I SÉRIE — NÚMERO 18
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Quer, então, o Governo convencer-nos de que estamos no bom caminho. Não! Estamos no caminho da
desgraça. E desgraça em cima de desgraça gera mais desgraça.
O Governo está a apresentar ao País uma receita podre. O Governo está a criar um País sem condições
para se viver. O Governo está a garantir um empobrecimento social e económico crónico, tão crónico que o
Governo ousa até insinuar um golpe ideológico final com a alteração da Constituição da República Portuguesa
para garantir que saem de lá todos os limites ao roubo de direitos aos portugueses, permitindo que nos
destituam de toda a dignidade até ao limite. Isto é absolutamente inaceitável! É um golpe na democracia, um
golpe que a direita deseja há anos e que quer agora concretizar num momento de maior fragilidade!
É com esse objetivo que o Sr. Primeiro-Ministro vem falar da refundação do acordo com a troica, o que
significa mais austeridade e, ao mesmo tempo, a dissipação do Estado através do desmantelamento das
funções sociais do Estado, como se a segurança social fosse um privilégio dos portugueses, como se o
Serviço Nacional de Saúde fosse um privilégio dos portugueses, como se a escola pública e a universidade
fossem um privilégio dos portugueses.
O Sr. Primeiro-Ministro, curiosamente, não respondeu, hoje, a uma das perguntas que Os Verdes lhe
fizeram, que era a seguinte: o que é que o Estado faz hoje que seja para o Governo dispensável? O quê em
concreto? Era bom que os portugueses pudessem ouvir a resposta.
Diz o Sr. Primeiro-Ministro, com nítidos sinais de autoritarismo, que se não for refundação, é um segundo
resgate. Ameaças, Sr. Primeiro-Ministro! Ameaças! Este tipo de ameaças, como outras, de resto, os
portugueses não podem tolerar.
O Sr. Ministro das Finanças já antes tinha referido que os portugueses, que no outro dia eram o «melhor
povo do mundo» e agora já são uns abusados, exigem demais face ao nível de impostos que estão dispostos
a pagar.
Quer dizer, os portugueses pagam impostos — e de que maneira, agora com este Orçamento do Estado!
— e, depois, o Governo obriga-os a pagar, e bem, tudo quanto é serviço público.
Perguntam-se, então, legitimamente os portugueses: «Para que servem os impostos que estamos a
pagar?».
Sr. Primeiro-Ministro, as pessoas estão fartas de pagar impostos para brinquedos como submarinos, ou
para as parcerias público-privadas, que engordam privados já bem gordos e que lesam vergonhosamente o
Estado, ou para as rendas elétricas excessivas, ou para os descalabros do sistema financeiro, como o BPN foi
bem exemplo, ou para poupar o sistema financeiro e muitas operações de capital de contribuir para as receitas
do Estado na medida da sua verdadeira capacidade de contribuição.
Agora, todo o dinheiro é injetado na banca e em juros.
Sr.as
e Srs. Deputados, enquanto, nos últimos anos, o PSD e o CDS viabilizavam Orçamentos do PS e o
PS viabilizava orçamentos do PSD e do CDS, numas amizades puras, como aconteceu no Orçamento para
2012, enquanto todos assinaram um acordo com a troica, o Sr. Primeiro-Ministro já deixou claro que o nível de
austeridade não ficará por aqui, irá, por sua vontade, muito além do próprio Orçamento do Estado para 2013.
O Governo está, desde que tomou posse, a trair, repito, a trair claramente os portugueses e todos os
acordos ou compromissos que assumiu para com os portugueses.
Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Só a renegociação da dívida poderá garantir que consigamos
pagar a nossa dívida legítima sem nos definharmos completamente. Ou seja, simultaneamente aquilo de que o
País precisa é de gerar riqueza, e só consegue gerar riqueza com a redinamização da nossa economia e com
a valorização do nosso mercado interno. Para isso, há um pressuposto fundamental: garantir maior poder de
compra aos portugueses, exatamente o inverso daquilo que tem vindo a acontecer.
Esta é a estratégia necessária para o País e todas as medidas tomadas e o próprio Orçamento do Estado
teriam de estar necessariamente, neste momento, a responder a este caminho e a esta estratégia.
Deveria existir necessariamente, também, uma estratégia de exportação, mas não como aquela que o Sr.
Primeiro-Ministro aqui veio anunciar, falando de um aparente equilíbrio da balança comercial, sem referir que
estamos a importar menos por causa do empobrecimento dos portugueses ou que os níveis de exportação
podem aumentar, não ao nível estrutural, mas meramente conjuntural, à conta do ouro que estava com os
portugueses e que vai para fora ou de uma componente energética que não tem estruturação absolutamente
nenhuma.