I SÉRIE — NÚMERO 18
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O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — É um Orçamento que vai ter consequências ainda mais devastadoras
no plano económico e social, porque as preocupantes previsões do Governo em relação ao desemprego, de
16,4%, e a uma recessão, de 1%, são previsões fantasiosas. Acho que nem o Sr. Primeiro-Ministro acredita
naquilo que está escrito nesta proposta de Orçamento.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Pois não!
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Mas, em relação ao desemprego, ouvimos aqui dizer que são
necessárias medidas para promover o emprego. Então, não é este Governo e este Orçamento que preveem
que mais de 150 000 trabalhadores vão cair no desemprego?! Explique lá a contradição, Sr. Primeiro-Ministro!
Dizem que querem promover o emprego e, depois, no Orçamento do Estado dizem que vai haver mais
desemprego em Portugal?!
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exatamente!
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Sr. Primeiro-Ministro, este Orçamento tem esta coisa bizarra de
transportar no ventre um ovo envenenado, um plano B, concebido para garantir o sucesso da execução
orçamental, com uma dupla dose de austeridade, para não dizer de extorsão aos portugueses.
Vozes do PCP: — Muito bem!
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Por isso, a primeira pergunta que lhe quero fazer é esta: para além
das brutais medidas de aumento dos impostos e de cortes nas funções e prestações sociais que são
apresentadas, quais são as outras medidas que estão a esconder aos portugueses?
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — O que estão a pensar impor, quando ficar claro mais este falhanço do
Governo?!
Sr. Primeiro-Ministro, tudo indica que, com este Orçamento e esta política, não tardará que nos
encontremos na mesma situação da Grécia. Já seguimos o mesmo trilho: o terceiro ano de recessão está aí, o
trajeto da dívida é cada vez mais insustentável, enquanto a espiral de austeridade segue o mesmo percurso.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Exatamente!
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — De facto, num plano B, com mais previsíveis derrapagens deste
Orçamento, junta-se um novo corte, no valor de 4000 milhões de euros, que é a primeira tranche desse seu
projeto de refundação do Memorando da troica.
Um projeto de refundação que vê no regime democrático consagrado na Constituição um obstáculo à
«política de terra queimada», que visa destruir todo o edifício que construímos nestes anos de democracia de
abril e que garante o bem-estar das populações: o Serviço Nacional de Saúde (SNS); o direito à educação; o
direito a um sistema de proteção social eficaz no desemprego, na velhice e na doença.
Qual reavaliação qual carapuça, Sr. Primeiro-Ministro? O que pretendem, de facto, com a vossa política e
os vossos objetivos que entram claramente em colisão com a Constituição da República, à qual este Governo
está obrigado (sublinho: à qual este Governo está obrigado), é rasgar a Constituição na sua dimensão social.
Por isso mesmo, mais preocupados ficamos quando ouvimos dizer: «Bom, é preciso uma revisão
constitucional». Mas não têm os dois terços necessários para o fazer. E depois dizem: «Se isso for impossível,
então encontre-se um atalho», ou seja, rasgar a Constituição com políticas e medidas concretas que com ela
colidem.
A Sr.ª Presidente: — Queira terminar, Sr. Deputado.