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45 | I Série - Número: 062 | 11 de Março de 2011

Talvez melhor do que ninguém, Natália Correia causticou, na Queixa das jovens almas censuradas, essa capitulação diante da monstruosidade tida por inevitável.
Escreveu ela: «Dão-nos um cravo preso à cabeça/ e uma cabeça presa à cintura/ para que o corpo não pareça/ a forma da alma que o procura».
Hoje, é de novo essa queixa funda que soa lá fora, como um clamor: o Bloco de Esquerda, com esta moção de censura, dá voz e corpo a essa alma que não desiste de achar que a vida pode ser de outra forma.
Pode mesmo! Assim haja vontade e coragem políticas para fazer as escolhas certas. É esse o lado de que nós estamos.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Francisco de Assis.

O Sr. Francisco de Assis (PS): — Sr. Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, Srs. Membros do Governo, Sr.as e Srs. Deputados: Três palavras, de forma muito clara, resumem esta moção de censura, apresentada pelo Bloco de Esquerda — oportunismo, sectarismo e irresponsabilidade. E tudo isso ficou bem patente na intervenção que acabámos de ouvir ao Sr. Deputado José Manuel Pureza.
Oportunismo logo na génese desta própria moção, porque todos nos recordamos de que esta moção começou por ser uma moção contra o Partido Comunista Português,»

Protestos do BE.

» dado que o Partido Comunista tinha manifestado vontade, intenção, em abstracto, de apresentação de uma moção e, a seguir, apresentaram essa moção.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Deixe o PCP descansado!

O Sr. Francisco de Assis (PS): — O Partido Comunista ainda me permite, certamente, que eu fale sobre a realidade política do País, mesmo quando ela envolve o Partido Comunista»

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Posso fazer um aparte, não?!

O Sr. Francisco de Assis (PS): — É que eu não tenho nenhum sectarismo em relação ao PCP e, por isso, falo dele com toda a consideração e respeito.
Oportunismo, na apresentação da moção, irresponsabilidade e sectarismo.
Infelizmente, vivemos, no nosso País e por toda a Europa, tempos complexos e tempos muito difíceis. E, verdadeiramente, não está em causa apenas um projecto do Governo. Hoje, há um caldo de cultura por essa Europa fora que pode pôr em causa o nosso modelo de sociedades abertas, democráticas e pluralistas, o nosso modelo de economias de mercado com Estados sociais activos. E essa ameaça surge tanto na extrema-direita como na extrema-esquerda.

O Sr. Bernardino Soares (PCP): — É!»

O Sr. Francisco de Assis (PS): — Basta olhar para o panorama europeu para perceber isso mesmo. E ela assenta, desde logo, numa descrição simplista da realidade.
Esse é o primeiro triunfo de todos os populismos: é quando conseguem convencer-nos de que a realidade, afinal, é mais simples do que ela realmente é, de que a realidade é qualquer coisa que se pode apresentar de uma forma bastante primária. E é isso que tem acontecido, aqui, na forma como tem sido apresentada a nossa realidade económica e financeira.
Não é possível — já o disse há pouco, na pergunta que fiz ao Sr. Primeiro-Ministro — fazer a economia da gravíssima crise internacional para explicar e compreender a crise financeira com que estamos confrontados.
Não é possível!