I SÉRIE — NÚMERO 8
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É um Governo satisfeito consigo mesmo, mas zangado e em conflito com os cidadãos, e é um Governo de
formigas trabalhadoras incompreendido e rejeitado por um País de cigarras incompetentes, piegas e, ainda por
cima, a viver acima das suas possibilidades.
O Governo, Sr.as
e Srs. Deputados, está em crise porque falhou! Falhou na derrapagem das contas
públicas! Falhou no controlo da dívida e do défice! Falhou na distribuição da economia! Falhou no desemprego
recorde!
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Bem lembrado!
O Sr. João Semedo (BE): — O Governo está em crise porque desprezou as pessoas, porque governa
contra os cidadãos, porque rebaixa e maltrata quem vive do seu trabalho.
O Governo está em crise, porque perdeu o País e um governo que perdeu o País não merece nem pode
continuar a governar. Um governo que perdeu o País só tem uma saída: a demissão!
Sr.as
e Srs. Deputados, falemos agora da moção de censura. A censura é a exigência democrática da
demissão do Governo.
A moção de censura levanta um muro, um muro que separa os que defendem esta política dos que se lhe
opõem. Não há nenhum outro muro nem nenhuma linha indivisa que separe quem está contra esta política.
Mas, Sr.as
e Srs. Deputados, Sr. Deputado Francisco Assis, cada um de nós escolhe o lado em que se
coloca.
O Sr. José Junqueiro (PS): — Ainda bem!
O Sr. João Semedo (BE): — Sr.as
e Srs. Deputados: O que falhou não foi esta ou aquela medida do
Governo mas, sim, uma estratégia assente na austeridade custe o que custar, bem ao jeito do ser bom aluno
da Sr.ª Merkel «& C.ª» na esperança de que, um dia, se obtenha um pequeno favor ou uma simpatia.
Para que serve, afinal, tanta austeridade e sacrifício? De que serve ao País e aos portugueses ter no
Governo um bom aluno da Sr.ª Merkel se tanto o País como os portugueses estão cada vez mais pobres e,
ainda por cima — pasme-se! —, nem o défice nem a dívida param de crescer?
Ser o bom aluno da Sr.ª Merkel tem um preço para o País, um preço que o Dr. Passos Coelho aceita sem
pestanejar: aumento de todos os impostos, redução dos salários e das pensões, cortes na saúde e na
educação, venda ao desbarato das empresas públicas.
Há 15 meses que o Governo não faz outra coisa! Mas nos juros, nos juros exagerados que nos cobram, o
Governo não toca! E os juros, Sr.as
e Srs. Deputados, que nos cobram só este ano, valem um ano de
exploração do Serviço Nacional de Saúde.
O Governo quer ser bom aluno lá fora, mas cá dentro não passa de um cábula, acumulando insucesso
atrás de insucesso, falhanço atrás de falhanço, chumbado pelos portugueses por mais equivalências que
obtenha.
O Sr. Luís Fazenda (BE): — Muito bem!
O Sr. João Semedo (BE): — Sr.as
e Srs. Deputados: O Governo diz que não há alternativa, mas já todos
percebemos que a alternativa do Governo é que não é alternativa nenhuma; é, sim, o caminho da bancarrota
ou da forçada saída do euro.
E, Sr. Primeiro-Ministro, é a sua política que nos está a empurrar para fora do euro, não são as políticas
alternativas que o Bloco de Esquerda tem defendido, desde há 15 meses, em alternativa ao esmagamento dos
salários e ao afastamento do Estado das funções sociais e da economia.
Em nome da dívida, o Governo mergulhou o País numa espiral recessiva da qual não conseguiremos
libertar-nos. Quanto mais austeridade mais recessão! Quanto mais recessão mais dívida! A dívida é a
chantagem a que o Governo se vergou, a austeridade é o vício de um Governo dependente do seu
dogmatismo ideológico.