50 | I Série - Número: 092 | 8 de Junho de 2007
sobre a IVG ganhou o «Sim», mas é preciso ter em atenção que a abstenção foi superior a 50% e que hou-
ve mais cerca de 300 mil votos «Não» do que no referendo de 1998. Por outro lado, os vencidos deste refe-
rendo de 2007 são os defensores da vida das crianças, os quais são neste texto rotulados de «desculpas
conservadoras», ao mesmo tempo que se invoca ser o Dia Mundial da Criança, o que é evidentemente
chocante.
Começa este documento por afirmar: «Uma democracia avançada, um país moderno, só pode conside-
rar que o lugar dos adolescentes é na escola. A sua aprendizagem ainda está a decorrer». Ora, milhões de
pessoas dos países mais civilizados pensam que o lugar dos adolescentes é não só na escola, mas tam-
bém em casa, na família, em casas de familiares e amigos, em vários outros locais, e que a sua aprendiza-
gem deve ser feita sobretudo através da família e da escola.
A visão de «país moderno» é bastante arcaica, também porque não tem em consideração os avanços
científicos que se verificam, galopantemente, desde há cerca de um quarto de século.
4 – De facto, só a partir da década de 1980 se desenvolveu a ideia da importância das emoções como
contributo para a inteligência humana, o que deu origem ao fundamental conceito de inteligência emocional.
Por exemplo, Martin Seligman, da Universidade da Pensilvânia, Walter Mishel, da Universidade de Stan-
ford, e Peter Salovey, da Universidade de Yale, afirmam que «a inteligência emocional é a capacidade de
dominar as suas emoções, mas, sobretudo, de compreender as dos outros» e concordam que o QI (Quo-
ciente de Inteligência) apenas intervém em 20% dos factores que determinam o sucesso, estando os res-
tantes 80% ligados a outros elementos que incluem o que pode chamar-se inteligência emocional.
António Damásio, da Universidade de Iowa, diz que: «Ser racional, não é separarmo-nos das nossas
emoções. O cérebro que pensa, que calcula, que decide, não é diferente daquele que ri, que chora, que
sente prazer e repulsa. A ausência de emoções e de sentimentos impede-nos de ser verdadeiramente
racionais».
5 – Daqui a forte e recente relevância dada à inteligência emocional (QE), à educação para os afectos,
onde se deve incluir a educação sexual e não só, enfim a educação para a felicidade. A propósito do abor-
to, em plena campanha eleitoral para as legislativas, escrevi no Diário de Coimbra de 4 de Fevereiro de
2005: «O que é que todos nós desejamos? Ser felizes. A felicidade é cada vez mais objecto de estudos
científicos, que concluíram a amizade ser o tipo de relação que mais contribui para a felicidade. O que as
pessoas identificam como aquilo que as poderá fazer felizes não mudou nas últimas décadas. O importante
é ter saúde, um bom emprego, amor, família e amigos. E viver em alegria e paz interior.»
6 – Em 2004, um estudo sobre «Felicidade Científica» colocava Portugal como o quinto país mais pes-
simista entre 60 países do mundo, o que é extremamente preocupante, como também relatei nesse artigo
de jornal.
Há dias (4 de Junho de 2007), a agência Lusa noticiou que «entre 500 e 800 mil portugueses sofre de
doenças mentais» e que a Comissão Nacional para a Reestruturação dos Serviços de Saúde Mental consi-
dera que entre os piores problemas psíquicos estão as «perturbações psicóticas, perturbações afectivas e
problemas relacionados com álcool e droga». Sublinho a referência a «perturbações afectivas».
7 – Como noutros países, em Portugal estas alterações psíquicas verificam-se desde a infância e juven-
tude, e também casos de maus-tratos, negligência, bullying, outras dependências (como a Internet), pobre-
za, etc.
Urge, pois, estudar em profundidade as causas destas perturbações que tão profundamente afectam os
jovens actuais, prejudicando-os bem mais do que as gravidezes adolescentes, que são apenas parte e
reflexo dos problemas. Aliás, quando se ajudam as mães adolescentes esses nascimentos podem ser fonte
de imensas alegrias para pais e filhos e dão origem, muitas vezes, a óptimas famílias. É fundamental ensi-
nar educação sexual, mas também aumentar os financiamentos dos Centros de Apoio à Vida.
Com tantos e tão profundos problemas que afectam as crianças e os adolescentes, é redutor restringir a
recolha e sistematização da informação considerada relevante à gravidez na adolescência, devendo o estu-
do fazer um real diagnóstico sobre a problemática dos adolescentes em geral, melhor evitando a destruição
de tantos deles por não saberem, muitas vezes, gerir as suas emoções.
8 – É urgente, como escrevi na declaração de voto de 19 de Outubro do ano passado, a «adequada
prevenção do aborto», a qual evidentemente implica educação sexual, só que esta educação deve ser
sexual/afectiva e tal não está previsto no projecto de resolução n.º192/X (BE).
A informação agora prevista parece ser sexual/mecanicista, em vez de ser sexual/afectiva. Esta última
visa não só a saúde e a personalidade global dos indivíduos, mas dá um enfoque também sobre a nossa
componente afectiva, que tão decisiva é no sucesso das nossas vidas e das daqueles que interagem con-
nosco.
9 – A par da qualificação do ensino, que este Governo tanto tem implementado, penso ser essencial a
criação (longe de uma «vaga noção de escola dos afectos») de uma muito bem estruturada disciplina obri-
gatória de educação para a felicidade, assunto que venho expondo há cerca de um ano, designadamente à
Sr.ª Ministra da Educação. Esta disciplina incluiria a educação sexual, normas de vida saudável, mas tam-
bém deveria contrariar e prevenir o empobrecimento dos valores humanos, ser contra a violência, incenti-
vando relações interpessoais gratificantes, altruístas, abertas, disponíveis, a favor da verdade, da paz, apro-
ximando-nos o mais possível do maior desejo de todos nós, a felicidade, nos moldes em que a ciência nos