40 | I Série - Número: 042 | 1 de Fevereiro de 2008
Ora, o que é que dizem — e por isso o Sr. Primeiro-Ministro e o Sr. Ministro de Estado e das Finanças não responderam — as resoluções que aprovam a constituição dos secretariados técnicos? Dizem que a reforma da Administração Pública é uma brincadeira, porque vamos contratar estas 600 pessoas fora do quadro dos excedentes, fora da Administração Pública, com um quadro salarial diferente do da Administração Pública.
São mais 600 jobs for the boys para continuar a concentrar toda a decisão numa matéria que devia ser do interesse de todos.
Aplausos do PSD.
O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, temos ainda duas inscrições para declarações políticas ao abrigo do n.º 2 do artigo 76.º do Regimento.
Para proferir a sua declaração política, tem a palavra o Sr. Deputado Nuno da Câmara Pereira.
O Sr. Nuno da Câmara Pereira (PSD): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados: Naquele primeiro dia de Fevereiro de 1908, rompera a manhã um pouco nebulada, suavizando-se durante o dia, perante o sol rompante, que sorria para a primavera que se aproximava. Daí a 48 dias, festejavam-se os 21 anos do Príncipe Real D. Luís Filipe.
Enchera-se de claridade o espaço, que por vezes aquecia, como se fosse estalar uma trovoada, mas logo as nuvens, empurradas pela doce brisa vinda do Tejo, iam descobrindo o astro-rei.
Partira de Vila Viçosa a Família Real, pelas onze da manhã, no comboio que os transportaria ao Barreiro.
Aqui embarcaram no vapor D. Luís, que atracou no Terreiro do Paço, por volta das cinco da tarde.
A Rainha subiu para o landau, sentando-se a seu lado o Rei, defronte do qual ficou o filho primogénito, e o mais novo diante da Mãe.
Avançaram as carruagens lentamente e, dobravam os sinos da igreja da Ordem Terceira, quando de repente tudo acontece… Um atentado vilíssimo e miserável cometido nas pessoas de Sua Majestade El-Rei e de Sua Alteza o Príncipe Real.
Quando o landau da Família Real atingia as arcadas próximas da Rua do Arsenal, às 5 e 25 da tarde, um bando de exaltados anarquistas espingardeava a carruagem real, assassinando o Rei e o Príncipe Real.
A Nação fica de luto.
É chamado a cumprir o preceito constitucional o que veio a ser o último Rei de Portugal, o mais novo e último dos Braganças constitucionais, D. Manuel II.
D. Carlos I foi assassinado, exautorado, cuspido nas páginas mentirosas dos livros produzidos para lisonjear desvairos, cimentar interesses e tentar calar inapagáveis remorsos.
Atiraram para um vazadouro a reputação do Rei, esses manhosos ambiciosos que souberam enfeitiçar a ingénua receptividade das multidões, perante a sua rouquenha e falsa protecção dos mais pequenos.
De Bernardino Machado retemos: «Raras vezes tão preciosos dons pessoais esmaltaram a coroa, como hoje em Portugal. O Rei dá o exemplo de estudo, do gosto pelos prazeres intelectuais, naturalista e pintor apreciável, e até o exemplo do enrijamento físico que tão nos é necessário.
Quase todos têm que aprender com ele a amar por igual os exercícios do espírito e do corpo, e a prepararse assim cabalmente por meio de uns e de outros, a bem servir a Nação.
Modesto no trato íntimo, a sua palavra tem vibração, sonoridade e calor em meio das assembleias solenes.
Não fraquejando nunca nas alturas difíceis, a sua coragem é simpática».
Fialho de Almeida, apreciava assim o artista, o pintor Real: «(…) no grupo novo o lugar de honra pertence ao Rei D. Carlos, cujos pastéis passam de prenda a categoria de um verdadeiro trabalho de arte.
O curioso acabou-se e agora é necessário apontá-lo entre os pouquíssimos que neste país de costa, verdadeiramente sentem a marinha e entre os raros que na exposição se esforçaram por pintar em português».
Rocha Martins disse a este propósito: «Pois ao homem que assim se descrevia, molestaram-no no seu legítimo orgulho, na sua intelectualidade, negaram-lhe os talentos, unharam-no, antes de o ferirem de morte; imolaram-no em tudo, fizeram dele uma vítima dos mais ruins ódios políticos extravasados como ácidos corrosivos sobre a sua personalidade, apontaram-no às balas, cuspiram-no, caluniaram-no, chacinaram-no.