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1632 I SÉRIE-NÚMERO 44

cativo que o nosso Prémio Nobel da Literatura decerto não rejeita - dizia que a cultura nos vinha de França pelo paquete do Havre Assim foi, e agora, sem paquete, de algum modo continua a ser, apesar de os exclusivos estarem a diluir-se no fenómeno da globalização, que tudo vertiginosamente nivela
Precisamente para disso melhor nos defendermos - até onde a defesa é possível - somos hoje parceiros do exaltante projecto de construção da União Europeia A partir de um projecto inicial de simples unidade económica, estamos hoje edificando, antecipando-nos a todos os restantes espaços regionais, uma ambiciosa unidade política, em que uma comum cidadania ganha progressivamente relevo sobre os demais factores de coesão
Esta ai, in actu, a unidade monetária Vêm ai, em projecto, novas políticas comuns, entre elas uma comum política de relações exteriores e uma comum política de segurança Esta tem estado, bem o sabemos, no núcleo fundamental das preocupações de V. Ex.ª, nomeadamente no que se refere à articulação funcionai entre a União da Europa Ocidental e a Aliança Atlântica Não existem, a esse propósito, como a propósito nenhum, divergências de fundo entre os nossos países, e ambos convergimos na recusa de gendarmes únicos e de tentativas de hegemonia universal fora de época.
Não significa isto que seja total e absoluta - nunca é - a convergência dos nossos interesses em todos os azimutes e domínios Mas esse e o preço da nossa distinta individualidade Para diluirmos o quase nada que nos separa no muito que nos une é que a Europa do presente e do futuro foi concebida como uma união, tendo os princípios da solidariedade e da coesão como principais linhas de força
Portugal viu se condenado a viver meio século na contramão da historia Vem fazendo, há um quarto de século, um notável esforço de recolagem ao pelotão dos países mais desenvolvidos Esse esforço tem sido coroado de êxito, mas continuamos a necessitar da solidariedade dos nossos parceiros europeus A negociação da Agenda 2000 oferece se como oportunidade e plataforma para novos gestos de apreço pela nossa inacabada viagem a caminho de altos níveis europeus de desenvolvimento.
Visita V. Ex.ª Portugal no momento em que a Indonésia da sinais de ceder a pressão da opinião pública internacional e as exigências dos Direitos do Homem, no que diz respeito aos indeclináveis direitos do povo de Timor Leste a autodeterminação e independência Vivemos, a esse respeito, uma hora de esperança e contamos, para traduzi ía em realidade, com a solidariedade do mundo livre, de que a França continua a ser o exemplo mais paradigmático.
Vive e trabalha hoje em França cerca de um quinto da Nação portuguesa a reforçar a nossa gratidão pelo seu grande pais, Sr. Presidente, entre outras razões porque sabemos que, quando regressarem, transportarão dentro de si como nos hoje o temos, o mais entranhado amor à democracia e a liberdade
Esse amor e cada vez mais necessário nestes «dias tumultuosos» - como Van Passen qualificou os do pós-guerra - em que e de novo evidente que, como disse nesta mesma sala um célebre escritor português cujo génio hoje de manha aqui evocámos, «a ordem ( ) é o fiai da liberdade» sendo que «uma e impossível sem a outra» A democracia digo eu, essa, é impossível sem ambas
Esta e, porem uma das muitas reflexões que, em comum, a Europa tem de fazer, por si e pelos que a história colocou a seu reboque, sobre o presente e o futuro do Mundo.
Mas nós estamos aqui para ouvir V. Ex.ª, não para me ouvir a mim Seja bem vindo a Portugal e à sua Assembleia da República, Sr. Presidente Que se sinta bem no meio de nós e que a saudade, sentimento tão português, na forma de saudade das cidades de Lisboa e do Porto, únicas que visita, possa contaminá-lo e obrigá-lo a voltar depressa e muitas vezes.
Muito obrigado por ter vindo, Sr. Presidente.

Aplausos gerais.

Sr. Presidente da República Francesa, tenho a honra de lhe dar a palavra

O Sr. Presidente da República Francesa (Jacques Chirac): - Sr. Presidente da Assembleia da República, Sr.ªs e Srs Ministros, Sr.ªs e Srs. Presidentes, Sr.ªs e Srs. Deputados, Sr.ªs e Srs. Embaixadores, Senhoras e Senhores Quero antes de mais, Sr. Presidente, agradecer a V. Ex.ª, em meu próprio nome e em nome de todos os meus compatriotas, o vosso acolhimento e também as vossas palavras repletas de amizade.
Quero dizer-vos quanto me sensibilizou ter sido convidado a vir hoje a Portugal, Portugal, que foi a primeira Nação europeia a determinar as suas fronteiras Portugal, sentinela avançada da Europa, onde a alma impulsionada pelos ventos e pelas ondas do mar não sonha senão com aventuras
E que aventuras, que destino identificamos em Portugal! Que coragem encontramos nos vossos homens do mar Desafiando as lendas e o medo, eles forçaram o «Mar das Trevas», em que se acreditava que as embarcações desapareciam no equador, onde as serpentes marinhas só espreitavam o momento de engolir os navios mais audaciosos Construíram um dos mais vastos impérios da História Alargaram incessantemente as fronteiras da geografia, ao mesmo tempo que as do espírito humano Portugal com o qual nós, franceses, temos tanto a compartilhar e que, mais do que nosso parceiro, é verdadeiramente nosso irmão na Europa.

Aplausos gerais.

Assim, é para mim uma grande honra e um imenso prazer ser recebido aqui, neste local prestigioso, sede há mais de 160 anos do Parlamento português É uma honra poder expressar-me perante os representantes eleitos pela vossa Nação e poder dirigir-me assim a todo o povo português, ao qual trago as Fraternais saudações do povo francês.

Aplausos gerais.

É uma honra que os senhores me concedem ao reunirem-se em Plenário para acolher o Presidente da República Francesa E é um imenso prazer, para o parlamentar que fui, reencontrar a atmosfera do hemiciclo, este recinto onde palpita o coração da democracia, onde se encarna a vontade do povo, onde se esboça o futuro
Há um quarto de século, os portugueses, rompendo resolutamente com o longo e sombrio período da ditadura, reencontraram a liberdade No mundo inteiro, muitos foram os que, com entusiasmo e simpatia, seguiram o desenrolar da «Revolução dos Cravos» Entre estes, en-