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I SÉRIE — NÚMERO 8

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O Sr. Honório Novo (PCP): — Duas!

O Sr. Primeiro-Ministro: — Desta vez, a novidade é a coincidência de duas moções de censura,

provenientes da ala mais à esquerda do Parlamento. À partida, o sentido das duas moções de censura é claro.

Suponho que são contra porque preferem uma política diferente, uma política sem austeridade. Mas isso não é

suficiente para responder aos problemas do País. Posta a discussão nesses termos, podemos dizer que todos

em abstrato preferem uma política sem austeridade. Se olhássemos para o País desta perspetiva tão

distanciada, teríamos até de agradecer a estes partidos por repetirem o óbvio, por elevarem o nosso discurso

político ao nível daquilo que ninguém nega e com que todos concordam.

Mas o problema é que a alternativa à austeridade, excluindo uma correção miraculosa dos nossos défices

e a redução imaginária da nossa dívida, é o acesso fácil a financiamento. Onde querem estes partidos

encontrar esse financiamento?

Haveria duas possibilidades. A primeira seria o acesso aos mercados financeiros, que continua fortemente

condicionado pelos erros cometidos no passado e que estes partidos querem repetir e acentuar.

Vozes do PSD: — Muito bem!

O Sr. Primeiro-Ministro: — A política seguida por este Governo tem afirmado gradualmente a credibilidade

e a confiança para retomarmos o caminho da nossa independência financeira e acedermos a condições

aceitáveis e sustentáveis de financiamento. Contudo, essa política é hoje censurada.

A segunda possibilidade seria o abandono da zona euro e o financiamento livre através do controlo

governamental sobre uma nova moeda própria. Isso representaria a nossa renúncia ao estatuto de economia

desenvolvida.

O Sr. Honório Novo (PCP): — Mas que economia desenvolvida que nós temos!…

O Sr. Primeiro-Ministro: — E aqui descobrimos que o projeto político dos partidos que hoje movem a

censura ao Governo são, no limite, incompatíveis com a nossa pertença ao euro, incompatíveis com a

afirmação de Portugal como uma economia desenvolvida e moderna no quadro da União Europeia e

incompatíveis com um País assente em instituições e numa sociedade civil dignas das democracias mais

avançadas do mundo.

Vozes do PSD: — Muito bem!

O Sr. Primeiro-Ministro: — Ora, são precisamente esses os compromissos que o Governo que lidero tem

com o País, e o nosso trabalho no dia-a-dia não consiste noutra coisa senão na sua concretização. A nossa

ação não tem outro propósito senão a resolução dos problemas nacionais, para que possamos garantir

exatamente aquilo que o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista querem censurar.

Estamos, portanto, situados entre os erros do passado e o compromisso com o nosso futuro. Os partidos

que suportam estas moções sabem isto. O problema é que não querem saber do passado, nem querem saber

do futuro. Querem viver num presente imaginário, em que nada resta senão o monólogo interior que hoje, mais

uma vez, passaram ao papel.

Aplausos do PSD e do CDS-PP.

Sr.ª Presidente, Sr.as

e Srs. Deputados: As últimas semanas testemunharam um intenso debate público,

que envolveu todo o País. Num período como este, em que os desempregados, os trabalhadores de mais

baixos rendimentos e os pequenos empresários enfrentam as dificuldades que a crise provocada por tantos

erros políticos e por tantos desequilíbrios económicos fatalmente geraria, é natural que as divergências se

manifestem com mais veemência. Mas nestas últimas semanas também ficou mais patente do que nunca o

risco que corremos de desperdiçar aquilo que de muito positivo já alcançámos num grande esforço conjunto. E