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5 DE FEVEREIRO DE 1999

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dos Teatros e Espectáculos Nacionais, o Projecto da Criação do Teatro Nacional D. Maria II, e a Criação de um Conservatório de Arte Dramática. Recusou por esse então uma pasta no Governo, bem como os lugares de Conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça e de Presidente do Tribunal Superior de Comércio. Mas aceitou, modestamente, o lugar de vogal deste Tribunal, e o lugar - sempre a paixão pelo teatro - de Inspector dos Teatros e Espectáculos.

Se a isto juntarmos o mérito excepcional das peças teatrais que escreveu, com destaque para o Frei Luís de Sousa, que António José Saraiva e Oscar Lopes rotulam de «obra solitária na literatura portuguesa e no teatro romântico em geral»; o Alfageme de Santarém, em que ataca a direita eanista; a Sobrinha do Marquês, imbuída de uma certa crítica anticlerical; e Um Auto de Gil Vicente, que marca o ressurgimento de um teatro verdadeiramente nacional, o teatro português foi ele. Ainda é!

Garrett, aliás, viveu o teatro com tão intensa paixão que foi também e muitas vezes actor, encarnando a primor os seus próprios personagens. Em tudo isso, mecenaticamente, ajudado pelo famoso Conde Farrobo, o que com o abundante e fácil dinheiro de África construiu o petit Versailles que pretendia ser o Palácio das Laranjeiras, e junto dele um famosíssimo teatro em que actuaram os melhores actores e as mais famosas divas do canto lírico desse tempo. Até que o fogo o destruiu. Mas Farrobo representava também.

A nova revolução de Costa Cabral, de 1838, não afectou Garrett, que ajudou Cabral a restabelecer a ordem. Jurada um mês depois a Constituição de 1838, Garrett jurou-a a contragosto, dada a sua fidelidade à Carta. Isso não impediu que fosse incumbido de novos e importantes trabalhos, entre eles o de redigir o Código Administrativo. Sem esquecer o Teatro! Criou, por essa altura, prémios do Conservatório para peças originais, fez votar um subsídio para o teatro português, e íomou a iniciativa de constituir a «Sociedade de Autores».

Os golpes políticos não ficaram por aqui. Há a Maria da Fonte, a famosa Patuleia, durante a qual a guerra civil alastrou a quase todo o País; a Regeneração; Costa Cabral; os golpes e os caudilhismos do costume. Tudo isso é conhecido. Garrett, umas vezes na mó de cima, ajoujado de cargos e honrarias; outras, na mó de baixo, disso de pronto despojado. Mas o que deixo dito serve para realçar que enfrentou sempre, com total dignidade, os azares da sorte, sem se bandear, sem se vender por favores de espécie alguma. A beleza e o mérito da sua obra literária não foram atraiçoados, repito, pelo seu carácter e o seu comportamento Os exílios terão sido as menos duras. Chegou a receber ameaças de morte e de fogo posto na sua residência, sem lhe ter dado qualquer chelique.

Pelo contrário, por entre as árduas lutas e as importantes tarefas políticas de que foi incumbido, encontrou sempre ânimo para dar continuidade à exploração do filão inesgotável da sua criatividade artística. São do seu Outono algumas das suas mais belas produções, como o Arco de Sant'Ana, e esse fresco admirável e único, que são as Viagens na Minha Terra. Mas sobretudo, como já disse, os poemas reunidos nesse livro imprevisível da sua vigésima quinta hora, que são as Folhas Caídas. Garrett foi grande até ao fim. Poucos o são. E não apenas grande! Poeta até ao fim. Ele mesmo o disse, a propósito desse livro: «poeta na primavera, no estio, e no outono da vida, hei-de sê-lo no inverno, se lá chegar, e hei-de sê-lo em tudo».

A melhor homenagem que podemos prestar-lhe é reconhecer que com brilho singular o foi.

Aplausos gerais.

Antes de dar por encerrada e^ta memorável sessão, em que homenageámos um dos mais altos espíritos que Portugal gerou, tenho o prazer de convidar todos os presentes e convidados para o Salão Nobre, onde haverá um breve Porto de Honra.

Está suspensa a sessão.

Eram 12 horas e 5 minutos.

O Sr. Presidente: — Sr. Presidente das República Francesa, Ilustres Autoridades, Srs. Convidados, Srs. Deputados, tenho a honra de declarar aberta esta a sessão memorável de recepção do Sr. Presidente da República Francesa, a quem passo desde já a saudar, em breves palavras, para que possamos ouvi-lo durante o tempo que dispuser para se nos dirigir.

Eram 16 horas e 10 minutos.

Sr. Presidente da República Francesa, Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros, por si e em representação do Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Presidentes do Supremo Tribunal de Justiça e do Tribunal Constitucional, Sr. Procurador-Geral da República, Srs. Membros do Governo de Portugal e da França, Srs. Presidentes do Supremo Tribunal Administrativo e do Tribunal de Contas, Srs. Vice-Presidentes da Assembleia da República e Srs. Deputados, Srs. Representantes do Corpo Diplomático, Excelentíssimas Autoridades Políticas, Civis e Militares portuguesas e francesas, Excelências: A Assembleia da República, reunida em sessão plenária para o efeito convocada, sente-se honrada com a presença do Presidente da República Francesa e com a disponibilidade de Sua Excelência para, como se fosse um de nós, nos dirigir a palavra.

É meu privilégio saudá-lo e conceder-lha, Sr. Presidente.

É grande a expectativa com que aguardamos a visão que queira transmitir-nos sobre o presente e o futuro das relações bilaterais entre os nossos países, da União Europeia e do mundo, numa encruzilhada da história cuja leitura é tudo menos fácil.

Essa expectativa é também justificada. V. Ex." vem precedido de um currículo político de luxo, mesmo entre os mais cotados. V. Ex.º foi tudo o que um grande político pode ser: duas vezes Secretário de Estado; quatro vezes Ministro; duas vezes Primeiro-Ministro; nove vezes eleito Deputado; três vezes Maire de Paris, eco Presidente da França, país que doou ao mundo a mais famosa trilogia de princípios políticos e éticos: a liberdade, a igualdade e a fraternidade.

Por mais que a igualdade e a fraternidade sejam obra inacabada na aventura humana, e por mais que essa utopia, a haver, condicione o triunfo definitivo da própria liberdade, o novo espírito saído da Revolução Francesa continua a constituir a constelação polar do processo histórico. Mesmo quando as suas estrelas mudam de rótulo, e à igualdade se chama, agora, justiça social, ou a fraternidade é rotulada de solidariedade, nem por isso, essas estrelas, perdem o brilho.

Portugal manteve no passado, e prolonga no presente, com a grande naçflo francesa, relações privilegiadas. O nosso mais famoso romancista, Eça de Queiroz - qualifi-