43 | I Série - Número: 062 | 11 de Março de 2011
O Sr. António Filipe (PCP): — Não sabia que o Primeiro-Ministro era contra os submarinos! E o Ministro da Defesa Nacional também é contra os submarinos?
O Sr. Presidente: — Srs. Deputados, passamos ao período de intervenções.
Tem a palavra o primeiro orador inscrito, Sr. Deputado José Manuel Pureza.
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Sr. Presidente, Sr.as e Srs. Deputados, Sr. Primeiro-Ministro, Sr.as e Srs. Membros do Governo: Não seria necessário, mas o debate até agora ocorrido mostra como o Partido Socialista pretendeu transformar a discussão sobre as condições de uma governação falhada, cada vez mais navegação à vista, numa discussão sobre a natureza e a conveniência da moção de censura que o Bloco de Esquerda tomou a iniciativa de apresentar.
Desculpem o incómodo, mas não! Percebo o interesse e o quanto seria cómodo para o PS uma oposição de esquerda que vá dizendo umas coisas aqui, lembrando uns princípios acolá, mas só, claro, até onde é conveniente e cordato. Lamentamos mas não fazemos política pela metade, não temos vocação para a irreverência inconsequente, não desistimos de nos batermos por alternativas.
O Sr. Francisco Louçã (BE): — Muito bem!
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — É por isso que o debate que aqui, hoje, nos convoca não é o de saber se o timing da censura ao Governo era o mais conveniente para, nas palavras absolutamente impagáveis de Pedro Passos Coelho, o PSD ir ao «pote» do poder. Não, estamos aqui para discutir as condições da governação de um bloco central que governa sem assumir nem a paternidade do seu legado nem a responsabilidade pelos seus resultados.
E a verdade é que PS e PSD são há tempo demais os mandatários de quem realmente manda em Portugal,»
O Sr. Francisco de Assis (PS): — É extraordinário! Isso é um insulto ao povo!
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — » PS e PSD revezam-se há tempo demais no cumprimento da mesma receita e dessa receita resulta o sacrifício de gerações perdidas para o entusiasmo da democracia. PS e PSD são a «situação», e o situacionismo bem comportadinho, obediente, razoável que une as duas bancadas do centro tem sido o caldo de cultura que arrasta a grande maioria do País para o abismo. É em nome dessa grande maioria do País que vimos hoje, aqui, dizer basta! A «situação» merece e tem toda a censura do País!
Aplausos do BE.
Alguém que aterrasse hoje vindo de Marte, ainda julgaria que os dois partidos da «situação» não estiveram juntos em todas as decisões centrais da vida política e económica nacional no último ano e meio. Mas estiveram! Estiveram juntos nos dois Programas de Estabilidade e Crescimento que aumentaram os impostos e diminuíram os apoios aos desempregados; estiveram juntos quando retiraram o abono a quase meio milhão de famílias, diminuíram o apoio aos estudantes mais carenciados e aumentaram os custos da saúde; e estiveram novamente juntos no Orçamento do Estado que aumentou novamente os impostos, diminuiu salários e cortou ainda mais nos apoios sociais.
Os dois partidos da «situação» só rivalizaram entre si na proclamação pública do seu profundo pesar pela necessidade imperiosa de levar o País ao fundo. Um pediu desculpa, o outro garantiu que nem conseguia dormir, mas ambos nos juraram que os sacrifícios exigidos eram a única forma de sossegar a especulação dos mercados. Sabemos o resultado: os juros nunca pararam de subir, ora incendiados pela nova «imperatriz da Prússia», ora pela antevisão da recessão criada pelas medidas de austeridade.
O Governo do PS faz lembrar os curandeiros da Idade Média, que, independentemente da doença ou dos sintomas, prescreviam sempre o mesmo: a sangria do doente. O resultado, como não podia deixar de ser, era o esperado: não morrendo da doença, morriam da pretensa cura!