I SÉRIE — NÚMERO 10
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A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para pedir esclarecimentos, tem, agora, a palavra o Sr. Deputado
José Luís Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado João Ramos, antes de mais, quero
saudá-lo por ter trazido Beja à discussão.
Falar de Beja é falar do IP8 e também tomei conhecimento, pela imprensa, de que o Grupo Parlamentar do
Partido Comunista Português, no âmbito das suas Jornadas Parlamentares, fez, inclusivamente, uma visita às
obras do IP8, que se reveste de uma importância que não se confina apenas a Beja e ao Litoral Alentejano, vai
muito para além desse limite territorial.
É preciso não esquecer o facto de estarmos a falar de uma via com elevada densidade de transporte de
mercadorias perigosas, o que deriva da importância do Complexo de Sines.
Por isso, consideramos que é absolutamente necessário proceder à qualificação do IP8, entre Sines e Vila
Verde de Ficalho, porque são necessárias vias estruturantes com adequada qualificação, que facilitem a
mobilidade das populações mas também permitam aproveitar as potencialidades e recursos da região. E, aqui,
de facto, o IP8 assume uma importância vital.
Sucede que as obras foram suspensas há uns meses e que esta suspensão acabou, recentemente, por se
transformar num cancelamento da construção que estava prevista. Ora, estas decisões estão a ter
consequências graves, a vários níveis, para as populações, e graves, inclusive, ao nível da segurança, porque
as obras deixaram estaleiros ao abandono, danificaram estradas secundárias e caminhos agrícolas e até
estão a impedir o acesso das populações a terrenos e propriedades agrícolas.
Por outro lado, as antigas vias, em muitos dos seus troços, estão completamente degradadas e até
transformadas em verdadeiros estaleiros.
Aquilo que entendemos é que abandonar investimentos a decorrer, com todos os prejuízos que isso
representa em termos financeiros e de segurança, é muita irresponsabilidade. Ou seja, consumiram-se
milhões de euros em obras, terraplanagens, pontes e viadutos, que, agora, estão simplesmente às moscas,
porque não têm qualquer utilidade. E, se não têm utilidade, isso significa esbanjar dinheiro. O que quero saber,
Sr. Deputado, é quem são, na sua perspetiva, os autores de semelhante irresponsabilidade.
A Sr.ª Presidente (Teresa Caeiro): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado João Ramos.
O Sr. João Ramos (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado José Luís Ferreira, obrigado pela questão que
colocou.
Efetivamente, o IP8 é uma via estruturante e importante para o distrito de Beja, para a região do Alentejo e
para a ligação do interior do distrito de Beja ao litoral alentejano. É uma via estruturante cuja realização
começou a ser discutida há mais ou menos 25 anos, até no âmbito dos congressos sobre o Alentejo, e, tal
como todos os outros processos do Alentejo, foi um processo muito demorado. Estivemos 40 anos à espera
do Alqueva; andamos a discutir o aeroporto há 20 anos, e o IP8 há 25 anos. O poder central tem sempre esta
dificuldade em desenvolver os projetos no Alentejo.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
O Sr. João Ramos (PCP): — Efetivamente, é uma via que neste momento tem condições de segurança
muito complexas. A intervenção realizada fez com que as condições nas vias atuais, para os alentejanos e as
outras pessoas que se deslocam nas mesmas, sejam muito piores do que aquelas que existiam antes de
começar a obra.
Como disse, e muito bem, esta é uma via estruturante que serve não apenas as populações daquelas
áreas mas que liga o Porto de Sines, um dos maiores da Europa, ao resto do País e a Espanha, com a
dimensão e as componentes que tem, se o IP8 for desenvolvido na íntegra, como, aliás, o PCP sempre
defendeu.
É uma via de tal modo estruturante que até defendíamos, e continuamos a fazê-lo, por exemplo, que, no
âmbito da construção do IP8, se construísse um oleoduto que ligasse as refinarias de Sines a Beja. Mas a