto, as questões internas dos partidos políticos - e o Partido Socialista, no decurso destes 20 anos de democracia, já, exuberantemente, as apresentou à sociedade portuguesa -, na perspectiva responsável a que V. Ex.ª nos habituou, têm dignidade suficiente para corporizarem um discurso na tribuna desta Casa.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente: - Sr. Deputado Almeida Santos, havendo mais oradores inscritos para pedir esclarecimentos, V. Ex.ª deseja responder já ou no fim?

O Sr. Almeida Santos (PS): - Respondo no fim, Sr. Presidente.

O Sr. Presidente: - Então, para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Manuel Queiró.

O Sr. Manuel Queiró (CDS-PP): - Sr. Presidente, Sr. Deputado Almeida Santos: Sempre que, nesta Câmara, alguém fala das hesitações, do suspense do Sr. Primeiro-Ministro, do tabú do Sr. Primeiro-Ministro, apetece-me dizer que não se deveria falar desse assunto.

O Sr. Ru Carp (PSD): - Muito bem!

O Orador: - E não se deveria dele falar porque, suspeito, isto ainda vai acabar com o Sr. Primeiro-Ministro a dizer: não fui eu que levantei qualquer dúvida, foram os políticos, nomeadamente os da oposição,...

O Sr. Silva Marques (PSD): - Foi o Engenheiro António Guterres.

O Orador: - ... que se entretiveram a espalhar a dúvida pelo País.

Aplausos do PSD.

E nós, para não abrirmos essa porta de saída, devíamos rodear - é essa a minha opinião - de um muro de silêncio todas essas manobras políticas do Sr. Primeiro-Ministro.
Eu não sei, nem me interessa muito saber, o que é que pretenderá o Sr. Primeiro-Ministro, mas há uma coisa que, a meu ver, ele já conseguiu demonstrar ao País: nas próximas eleições legislativas, o seu partido não tem alternativa, - não quer tê-la nem pode tê-la - à sua candidatura.

O Sr. Ferro Rodrigues (PS): - Tem o Pacheco Pereira.

O Orador: - 0 Partido Social Democrata demonstrou ou demonstrou-o o Sr. Primeiro-Ministro - que está inteiramente dependente da sua candidatura. Sem ele, a possibilidade de uma derrota torra-se mais uma certeza do que uma probabilidade. Por isso julgo que - e faço esse desafio ao Sr. Deputado Almeida Santos -, já que o Sr. Primeiro-Ministro, por interesse ou por hesitação, ainda não desfez esse suspense nem deu ao País uma indicação clara se fugirá ou não ao voto popular no mês de Outubro, devemos ser nós a desfazer esse suspense.
Aproveitemos, por exemplo, a sessão de hoje e tiremos esta constatação clara: porque o seu partido precisa muito, porque ele deixará uma multidão de órfãos, porque ninguém lhe perdoará no seu partido, o Sr. Primeiro-Ministro não terá outra possibilidade que não seja a de disputar as eleições legislativas. E fá-lo-à para bem do País, a meu ver, porque se alguém deve contas em Portugal - e a prestação de contas tem importância na política nacional - esse alguém é o Primeiro-Ministro, antes de qualquer outro.
Para não fazermos o seu jogo, para não entrarmos na manobra e para desfazermos dúvidas a tempo, aproveitemos esta ocasião e manifestemos a nossa convicção de que este suspense acabou, que o Sr. Primeiro-Ministro não conseguirá prolongá-lo e que vai mesmo ter de disputar as eleições legislativas.

O Sr. Presidente: - Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Octávio Teixeira.

O Sr. Octávio Teixeira (PCP): - Sr. Presidente, Sr. Deputado Almeida Santos: Como sabe o problema do melodrama nunca nos afligiu - e continua a não nos afligir -, mas gostaria de dizer-lhe que estou substancialmente de acordo com o conteúdo daquilo a que o Sr. Deputado