20 | I Série - Número: 102 | 4 de Julho de 2008
que é isso que valoriza o debate democrático e o funcionamento correcto dos órgãos de soberania nas suas relações entre si.
Agora, Sr. Deputado, respeito que tenha querido trazer-nos aqui uma apresentação da forma como o seu grupo parlamentar vai desenvolver a sua actividade, mas a verdade é que não há forma sem conteúdo. E é preciso olharmos todos — no País, olhamos todos — para o que é o conteúdo do PSD neste momento.
O PSD diz, com muita facilidade, o que não quer, mas com mais dificuldade diz o que quer. E se o Sr. Deputado diz, e bem, que ontem da entrevista do Sr. Primeiro-Ministro não saiu qualquer ideia que vá resolver os problemas principais do País, penso que podemos dizer o mesmo da entrevista que ocorreu no dia anterior.
Protestos do PSD.
Compreendemos bem a dificuldade do PSD! A dificuldade do PSD é a de querer aproveitar a justa indignação com a política deste Governo mas não querer dizer que a sua política é em tudo semelhante àquela este Governo pratica.
Vozes do PCP: — Exactamente!
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — E esse é que é o problema! Permita-me que lhe diga mas essa é que vai ser a sua principal dificuldade, até ao fim da Legislatura: dizer que está contra o Governo sem querer dizer que, em muitas coisas, está de acordo com aquilo que o Governo pretende e propõe.
Vozes do PCP: — Muito bem!
Protestos do PSD.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Não basta dizer, Sr. Deputado Paulo Rangel, que o PSD quer uma política de verdade e de liberdade pessoal, uma vida melhor — isso está tudo muito bonito! Mas nós queremos é saber se o PSD está a favor ou contra o Código do Trabalho; se o PSD está a favor ou contra uma mais justa tributação dos lucros da banca; se o PSD está a favor ou contra a preservação do Serviço Nacional de Saúde ou da sua progressiva privatização; se o PSD está a favor ou contra a continuação das privatizações de empresas essenciais, como este Governo está a fazer; se o PSD está a favor ou contra a política de direita do PS — que é a sua, é a que seguiram sempre — ou se o PSD vai trazer aqui alguma novidade, de que ninguém está à espera, porque ninguém espera que do PSD venha a tal «janela» de expectativa e de esperança, porque não há expectativa com políticas semelhantes, não há esperança em partidos que sempre apresentaram a mesma política, com a qual é preciso romper.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Paulo Rangel.
O Sr. Paulo Rangel (PSD): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Bernardino Soares, permita-me dizer-lhe — já agora, pegando mesmo nesta frase final — que se há partido que nunca nos causa surpresa, esse é o PCP.
Vozes do PSD: — Exactamente!
O Sr. Paulo Rangel (PSD): — Esse é o único de todos que não nos causa surpresa alguma!
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Isso é um elogio!
O Sr. Paulo Rangel (PSD): — Claro, é um elogio também, vai a favor da coerência, mas é uma coerência tão férrea, tão férrea, tão férrea que nunca consegue surpreender seja quem for!