46 | I Série - Número: 062 | 11 de Março de 2011
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Isso é um álibi!
O Sr. Francisco de Assis (PS): — Não é um álibi, é um elemento determinante da crise com que estamos confrontados. Não é isso também razão para que desvalorizemos os factores internos que se tornam mais evidentes quando expostos à luz de uma crise internacional mais grave que os acentua. E este é o momento, justamente, para enfrentarmos esta situação e para procurarmos encontrar as respostas para estes problemas.
Mas a nossa primeira recusa tem de ser a recusa do simplismo na descrição da realidade. Essa é a primeira recusa e o primeiro sinal de dizermos «não» a este populismo que, de forma absolutamente irresponsável, pretende instalar-se na nossa vida política.
Aplausos do PS.
Este caldo de cultura, de facto, favorece os demagogos, favorece os irresponsáveis, favorece aqueles que se limitam a enunciar os problemas, como se da simples enunciação dos problemas resultasse a resolução desses mesmos problemas; que se limitam a fazer uma descrição parcial da realidade, como se dessa descrição resultasse a própria possibilidade de resolução dos problemas com que a realidade nos confronta. É essa recusa da complexidade, é essa recusa da dificuldade que leva, justamente, a que os partidos, em lugar de apresentarem propostas, façam orações; em lugar de apresentarem soluções, façam eternas proclamações que são vazias, de pura retórica vazia, como aquelas a que assistimos aqui, ao longo desta tarde, por parte dos Srs. Deputados do Bloco de Esquerda.
Aplausos do PS.
Essa irresponsabilidade também conduz ao sectarismo, e há um sectarismo que leva a que o Bloco de Esquerda recuse o essencial da política, que é o sentido do compromisso como forma de gerir o conflito que inevitavelmente existe em sociedades complexas como aquelas em que vivemos.
É por essa absoluta incapacidade de se abrir às razões dos outros – porque se fecham em dogmas, em representações primárias da realidade, do mundo, do País em que estão inseridos – que, depois, se revelam totalmente incapazes de negociar, porque, para eles, toda a negociação é uma traição e todo o compromisso é uma cedência, que imediatamente é catalogada de eticamente repugnante e moralmente repulsiva.
O Sr. Artur Rêgo (PS): — Muito bem!
O Sr. Francisco de Assis (PS): — É justamente contra isso que também temos de nos bater e é por isso que estamos neste momento de discutir uma moção, uma moção que, como o Bloco de Esquerda fez questão de salientar desde o primeiro momento, não era para levar a sério, na medida em que a primeira preocupação do Bloco de Esquerda foi a de criar condições nesta Câmara para que não houvesse, da parte de outros partidos, a mais pequena vontade de contribuírem para que a moção fosse aprovada e o Governo caísse.
O Sr. Artur Rêgo (PS): — Bem lembrado!
O Sr. Francisco de Assis (PS): — Porém, sendo verdade que esta é uma moção que o Bloco de Esquerda queria que não se levasse a sério, temos que a levar a sério, por uma razão muito simples: porque neste acto, nesta postura e neste discurso, infelizmente, está a essência do Bloco de Esquerda.
Aplausos do PS.
É a essência de um partido radical, de um partido de uma esquerda dogmática, de uma esquerda fechada aos tempos, de uma esquerda que se recusa a olhar para Portugal e para a Europa e a perceber as