31 DE OUTUBRO DE 2012
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Aplausos do BE.
Foi essa, aliás, a lição da morte sem glória da sua delirante proposta de revisão constitucional. E foi por
isso mesmo, Sr. Primeiro-Ministro, que não teve coragem de levar essa proposta de refundação do Estado a
votos em 2011. Não, Sr. Primeiro-Ministro! Não tem qualquer mandato para trucidar o modelo social da
democracia portuguesa!
Sr.as
e Srs. Deputados, o Governo vem vender ao País a imagem de um honrado devedor.
Mas tem agora de explicar demoradamente onde está a honra em pilhar as pensões dos reformados que
trabalharam toda a vida; onde está a honra em cortar os apoios aos acamados, em cobrar o acesso ao
tratamento a doentes; onde está a honra em cobrar dezenas de euros a crianças de cinco anos que vão de
transporte público para a escola; onde está a honra em cobrar 1000 € de propina a jovens cujas famílias tem
pouco mais de 1000 € de rendimento mensal e que, portanto, vão desistir da sua formação; onde está a honra
em cortar o subsídio de desemprego a milhares de homens e mulheres; onde está a honra em obrigar
dezenas de milhares de famílias a escolher se pagam a casa ou a alimentação dos seus filhos.
Tem de explicar com todo o detalhe onde está a honra em despedir milhares de professores e outros tantos
milhares de trabalhadores que fazem serviço público em condições precárias; onde está a honra em provocar
milhares de despedimentos no setor privado; onde está a honra em cortar prestações sociais aos mais pobres;
onde está a honra em dizer aos jovens mais qualificados que o seu País não lhes oferece qualquer futuro.
Não há aqui qualquer honradez. Só há cobardia. Este é o Orçamento da cobardia.
À pergunta fundamental «quem paga?», o Governo responde: os pobres, os trabalhadores, os reformados,
os desempregados. A esses o Governo tem a coragem de confiscar direitos e rendimentos do trabalho. Mas
nunca, nunca tem a coragem de se virar para os credores, que levam mais 7000 milhões de euros, 5% do PIB,
em juros da dívida em 2013, nunca tem a coragem de iniciar a renegociação da dívida e dos juros. Nunca o
Governo se levanta para defender o País e os portugueses.
É por isso que as propostas do Bloco de Esquerda respondem ao fundamental: Portugal tem de renegociar
a sua dívida, criar um sistema fiscal justo assente na progressividade, pôr as maiores empresas do PSI 20 que
operam em Portugal a pagar impostos aqui e não na Holanda, para ter a capacidade de ter políticas de
crescimento económico e de criação de emprego. Renegociar a dívida e os juros não é um caminho fácil, mas
é o que se impõe. E Portugal não precisa hoje de governantes que se amedrontam perante a troica e que têm
dificuldade em fazer a batalha mais difícil: defender os portugueses contra a espoliação e contra o
empobrecimento.
Um Governo que não defende os seus cidadãos não merece governar.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs.
Deputados: O desemprego atinge níveis históricos, a recessão está prestes a acontecer pelo terceiro ano
consecutivo, as empresas encerram diariamente neste País, jovens e menos jovens veem-se obrigados e
emigrar contra vontade porque não encontram oportunidades no seu País, há pessoas que prescindem de
coisas tão essenciais como cuidados de saúde porque não têm dinheiro para se tratarem.
Esta realidade que o País hoje vive não caiu do céu, foi resultado de opções governativas muito claras e
muito determinadas.
É neste quadro, então, Sr.as
e Srs. Deputados, que o Governo apresenta uma proposta de Orçamento do
Estado para 2013, o mais dramático das últimas décadas.
Reconhecido por todos e pelo próprio Governo, designadamente na sua previsão macroeconómica mesmo
mais otimista e, diga-se de passagem, irrealista, este Orçamento do Estado gerará mais desemprego, mais
pobreza e continuação da recessão económica, num ano em que o Sr. Primeiro-Ministro, há pouco tempo,
prometia já crescimento.