O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

3002 | I Série - Número 054 | 21 de Fevereiro de 2004

 

então, ficámos com a esperança de que ele continuaria entre nós. Mas Acácio Barreiros morreu, morreu no seu posto, morreu ao serviço da Pátria.
Curvemo-nos perante a sua memória e partilhemos os nossos sentimentos de profunda mágoa com o seu partido e com a sua família.

A Sr.ª Presidente (Leonor Beleza): - Tem a palavra o Sr. Deputado Narana Coissoró.

O Sr. Narana Coissoró (CDS-PP): - Sr.ª Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, olhamos para a bancada do PS e não está lá o nosso colega Deputado Acácio Barreiros. É verdade e parece mentira. E custa muito mais a dor de pensar que nunca mais o veremos nesta vida.
Acácio Barreiros esteve sentado nos anos quentes da Revolução de 74 onde está hoje o Sr. Deputado Luís Fazenda, devia ter os seus 25 ou 26 anos, e, no fulgor da sua juventude, era a alegria deste Parlamento, pela sua vivacidade, pelo seu brilho, pelo seu humor, pela sua acutilância, pela sua oratória, o rigor formal que emprestava às constantes intervenções e a maneira como defendia as suas ideias.
Era apetecido ouvi-lo, mesmo que mais ninguém, na Assembleia, concordasse com ele! Quase que enchia a Sala. Havia um semanário que se referia sempre a Acácio Barreiros, porque estava politicamente isolado e enchia o Parlamento com o vigor da sua retórica, como o "numeroso Deputado Acácio Barreiros". Efectivamente, assim sucedia, estando sozinho, era o "numeroso Deputado Acácio Barreiros".
Subia à tribuna, descia à sua cadeira, gesticulava com o dedo indicador espetado, falava sobre todos os assuntos, respondia a todos os ataques, principalmente a todos os protestos, devido algumas vezes ao exagero da sua linguagem. Mas não era a mesma linguagem do seu predecessor na Constituinte nem seria a mesma linguagem daquele que lhe sucedeu depois de ter deixado o seu lugar na bancada da UDP.
Acácio Barreiros deixou a sua marca: em primeiro lugar, uma forma de fazer política. Conta-se que um dia ele terá perguntado ao Dr. Mário Soares, numa conversa, como é que ele podia defender, sendo de esquerda, as posições que tomava como primeiro-ministro, principalmente, julgo, por causa da aliança com o CDS. O Dr. Mário Soares ter-lhe-á respondido: "Meu querido Acácio, você é um Deputado minoritário. Ouço-o com admiração e atenção. Mas se fosse o contrário, se você fosse o primeiro-ministro e eu fosse o Deputado isolado a atacá-lo, teria eu a mesma sorte?"
Dizem que se deve ter iniciado nessa altura o longo percurso democrático de Acácio Barreiros, que acabou, a convite do Dr. Mário Soares, exactamente nas fileiras do PS.
Entretanto, esteve na Europa ao lado do seu amigo Deputado João Soares, foi secretário de Estado no governo de Guterres, foi autarca em alguns municípios e foi Deputado. Quem o conheceu através de todo o seu percurso sabe que foi um Deputado respeitado nesta Casa, que cumpriu todas as suas missões, mas a memória que fica gravada para este Parlamento é, efectivamente, a do Deputado da UDP. Um jovem Deputado revolucionário, Deputado de exigências consigo próprio e com os outros, mas sem nunca prejudicar a amizade mesmo com os adversários ideológicos, a dignidade de parlamentar de causas e, acima de tudo, a sua honestidade e o seu saber fazer as coisas até ao último dia - aliás, ainda na semana passada conversei com ele no refeitório da Assembleia. O Amigo Acácio tornara-se nos últimos tempos numa presença tranquila que lutava contra um inimigo implacável que acabou por triunfar.
Não obstante a morte, o cidadão e o político Acácio Barreiros fica entre nós. É um nome que o Parlamento nunca esquecerá porque foi um pilar forte da democracia que começou no 25 de Abril e acompanhou o seu percurso até ao seu último sopro.
Todos desejamos que fique em boa companhia, embora não fosse um crente, julgo eu. O único voto que faço pessoalmente e em nome do CDS-PP é que Deus o guarde bem junto de si.
À sua família aqui presente e ao PS, os nossos sentidos pêsames.

A Sr.ª Presidente (Leonor Beleza): - Tem a palavra o Sr. Deputado Bernardino Soares.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): - Sr.ª Presidente, Srs. Deputados, acompanhamos e subscrevemos o voto de pesar pela morte do Deputado Acácio Barreiros.
Este voto assinala o valor do seu percurso cívico, democrático, de intervenção política e social, seja na luta pela democracia e pela liberdade no tempo do fascismo seja na luta pela justiça social, pelas causas sociais, com a combatividade que sempre pôs em todos os momentos nas suas intervenções e nos seus combates e que simultaneamente se aliava a uma extrema afabilidade no trato com todos os seus Colegas, de ideias semelhantes ou diferentes, sendo também esta uma marca do Deputado Acácio Barreiros.
Julgo que ele cumpriu com grande brilho o mandato de Deputado que, durante muitos anos, exerceu nesta Câmara e que esse cumprimento brilhante fica como uma das marcas do seu percurso político, social e cívico.
À família de Acácio Barreiros e ao Partido Socialista, prestamos os nossos sentidos pêsames.