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Peço aos Srs. Deputados o favor de criarem condições que permitam ao Sr. Deputado Rosado Fernandes fazer a sua declaração política. Também peço às pessoas que estão a assistir nas galerias o favor de fazerem o mínimo ruído possível.
Faça favor de continuar, Sr. Deputado.

O Orador: - Srs. Deputados, estou a falar de instrução e não de educação, por isso não se preocupem.
Quando há dias, numa das nossas concorridas sextas-feiras, perguntei ao Sr. Secretário de Estado do Ensino Superior se não pensava que tínhamos ensino superior a mais e ensino médio profissional a menos, respondeu-me que a sua missão era ocupar-se do ensino superior. Esqueceu-se que o ensino superior só poderá resultar como motor de desenvolvimento do País se tiver o ensino médio - que o liga ao terreno agrícola, industrial ou de serviços - a apoiá-lo, caso contrário, terá de contentar-se, depois de o sistema esconder o insucesso escolar, com o ingresso de licenciados, numa percentagem acentuada, na função pública, a qual, essa sim, pelo seu estatuto, lhes garante um futuro risonho e cheio de impunidade em que a última exigência é, na generalidade, a competência profissional.

Vozes do CDS-PP: - Muito bem!

O Orador: - Sabemos que o ensino superior bem conduzido terá de ser dirigido para os sectores mais carenciados, que, como é do conhecimento geral, são as tecnologias, novas ou antigas, pois verificamos que os diplomados nesse sector não têm dificuldade em encontrar emprego. Noutros sectores, porém, como direito, história, filosofia ou bioquímica, sabe-se qual é a situação.
A pretexto da defesa da democracia e do livre acesso a todos aos mais altos graus de ensino tem-se criado, nos últimos anos, um fosso cada vez mais gritante entre ricos e pobres, com o pretexto de que a percentagem de licenciados em Portugal é inferior à dos países mais desenvolvidos, esquecendo-se de que a rácio dos diplomados não deve ser medida em relação à nossa população, mas, sim, em relação à riqueza produzida ou a produzir.
A verdade é que, na situação actual, são os mais ricos, não só de bens materiais, mas de cunhas políticas e familiares, que são encaixados nos lugares de Estado ou na política nacional!

Vozes do CDS-PP: - Muito bem!

O Orador: - Os mais pobres não só têm de frequentar as universidades privadas, como acabam muitas vezes no subemprego, depois de 16 ou 18 anos de custos e de estudos, como, por exemplo, atrás de uma caixa registadora de um grande supermercado.
Tudo nos indica que o chamado ensino médio - e apresso-me a chamar-lhe assim antes que os licenciados em ciências de educação lhe encontrem qualquer nome abstruso, próximo da motricidade humana ou da expressão física ou motora, vulgo ginástica -, que responda às necessidades do mercado português na sua componente privada e estatal, será a única forma de aliviar a enchente que já há muito rebentou os «diques» da universidade, cada vez mais caracterizada pelo ensino sebenteiro e pouco superior, e que ainda não enche as salas do ensino politécnico, porque este até agora não provou que é capaz de produzir diplomados que satisfaçam as necessidades básicas das actividades que há a desenvolver nas empresas e no Estado.
Dizem os dirigentes mais qualificados que conheço, e cuja opinião respeito, que não há meio de levar as famílias portuguesas a admitir que alguns dos seus filhos não têm vocação universitária ou politécnica, que, neste momento, são uma e a mesma coisa. Estamos, pois, certos que o desemprego generalizado e certamente alguma acção pedagógica de alguns governos as convencerá - mas já será tarde - de que mais vale um técnico profissional com trabalho do que um licenciado sem saber o que fazer.
As consultas que fiz a cerca de 170 escolas profissionais deste país convenceram-me de que o grau de empregabilidade dos seus alunos é de molde a atenuar o snobismo mais empedernido das famílias portuguesas. E dou alguns exemplos: cerca de 85% dos seus alunos encontram emprego assegurado em vários ramos, desde a hotelaria, à construção civil, à mecatrónica e sistemas informáticos, ao fabrico de queijo e à construção civil tradicional.
Uma coisa é certa: um pedreiro, um canalizador e um mecânico não diplomados, e muitas vezes com preparação deficiente, ganham mais e têm melhor qualidade de vida, sem que para tal necessitem de meter cunhas, do que muitos licenciados que à minha volta encontro, que se não fora o ambiente familiar que os rodeia teriam uma vida cheia de necessidades.
Sabemos que o ensino tecnológico proposto nos novos currículos dificilmente terá sucesso, a menos que venha a ser adaptado às necessidades do País e à realidade do seu povo, que é o que é e que nem sempre corresponde aos níveis do resto da Europa, que depois da última guerra foi construída não só com riqueza, mas com esforço, sacrifício e sobretudo com trabalho, noção tão detestada por tanta gente mas que é o fundamento da instrução, seja ela de que nível for.

Vozes do CDS-PP: - Muito bem!

O Orador: - Sentimos que o sistema educativo português tem sistematicamente ignorado as diversas vocações da juventude e impedido que se siga o modelo que sugerimos, que se pratica nos países mais avançados, em que os alunos têm na escola preparação teórica que baste, passando o resto da semana a trabalhar, orientados por monitores, em empresas de todo o género.
Calculo que assim não acontecerá no nosso país, a menos que os representantes desta Câmara decidam que necessitamos de propor à nossa juventude um sistema mais prático, que os habilite a enfrentar os desafios que já lhes estão a ser movidos, o que levaria a preencher as lacunas existentes em pontos cruciais da nossa instrução de que vai depender o desenvolvimento do País.
Temos poder para alterar a situação actual, só duvido - e tenho razões para isso - que o façamos, porque o desejo de agradar à ilusão popular é mais forte do que a vontade de resolver os problemas do futuro de um povo inteiro.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente (Manuel Alegre): - Também para uma declaração política, tem a palavra o Sr. Deputado Luís Cirilo.