I SÉRIE — NÚMERO 18
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A Sr.ª Ana Drago (BE): — Uma política recessiva, que diminui salários e aumenta impostos em nome do
défice e vê o défice ficar exatamente nos mesmos valores de 2011?! Isso, agora, não interessa nada.
Empresas que são esmifradas no acesso ao crédito, que têm de pagar três vezes mais do que é cobrado
na Irlanda ou quatro vezes mais do que na Alemanha?! Que importa isso se a nossa política é reconhecida «lá
fora»? — diz um Governo todo contente consigo mesmo. 90 empresas encerram por dia — são 1,2 milhões de
desempregados. Não é o desastre, a palavra certa, diz o Governo, é ajustamento.
Mas a verdade é que não há um indicador que bata certo e os senhores nada assumem. Agravaram a
doença e o colapso da economia e agora, depois da vossa sangria ter falhado, vêm sugerir a amputação.
Não, Sr. Primeiro-Ministro. Pode chutar o discurso para a frente as vezes que entender, mas estamos aqui
para centrar o debate na realidade que os portugueses conhecem: o seu Governo é um falhanço colossal.
Vozes do BE: — Muito bem!
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Sr.as
e Srs. Deputados: O Orçamento do Estado que hoje analisamos é um
exercício que se propõe provocar um desastre, uma catástrofe social e económica. Tem vítimas definidas:
todos os que vivem dos rendimentos do seu trabalho, assalariados e reformados e todos os novos pobres e
novos desempregados criados por esta política incompetente.
É hoje certo que a credibilidade desta proposta orçamental é nula. Se há consenso hoje no País, Sr.
Primeiro-Ministro, é no sentido de que a proposta orçamental do Governo é um exercício de fantasia e é um
exercício perigoso. A ser levada avante, cava o buraco da recessão, vai fabricar milhares de novos
desempregados, atirar para a pobreza dezenas de milhares de famílias, agravar o défice e tornar imparável o
sufoco do crescimento da dívida pública. Esta proposta de Orçamento é um convite a um segundo resgate —
não tenha dúvidas, Sr. Primeiro-Ministro! —, é o desastre social nunca antes visto.
Há três dias, o Sr. Primeiro-Ministro tentou um ensaio de uma nova charada: chamou-lhe a refundação do
Memorando — que, aliás, o Sr. Ministro das Finanças já tinha tido a amabilidade de anunciar. Propõem-se
eliminar direitos de cidadania assegurados pelas funções sociais do Estado.
Parece algo novo, mas não nos enganemos. Não há aqui novidades. Este é, sempre foi, o projeto mais
antigo da direita portuguesa: ajustar contas com a matriz fundadora do regime democrático, que sempre soube
que a vivência das liberdades políticas depende diretamente da igualdade que é assegurada pelos direitos
sociais.
E, portanto, esta converseta de refundação do Memorando não é um suposto novo plano, não é um novo
plano B. É, e sempre foi, o plano A da direita: remeter a escola pública, o Serviço Nacional de Saúde, a
proteção social a uma espécie de serviço mínimo, a mera assistência, que não serve para assegurar a cada
cidadão a igualdade de oportunidades de vida.
Aplausos do BE.
Sejamos claros, Sr.as
e Srs. Deputados: diminuir os serviços públicos é diminuir o rendimento das famílias,
tanto como aumentar os impostos. Com uma agravante: se a educação ou a saúde pública aumentam, são os
pobres que têm mais dificuldades, porque não têm segunda escolha. Para a direita, portanto, quem nasce
pobre tem o destino de pobre assegurado.
O discurso pode vir embrulhado agora numa linguagem cifrada, mas não nos deixemos enganar. Não há
aqui nenhuma alternativa. O Governo que aumentou os impostos até à estratosfera não os pretende descer à
terra depois de terraplanar o direito à saúde ou à proteção social dos que mais precisam. Não! A solução da
direita é menos Estado e mais impostos.
Não há, portanto, aqui, nenhuma refundação, a não ser a reciclagem do discurso do atual Sr. Primeiro-
Ministro. Já enquanto líder do PSD, Pedro Passos Coelho defendia copagamentos no acesso à educação e à
saúde, cortes no subsídio de desemprego, na então famosa proposta de revisão constitucional de 2010, de má
memória. E agora é isso que pretende fazer.
Mas deixe-me dizer-lhe, Sr. Primeiro-Ministro, que mentir é feio. Ao contrário do que disse, não há, nunca
houve em Portugal qualquer consenso para esse programa revanchista da direita sobre as políticas sociais.