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0359 | I Série - Número 11 | 12 de Outubro de 2001

 

Melgaço, Arcos de Valdevez, Ponte da Barca, Terras de Bouro e Montalegre, possuindo no seu seio as serras da Peneda, Soajo, Amarela e Gerês.
Sendo eu natural do concelho de Melgaço, tendo sido estudante e professor no concelho de Arcos de Valdevez e actualmente candidato a Presidente da Câmara de Terras de Bouro, considero-me também, para além de um indígena ou autóctone da região do Parque, um seu apaixonado e modesto estudioso.
O Parque Nacional da Peneda-Gerês, actualmente dividido em ambiente natural e rural, surgiu essencialmente para a conservação da sua rica natureza, advindo, no entanto, a sua personalidade do facto de ser um parque habitado, sendo, portanto, necessário um desenvolvimento harmonioso entre o homem e a natureza.
É difícil para os 10 000 habitantes da área do Parque, espalhados pelos seus 114 aldeamentos, conseguirem rendimentos para uma vida digna - muitos deles vivem de uma agricultura quase de subsistência, outros do turismo e outros são reformados com reformas ganhas no estrangeiro ou nas cidades e que resolveram regressar ao ponto de partida. Só que os jovens continuam a abandonar os lugarejos do Parque, sendo assim muito difícil manter o Parque como espaço humanizado.
Na área do Parque Nacional, os seus habitantes só querem ser ajudados para continuarem a viver onde gostam de viver. Assim, o pastoreio, com destaque para as cabras, devia ter um subsídio extraordinário já que a cabra é o melhor auxiliar dos bombeiros, sendo essencial para, pelo menos, na área de ambiente rural, devorar os matos, alimentadores de incêndios.
A manutenção, no pastoreio, da Vezeira e da transumância com Brandas e Inverneiras fazem parte da tradição do Parque.
Os usos e costumes de um comunitarismo ainda se mantêm, como as eiras comuns com os seus espigueiros e alguns fornos comunitários, mas foram-se perdendo muitas tradições, como o caso do «boi do povo», um exemplar barrosão que emprenhava as vacas do lugar e era propriedade de todos. Hoje, a modernidade quase que extinguiu esta tradição já que as vacas ficam prenhas por técnicos que fazem o serviço com grande eficácia.
É importante defender o cão de Castro Laboreiro, as raças autóctones de bovinos, com destaque para a barrosã e a cachena, os cavalos garranos e os burros, assim como a cabra bravia e o porco bísaro. Afinal, ao defendermos este animais estamos a ajudar o homem.
O Parque Nacional deve, desde as escolas do 1.º ciclo, introduzir o orgulho sadio de residir na área do Parque, não deixando perder a tradição do comunitarismo que tantos estudiosos adoraram, com destaque para Miguel Torga.
É pedagogicamente importante que toda a população do Parque tenha um grande empenhamento na democracia participativa, que devia ser fundamental na gestão da área do Parque. Neste âmbito, é importante que os residentes reafirmem o direito e o dever de viverem com toda a dignidade e qualidade de vida que a modernidade exige.
Dos animais do Parque ultimamente mais falados destacamos as águias reais, os lobos que se organizam em 10 ou 12 alcateias, existindo actualmente entre 60 a 70 lobos, assim, com o reaparecimento da chamada cabra geresiana, que veio do Parque do Xurés do lado galego, pois, sabendo que não há fronteiras na União Europeia, aproveitou e passou para o lado de Portugal, sendo considerada o ex libris do Parque.
Quanto aos estragos que os animais causam aos agricultores, nada é pago por causa do javali, sendo somente pagas, ainda que às vezes tarde, as despesas relativas às vítimas que os lobos fazem nos rebanhos.
A zona mais nobre do Parque Nacional situa-se no concelho de Terras de Bouro, nomeadamente a Mata de Albergaria, assim como a zona mais visitada que é a vila termal do Gerês, a Albufeira da Caniçada e o Santuário de S. Bento da Porta Aberta, exigindo-se actualmente um reordenamento no trânsito desta zona, pois na época alta esta mais parece ter o tráfego de uma grande metrópole do que o de uma zona de lazer e de fruição da natureza.
Em termos de património construído na área do Parque, para além de vastas necrópoles megalíticas, dos castelos de Castro Laboreiro e Lindoso, do Mosteiro de Santa Maria das Júnias e do Espigueiros do Soajo e Lindoso, existe também a geira romana, que era a via 18 do itinerário antonino, uma auto-estrada no tempo dos romanos, que possui em Portugal 30 Km em bom estado de conservação, todos no concelho de Terras de Bouro, a qual vai ser proposta a património nacional e depois a património mundial.
Para terminar, gostava de realçar que um dos maiores problema do Parque é a chamada praga das mimosas, infestantes, a que chegaram a fazer uma festa de promoção turística, até concluírem que às pragas não se fazem festas, erradicam-se.
Há agora um programa que custa 50 000 contos que está a combater 120 000 ha de mimosas. Mas, devo lembrar que este combate tem que continuar, pois uma semente de mimosa pode viver 100 anos. É assim uma luta duradoura.
O orçamento do Parque é este ano de 650 000 contos quando o ano passado foi de 85 000 contos. Foi um bom salto mas ainda não chega, é preciso mais, pois as carências são grandes, e para as combater é preciso a solidariedade europeia e portuguesa de forma a manter a tradição na modernidade do nosso único Parque Nacional.

Aplausos do PS e do Deputado do CDS-PP Basílio Horta.

O Sr. Presidente: - Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Luís Cirilo.

O Sr. Luís Cirilo (PSD): - Sr. Presidente, Sr. Deputado Ricardo Gonçalves, confesso que ouvi com deleite a sua intervenção. V. Ex.ª começou por falar de informática, passou por javalis e acabou em mimosas.
Recordo-me que, a determinado passo da sua intervenção, V. Ex.ª citou a sua qualidade de candidato à Câmara de Terras de Bouro. Mas, confesso que, depois de o ouvir - e ouvi-o com toda a atenção -, pensei que V. Ex.ª era candidato a futuro director de um jardim zoológico do Parque da Peneda-Gerês, porque V. Ex.ª, ao invés de falar de Terras de Bouro, falou essencialmente da fauna e da flora do Parque Nacional da Peneda-Gerês.
Ainda assim, não resisto a fazer algumas perguntas relacionadas directamente com as Terras de Bouro, que