I SÉRIE — NÚMERO 7
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os alunos que beneficiam da ação social escolar têm direito ao livro, mas vão ter de entregá-lo. Portanto, ainda
fazem um recuo maior em relação a um direito fundamental, que é o direito à educação.
Não podemos deixar de ler aqui a seguinte afirmação: «O dever de assegurar o ensino básico universal
gratuito é a primeira e mais importante obrigação do Estado para garantir o direito ao ensino, a obrigação de
criação de uma rede escolar de estabelecimentos públicos, mas, também, a criação de condições para que a
obrigatoriedade e a gratuidade integral, incluindo material escolar, seja garantido». Quem diz não é o PCP,
mas, sim, os constitucionalistas Vital Moreira e Gomes Canotilho.
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa
Apolónia.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados, julgo que é justamente
por aqui que temos de começar. Isto é, por verificar que há inúmeros alunos, nas escolas públicas
portuguesas, que iniciaram o seu ano letivo e nesta fase do ano letivo ainda não têm manuais escolares.
Há escolas que determinaram que vão dar um período de 1, 2 ou 3 meses, ou seja, durante o primeiro
período escolar, vão dar esse período de tolerância para não serem marcadas faltas de material, porque
sabem que há muitas crianças e famílias que não podem adquirir os manuais escolares. Ora, será muito fácil
compreender que, neste universo, o que estamos a fazer é a afetar profundamente o sucesso escolar de
muitas crianças e de turmas inteiras.
Se não tocarmos a raiz do problema para aferir da sua solução, então vamos por um mau caminho. E
houve famílias, inclusivamente — também é bom lembrar —, que fizeram gastos exorbitantes para que os
seus educandos tivessem os manuais escolares no início do ano letivo e que se privaram de muitas outras
coisas essenciais, porque o dinheiro não estica para tudo.
Sr.as
e Srs. Deputados, é por isso que Os Verdes reapresentam o seu projeto de lei para criar uma bolsa de
empréstimos de manuais escolares, onde os encarregados de educação, no início de cada ano letivo, teriam
oportunidade de fazer informação à escola se estariam ou não interessados nessa modalidade, para que a
escola pudesse adquirir esses manuais em função da procura, ou seja, das necessidades e das vontades,
obviamente, dessas famílias e desses encarregados de educação.
É um sistema que é fácil de implementar, assim haja vontade política para o efeito, que é o que não tem
havido! Sr.as
e Srs. Deputados, há precisamente um ano atrás, dizia uma Sr.ª Deputada do PSD o seguinte:
«Só o facto de o atual Governo ter iniciado funções a escassos dias do início do ano letivo 2011/2012 não
permitiu que se conseguisse implementar este ano o desejável sistema de empréstimo dos manuais
escolares». Mas nós já estamos no ano seguinte e ele não está implementado!?
Depois, os Srs. Deputados Inês Teotónio Pereira e Michael Seufert também garantiram aqui, no Plenário
da Assembleia da República, que o Governo iria criar uma bolsa universal para este ano letivo…
O Sr. Michael Seufert (CDS-PP) — Não, não!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sim, sim! Para este ano letivo, para implementar já no próximo
ano letivo.
O Sr. Michael Seufert (CDS-PP): — Universal, não!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Ah, pois é!… Convêm lembrar todas as palavras.
As promessas estão feitas. Lamentavelmente, na prática, nada está feito!
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Delgado
Alves.