I SÉRIE — NÚMERO 9
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O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr.as
Secretárias de Estado, Sr.as
e Srs.
Deputados: Privatizar, privatizar e privatizar — esta é a palavra de ordem do Governo PSD/CDS-PP, que
ainda por cima diz não ter uma agenda ideológica.
E para grande prejuízo dos portugueses, que assistem ao mais completo esvaziamento do nosso
património coletivo, o Governo avança sem olhar para trás e prepara-se para privatizar mais um conjunto de
empresas estratégicas.
Do outro lado, estão os do costume, os grandes grupos económicos, impacientes, à espera que o Governo
proceda à abertura do leilão ou «atire os rebuçados ao ar».
Transportes, EMEF, CTT, TAP, ANA, RTP, Estaleiros Navais de Viana do Castelo, nada escapa a esta
onda de privatizações, que põe tudo o que é de todos nas mãos de uns poucos — uma pouca-vergonha!
Nem mesmo a água escapa à gula dos grandes interesses. E quando falamos da água, convirá recordar
que estamos a falar de um bem que, pela sua própria natureza e por tudo aquilo que representa, não pode ser
gerido em função de critérios de lucro e de distribuição de dividendos por acionistas mas, sim, numa lógica
que atenda às necessidades das populações.
Mas, com este Governo PSD/CDS-PP, os interesses das populações ou a garantia do serviço público de
rádio e televisão assumem pouco valor, porque valores mais altos se levantam. Pelos vistos, os interesses dos
grandes grupos económicos, que este Governo tanto tem protegido, continuam a falar mais alto do que o
interesse público.
Como quem «atira terra para os olhos dos portugueses», o Governo vem falar da necessidade de melhorar
a competitividade das empresas. Competitividade das empresas?! Mas o Governo andará a dormir? Afinal,
onde está a competitividade dos setores que foram objeto de privatizações, no passado?
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Verdade!
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Onde está a competitividade do setor financeiro, do setor elétrico
ou do setor dos combustíveis?
No acesso ao crédito, estamos pior, muito pior. Na eletricidade e nos combustíveis, as famílias e as
pequenas e médias empresas estão hoje a pagar a eletricidade e os combustíveis mais caros da Europa —
pagam muito mais hoje do que pagavam quando essas empresas pertenciam ao setor público. Afinal, onde
está a melhoria da competitividade? E aqui, Sr.ª Secretária de Estado, deixo-lhe já a primeira pergunta: onde
está a melhoria da competitividade com as privatizações?
Depois, o Governo fala da redução da dívida pública. E aqui, de duas, uma: ou o Governo anda mesmo a
dormir, ou não sabe fazer contas. Então, o Governo não percebe que a dívida aumenta ao ritmo do volume
das privatizações? Não percebe que, quanto mais privatiza, mais aumenta a dívida?
De facto, o Governo, se soubesse fazer contas, haveria de perceber que os lucros das empresas que foram
privatizadas no passado, como a EDP, a GALP, a PT, a REN ou a Brisa, contribuíram, durante anos e anos,
com fortes e gordas receitas para o Orçamento do Estado. E aqui fica a segunda pergunta, Sr.ª Secretária de
Estado: é verdade ou não que a privatização dessas empresas, no passado, contribuiu decisivamente para o
agravamento do défice orçamental e do nosso défice externo?
Por fim, uma última questão relativa à Caixa Geral de Depósitos. O Sr. Primeiro-Ministro, num dos últimos
debates quinzenais, afirmou neste Plenário o seguinte: «No dia em que o Governo tiver de anunciar alguma
coisa relevante sobre a Caixa Geral de Depósitos, não deixará de o fazer».
Sr.ª Secretária de Estado, esse dia é hoje? Há alguma coisa relevante para nos dizer sobre o processo de
privatização da Caixa Geral de Depósitos?
Já agora, Sr.ª Secretária de Estado, confirma as notícias de que o Governo terá contratado a Deloitte para
avaliar a Caixa Geral de Depósitos, no quadro da sua privatização?
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Muito bem!
A Sr.ª Presidente: — A próxima intervenção é da Sr.ª Secretária de Estado do Tesouro e das Finanças.
Tem a palavra, Sr.ª Secretária de Estado.