28 | I Série - Número: 102 | 4 de Julho de 2008
Temos hoje mais desempregados, em número absoluto, do que quando este Governo tomou posse.
Aplausos do BE.
Ainda ontem, a OCDE veio dizer que Portugal continuará a assistir ao aumento do desemprego ao longo de 2008 e, há dois dias, soube-se que o desemprego, no último mês, aumentou.
É por isso que o Primeiro-Ministro nunca se refere ao desemprego nem ao trabalho temporário e, quando fala de precariedade, é para explicar às empresas como é que podem fazer para legalizar o abuso.
O desemprego e a precariedade são a marca maior desta governação falhada do Partido Socialista…
Vozes do BE: — Muito bem!
O Sr. José Moura Soeiro (BE): — … e não há truque de retórica que esconda esta realidade. O défice social a que o Primeiro-Ministro, ontem, tentou fugir é, precisamente, essa precariedade, a pobreza e as desigualdades.
Nenhum jogo com os números permite esconder o que todos os portugueses sabem: Portugal permanece o País mais desigual da Europa. O último relatório do Eurostat revela mesmo que Portugal é o único país da Europa com um fosso entre ricos e pobres maior do que o dos Estados Unidos.
Como mostra, aliás, um estudo coordenado pelo ex-Ministro Bruto da Costa, apresentado hoje mesmo em livro, entre 1995 e 2000, 46% das famílias portuguesas passaram pela pobreza.
Ao mesmo tempo que nos confrontamos com situações alarmantes de pobreza, denunciadas pelas instituições internacionais, é batido o recorde do número de milionários portugueses na lista dos mais ricos do mundo. Que orgulho!… Os quatro portugueses mais ricos têm só para si o equivalente a 5% do PIB português.
São 10 000 milhões de euros, num país em que o índice da desigualdade é o maior da Europa. E os mais ricos ainda ficaram mais ricos com as privatizações ao desbarato que este Governo lhes ofereceu.
Bem pode o Primeiro-Ministro vir à televisão dizer que Portugal está cada vez melhor que não é verdade, a realidade desmente-o. A vulnerabilidade social aumentou significativamente, há cada vez mais categorias de novos pobres, muitos dos quais são vítimas do sobreendividamento bancário e do despedimento.
E não é apenas o Bloco de Esquerda que o constata. Todas as instituições denunciam publicamente o aumento do número de famílias que recorrem à distribuição de alimentos.
Isabel Jonet, do Banco Alimentar Contra a Fome, veio afirmar que a situação estava a tornar-se «insustentável» e que o Banco Alimentar já não conseguia dar resposta aos pedidos de apoio de instituições, sendo que responde já a cerca de 232 000 pessoas.
Também a AMI, no Porto, denunciou que, entre 2006 e 2007, os pedidos de ajuda duplicaram e 60% das pessoas que pedem ajuda à AMI vão em busca de alimentos.
A crise social, o aumento da pobreza e o aumento do custo dos bens alimentares primários, muito superior ao aumento dos salários ou das pensões, coloca centenas de milhares de concidadãos na condição mais severa da pobreza, que é a fome.
Perante este drama social, perante o endividamento, o aumento da pobreza, as dificuldades, que resposta tem a política liberal para dar às pessoas? Os responsáveis do Banco Central Europeu (BCE), sentados no conforto das suas poltronas, decidiram esta manhã subir as taxas de juro em mais 0,25%. Os responsáveis do BCE defendem que, e passo a citar, «é preciso evitar que a actual alta da inflação pressione os Governos a serem mais generosos nos aumentos salariais»! Extraordinário!… «é preciso evitar que a actual alta da inflação pressione os Governos a serem mais generosos nos aumentos salariais»! «Generosos», os Governos?! Sabemos que os salários se têm perdido todos os anos e percebemos bem o que estes banqueiros nos estão a dizer: os desempregados, os pobres, os trabalhadores que paguem a crise.
Esta política monetária do Banco Central Europeu é para manter a injustiça e agravar as condições de vida das pessoas. E esta política monetária tão insensível e tão brutal tem responsáveis: José Sócrates e os seus apoiantes da bancada do Partido Socialista são exactamente os responsáveis pelo aumento das taxas de juro, porque fizeram os tratados que consagram este poder não democrático do Banco Central Europeu.