15 | I Série - Número: 003 | 22 de Setembro de 2007
Risos do PCP e de Os Verdes.
Mas acabou-se o mito e acabou-se o encanto. E penso que este é o problema de fundo que está colocado.
O senhor ganha sempre os debates nesta Assembleia da República, não por ser o último a falar mas porque apresenta sempre um País que está a ir bem. No entanto, há este relatório, que constitui uma «nódoa» para a sua governação, uma governação do PS onde as desigualdades atingiram uma maior acentuação.
Vozes do PCP: — Muito bem!
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Sr. Primeiro-Ministro, deixe-me, ainda, dar-lhe um exemplo do brilho que ofusca e da realidade que ensombra.
Falei-lhe no ano passado da nossa preocupação relativamente à situação de injustiça para muitas crianças face à ameaça do encerramento de escolas de ensino básico no interior do País, no caso concreto, no concelho de Cinfães. Daí me respondeu, de forma olímpica, que não senhor, que estava tudo tratado, que havia alternativas. Aliás, o Sr. Primeiro-Ministro até foi recentemente inaugurar uma nova escola, ali ao lado de Cinfães, a única nos 24 concelhos de Viseu, município que viu encerrar centenas de escolas e jardins de infância.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Ora bem!
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Mas ficou brilhante na fotografia!… Em vários locais do concelho de Cinfães há escolas a funcionar em contentores, que também servem de refeitório, e há transportes péssimos para as crianças que saem das suas aldeias devido ao encerramento das escolas,…
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — É claro!
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — … com perda de horas de convívio familiar e de brincadeira.
Falei-lhe até de Paradela, na freguesia de Nespreira, cujas crianças foram parar a Lourosa. Só que em Lourosa não há escola. Há uma casa de habitação degradada onde os professores quase fazem «milagres».
«Coisas miúdas», dirá, com certeza, o Sr. Primeiro-Ministro, tão preocupado com a alta política. Mas é por estas e por outras que temos a «medalha de campeão» das desigualdades silenciadas e, aqui sim, silenciadas pela propaganda.
Um dia, com certeza, o Sr. Primeiro-Ministro escorregará também, e isso demonstrará que, apesar do «brilho dos sapatos», por baixo, as coisas não estão nada bem.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, diz o Sr. Deputado que estava quase a cair na tentação de dar os parabéns ao Governo pelo facto de Portugal estar hoje cotado como um dos países na linha da frente na revolução tecnológica na Administração. Pois, Sr. Deputado, não caia em tentações! Não é preciso dar os parabéns a ninguém.
Quero sublinhar estes resultados porque eles são mobilizadores, porque eles incentivam. E incentivam e mobilizam o País na direcção certa, porque esta matéria — não tenhamos dúvidas — é absolutamente decisiva para o sucesso e para a vitória do País no contexto de uma economia global.
Diz o Sr. Deputado que, em vez de falarmos destes sucessos, deveríamos falar das desigualdades, e citou um relatório. Sr. Deputado, peço-lhe um pouco mais de seriedade. O Sr. Deputado citou um relatório que é de 2005, com dados referentes a 2004.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Não, não!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Repito, Sr. Deputado, é um relatório de 2005, com dados de 2004!
Protestos do PCP.
É por isso que lhe peço seriedade política, Sr. Deputado.
Eu não esqueço esse domínio das desigualdades,…
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Nunca fala é nele!