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5849 | I Série - Número 107 | 29 de Julho de 2004

 

Honrar a sua memória, hoje, é promover a sua genial e extraordinária obra, é dar notícia da sua vida de homem exemplar. Tão-só porque somos todos seus herdeiros e deveremos sê-lo também seus fiéis depositários.
À família do amigo e do camarada Carlos Paredes o PCP endereça as mais sentidas condolências.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra a Sr.ª Deputada Isilda Pegado.

A Sr.ª Isilda Pegado (PSD): - Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Carlos Paredes é o nome da guitarra a quem as gerações das últimas décadas têm prestado atenção, dado comoção e, com gáudio, reconhecido a genialidade de um homem.
A vida e obra de Carlos Paredes é o espanto perante a beleza que o homem encontra e, quando confrontado com os seus limites, as suas capacidades ou o seu percurso de vida, se supera a si próprio na criação do belo, do bom ou, em concreto, na execução da melodia.
É também a alma portuguesa. Não a nostalgia vã, mas o drama humano que a voz da guitarra canta, com elevação e nobreza, e torna presente a quem a escuta a grandeza humana.
Aos familiares e amigos de Carlos Paredes o Grupo Parlamentar do PSD apresenta sentidos pêsames nesta hora de luta e dor, hora que não apaga, antes torna mais vivo, o som da guitarra de Carlos Paredes.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra a Sr.ª Deputada Isabel Pires de Lima.

A Sr.ª Isabel Pires de Lima (PS): - Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Nunca o silêncio próprio de um voto de pesar é tão adequado como desta vez, porque de um músico e de um compositor genial se trata e a música é arrancada desse caos primordial que o silêncio constitui e que, de certo modo, a personagem algo absorta, tímida e silenciosa de Carlos Paredes parecia transportar.
Conjugou tradição e modernidade, soube cruzar a exploração do comprovado com a perseguição do novo, através de uma pujança criativa que as sua gigantescas mãos pareciam corporizar quando arrancava da guitarra sonoridades de uma subtileza de excepção, onde finura intimista e energia empolgante, a todo o momento, se entrecruzam, num leque que infinitamente se expande no diálogo com as outras séries culturais.
Foi um artista de uma definitiva contemporaneidade, até no que ao critério de inovação que utilizava diz respeito, na medida em que, para ele, o critério de verificabilidade do novo foi sempre mais o da falsificabilidade do que o da comprovação, o que lhe permitiu abrir caminhos novos em movimentos perpétuos.
Carlos Paredes - não há que recear dizê-lo - é um dos artistas portugueses de todos os tempos, que deu corpo, de um modo mais abrangente, à expressão de uma identidade portuguesa em termos absolutos, às nossas raízes, como um Camões, um Vieira ou um Pessoa souberam dar.
Não é, de resto, por acaso que oficiais do seu ofício, há dias, lhe chamavam um príncipe, um orfeu de hoje.
Se a sua música nos confronta com isto tudo, teremos nós capacidade para o ouvir não apenas como memória mas com as saudades do futuro que ele sempre manifestou como criador, cidadão e homem do mundo que foi?
O Grupo Parlamentar do PS associa-se, pois, ao voto de pesar que a Assembleia da República colectivamente manifesta e exprime aos seus familiares o maior pesar.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado João Teixeira Lopes.

O Sr. João Teixeira Lopes (BE): - Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Disse Frei Bento Domingues, aquando da morte de Sofia, que muitas vezes caímos na tentação de separar obra, eternizando-a, do homem e da mulher que a corporizaram.
De Carlos Paredes diremos que foi um homem de laços, de pontes, solidário, intrinsecamente solidário, empenhado, militante, alheio a honrarias vãs.
Da sua obra diremos que foi de uma síntese única e original, entre o popular e o erudito, a tradição e a inovação.
Dele diremos que foi aquele que nos trouxe, aquele que nos traz, sempre, através da música - como seria possível de outra forma? -, toda a melancolia dos verdes anos.
Carlos Paredes, homem e obra, um só, a absoluta unidade.

O Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado João Pinho de Almeida.