44 | I Série - Número: 062 | 11 de Março de 2011
Aplausos do BE.
E assim está, Sr.as e Srs. Deputados, a obstinação deste consenso recessivo que faz a «situação». Cortase nos salários para contentar os mercados e estes sobem os juros queixando-se dos efeitos recessivos das medidas aprovadas, levando o Governo a cortar ainda mais nos direitos sociais.
Esta espiral recessiva, sem fim à vista, conduziu-nos ao ponto em que estamos. O Estado vai pagar mais 249% de juros, face a Setembro passado, pelas obrigações do tesouro ontem vendidas em leilão. O Governo começou o seu primeiro mandato a prometer mais 150 000 empregos e o ano corrente terminará com mais de 800 000 desempregados.
O programa eleitoral do PS prometia o reforço dos apoios sociais e o Governo, com o apoio do PSD, mostra hoje, orgulhoso, à Chanceler Merkel quanto já conseguiu poupar em subsídios de desemprego, em abonos de família ou em outros apoios sociais de sobrevivência. O consenso recessivo é a política da «situação» e PS e PSD são os seus intérpretes.
É certo que à direita se vive em negação cínica. Chegou quase a ser comovente ver a forma como ontem as bancadas da direita, incluindo a do antigo director de O Independente, competiram ontem entre si para ver quem aplaudia mais intensamente o discurso de Cavaco Silva. Mas, a negação tem destas coisas: a forma enérgica como o PSD vibrou, ontem, com o Presidente da República, quando este defendeu que «há limites para os sacrifícios que se podem exigir ao comum dos cidadãos», cobre, realmente, de ridículo as suas escolhas políticas mais recentes.
«Exercício notório de hipocrisia política», dizia, há pouco, o Sr. Deputado Miguel Macedo. Pois é! Tem toda a razão, foi isso mesmo que os senhores fizeram! Sr.as e Srs. Deputados: A solução do Governo para reduzir a despesa tem sido a da diminuição dos salários e de outras despesas com pessoal na função pública, incluindo a aceleração do aumento da idade da reforma para os trabalhadores do Estado, e a redução do investimento público. Mas ambas as soluções padecem de um defeito comum: não se dirigem a resolver as causas da recessão, pelo contrário, acentuam a distorção da economia e reduzem a procura, prolongando efeitos recessivos, além de procederem a uma transferência suplementar de rendimento de quem tem sempre menos para quem tem sempre mais.
Aplausos do BE.
Não há inevitabilidades em política. Nós não aceitamos estar condenados à inevitabilidade do consenso recessivo que anima PS e PSD. O Bloco de Esquerda censura o Governo em nome de uma alternativa.
O Sr. Artur Rêgo (PS): — Onde é que está essa alternativa?!
O Sr. José Manuel Pureza (BE): — Ela existe! Aqui vai: a de uma economia decente, que aposte na redução do défice, cortando no desperdício e tributando os lucros, nomeadamente do sector financeiro, que os senhores insistem em deixar escapar aos sacrifícios exigidos a todos os trabalhadores.
Aplausos do BE.
Uma economia que não deprima o consumo interno, com a redução dos salários e o aumento dos impostos, mas que anule os apoios fiscais injustificados às maiores empresas, que tenha a decência de assumir que o trabalhador com funções permanentes não pode ser um precário.
Aplausos do BE.
Sr. Presidente; Sr.as e Srs. Deputados: Este é o tempo de encarar de frente o situacionismo derrotista e de lhe opor a alternativa do cuidado concreto com os mais novos, a quem ele roubou horizontes, e com os mais velhos, a quem ele condenou à exclusão.