23 | I Série - Número: 086 | 23 de Maio de 2008
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Esta é, pois, uma questão que gostaria de colocar: não considera que há responsabilidades próprias da política e das medidas do Governo? Em relação a isso, começo por colocar uma questão hoje já aqui referida, mas que coloco com uma grande franqueza e que tem que ver com os combustíveis.
Nós percebemos que a direita não quer que se toque nos lucros das empresas petrolíferas, não quer que se toque na especulação. É evidente que percebemos isso, mas tal não invalida uma outra questão, que é a de saber como é que é possível, por exemplo, que a gasolina tenha aumentado mais do que o barril de petróleo. Explique lá esta contradição, Sr. Primeiro-Ministro! Um outro exemplo muito concreto: como é que se entende que a GALP, que em todo o lado compra o petróleo ao mesmo preço, aplique um preço em Elvas e outro em Badajoz? Porquê esta situação? Porquê esta discrepância, com todos os efeitos que isto tem na economia, designadamente na economia raiana? Sr. Primeiro-Ministro, em relação à questão dos combustíveis, tivemos conhecimento que os armadores e os sindicatos dos pescadores resolveram paralisar por tempo indeterminado, a partir do fim do mês, tendo em conta o carácter insuportável do preço do gasóleo.
Que diz a este sector, Sr. Primeiro-Ministro? Uma outra questão também importante tem que ver com o aumento do custo de vida. Sabemos da situação insustentável que hoje muitas famílias portuguesas vivem, particularmente quem vive do seu salário, da sua reforma ou da sua pensão. Em relação a isso, nas medidas que anunciou, nem uma palavra, Sr. PrimeiroMinistro! O senhor falou da actualização das pensões, tendo em conta que a inflação pode ser maior, mas não disse uma coisa que deveria dizer, até por razões de sinceridade e de seriedade: que esses aumentos intercalares também dependem do crescimento do PIB. Já não se lembra da sua medida?
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Esqueceu-se dessa parte!
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Neste momento, temos um PIB a reduzir.
Que medidas para combater esta situação do aumento do custo de vida? A pergunta que nos fazem muitas vezes, Sr. Primeiro-Ministro, é a seguinte: «Onde é que isto vai parar?».
Onde é que isto vai parar, Sr. Primeiro-Ministro? As pessoas têm uma vida insustentável e não há qualquer medida de valorização dos salários e das pensões.
Deixo-lhe esta reflexão.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Primeiro-Ministro.
O Sr. Primeiro-Ministro: — Sr. Presidente, Sr. Deputado Jerónimo de Sousa, o senhor costuma acabar as suas intervenções dizendo «deixo-lhe esta reflexão». Pois eu deixo-lhe também uma.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Não me diga que se ofendeu!
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Não nos diga que é proibido reflectir!
O Sr. Primeiro-Ministro: — Não, não estou nada ofendido! Era o que faltava! Sr. Deputado, deixo-lhe também a seguinte reflexão: porque é que o Sr. Deputado não se refere às medidas que nós anunciámos? Anunciámos um aumento de 25% do abono de família para as famílias mais carenciadas, para 900 000 famílias.
É uma medida boa, mas para não ter impacto ouvem-se os seus colegas, lá atrás, a fazer uma barulheira, uma vozearia…