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3096 I SÉRIE - NÚMERO 88

de que tomou conhecimento em primeiro lugar pelos jornais.
Estes são alguns casos exemplares da gestão socialista na cultura.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Tomemos o caso do Politeama. Quer se queira ou não, quer se goste ou não, Filipe La Féria é um dos mais talentosos e originais encenadores da sua geração, uma das personalidades criativas mais marcantes do espectáculo português da actualidade.
A crédito da actividade de La Féria, há que lançar, sem hesitações, esse fenómeno que assinalou, entre outras das suas produções de grande sucesso, a história do espectáculo em Portugal e que foi o celebérrimo Passa Por Mim no Rossio.
E com essa peça Passa Por Mim no Rossio, Filipe La Féria deu ao manifesto o seu estilo de produção imediata e comunicante. E por isso ficou marcado e lhe chamaram o encenador do cavaquismo, o encenador do regime. Não se exprimia em termos esotéricos, apenas fazia coisas de que o público gostava. Arriscava-se a ter êxito. E havia quem não pudesse suportar o êxito de Filipe La Féria.
Mais tarde ou mais cedo, após a ascensão ao poder dos novos e iluminados senhores da cultura, La Féria iria pagar com juros a ousadia de ter sido talentoso e acessível; iria pagar com juros a inaudita malfeitoria de ter levado público ao teatro, um público que há muito virara costas a esse teatro e que, com a peça Passa Por Mim no Rossio, formara filas que quase davam a volta ao edifício à espera da abertura das bilheteiras.
Por tudo isto, La Féria estava marcado; por tudo isto - ou só por isto -, La Féria tinha de ser prejudicado; por tudo isto La Féria haveria de ser saneado. E foi. Ou não tivesse ele, por infelicidade, que trabalhar com um Ministério do qual o titular tão afanosamente se reivindica dos valores da esquerda!

O Sr. Guilherme Silva (PSD): - Como António Ferro!

O Orador: - Infelizmente da esquerda sectária e saneadora, pois então!

A Sr.ª Odete Santos (PCP): - Desculpe lá, mas não fale da esquerda toda!

O Orador: - Sr.ª Deputada, eu disse da esquerda sectária e saneadora! Se estiver atenta, perceberá as minhas palavras!
Este processo é exemplar da tibieza do Secretário de Estado da Cultura e da arrogância do seu chefe, o filósofo Ministro. Aquele, em entrevista a um órgão de comunicação social, começou por afirmar que a entrega do Politeama ao encenador «é um caso de absoluto privilégio no rocio teatral português, que não pode continuar» e que «exigir que ele tenha com o Estado uma relação contratual semelhante ü dos outros criadores teatrais é a única decisão política tomada».
Só por ignorância ou má fé se pode aduzir tal argumento. Com certeza que o Sr. Secretário de Estado da Cultura não ignorava, nem ignora, que muitos dos encenadores teatrais do nosso país ocupam recintos teatrais, cuja propriedade nu arrendamento é suportado por organismos do Estado. Começo por dar o exemplo mais
paradigmático: o Teatro da Cornucópia, cujo encenador é Luís Miguel Cintra, que é a companhia de Teatro que, actualmente, maior subsídio anual recebe do Ministério da Cultura. Nada mais nada menos do que 80 000 contos por ano!
E o Teatro Aberto do Novo Grupo? E o Teatro Luísa Tódi, em Setúbal? E os Teatros Sá da Bandeira e Carlos Alberto, ambos no Porto, da Seiva Trupe e do TEP? E o Teatro Mirita Casimiro, em Cascais? E o Teatro Gil Vicente, em Coimbra? E o Cinearte, aqui mesmo junto à Assembleia da República? O rol é interminável. São todos teatros de entidades públicas.
Também, para justificar o despejo de La Féria, se perguntava com que moral poderia o Estado continuar a alimentar uma companhia que «nunca se sujeitou. como as outras, aos concursos de atribuição de subsídios». Mais um argumento falso. Em primeiro lugar, porque La Féria, comparativamente com outros, recebeu subsídios diminutos para a produção teatral, enquanto tal, e, em segundo lugar, gostaria de saber a que concursos concorreram as 10 companhias teatrais que recebem actualmente a maior parte dos subsídios atribuídos pelo Ministério da Cultura à produção teatral. A concurso nenhum, Srs. Deputados, pois, para estas companhias, os subsídios são atribuídos automaticamente, sem concurso.
Como tal não convencesse, jogou-se, então, o argumento dos argumentos, qual seja o da falta de condições de segurança do Teatro Politeama. Mas não tardou muito que o estado de desorientação geral deste Ministério viesse ao de cima - aliás, a exemplo do que se passa no Governo em geral!... -, com o Ministro a desautorizar o Secretário de Estado, afirmando que a falta de condições de segurança não passava de um «exagero» que umas poucas obras, que o próprio Ministério se encarregará de suportar, não resolva, não passando tudo de uma «tempestade num copo de água».
Leda e triste encenação esta! Leda, porque o filósofo Ministro, alegre e prazenteiramente, vai dando o seu espectáculo de irresponsabilidade de dar o dito por não dito; triste, porque caem as máscaras da política da cultura socialista, que é persecutório, quando nos foi apresentada como tolerante, ecuménica e imaculada nos seus mais sãos princípios éticos: triste, porque um dos encenadores mais criativos da realidade teatral portuguesa está sem teatro, perseguido e desamparado, há cerca de 40 profissionais à beira do desemprego e um dos mais bonitos teatros da capital, objecto de vultuosos investimentos, está encerrado.
O caso do Politeama é o último paradigma da política cultural do Governo socialista. De uma política cultural que o imodesto Ministro - filósofo da contingência - disse já ter cumprido 70% do seu programa. Fraco programa foi este! No primeiro ano, construiu o seu Ministério e, no segundo, atamancou algumas leis orgânicas.

Vozes do PSD: - Muito bem!

O Orador: - Numa coisa este Ministro ousou a mudança: Foi no capítulo dos saneamentos de tipo político-cultural.
Temo que, no horizonte, se esteja a desenhar um outro saneamento de um outro encenador. Refiro-me a Carlos Avilez, considerado no meio teatral português como o «Papa» dos encenadores de Portugal.
Parece que é ao Ministro da Cultura que mais facilmente se toleram, no vasto seio do Governo, os