28 DE NOVEMBRO DE 2012
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2 — Tivemos em conta os argumentos formulados para justificar a aprovação do Orçamento do Estado
para 2013, dos quais resulta a absoluta necessidade de cumprir os compromissos a que Portugal se encontra
vinculado com os credores internacionais, nos termos do resgate que nos foi infligido para evitar a bancarrota
a que nos conduziu a infausta governação do PS no período socratiano. Por outro lado, recuos do Governo e
emendas da maioria corrigiram exageros da proposta inicialmente anunciada, os quais originaram justa
indignação dos cidadãos e das cidadãs na Região Autónoma dos Açores.
3 — No entanto, temos fundadas dúvidas sobre as previsões em que assenta o Orçamento do Estado para
2013, que nos parecem muito fora da realidade, como já aconteceu no ano em curso. O enorme aumento de
impostos, sobretudo do IRS, vai retirar milhares de milhões de euros do circuito económico nacional,
desviando-os para pagar juros aos nossos credores. Daí resultará uma tremenda redução da procura interna e
do investimento, agravando a recessão, as falências de empresas e o desemprego. Ora, sem crescimento
nem sequer poderemos pagar as dívidas, muito menos melhorar as condições de bem-estar dos portugueses.
Acresce que os cortes na despesa pública irão reduzir a rede de proteção social, alargando a pobreza. E a
aplicação das leis liberalizadoras sobre os despedimentos e os despejos arrastarão no mesmo sentido, sem
que se divise uma expectativa sólida de recuperação, sempre adiada de um ano para o outro.
4 — No que toca às questões com especial incidência na Região Autónoma dos Açores, exprimimos, em
sintonia com as orientações do PSD/Açores, a nossa frontal discordância em especial com a recusa em deixar
como receita regional a sobretaxa ao IRS, destinada a repor um dos subsídios à Função Pública; e com a
exigência de pagamento pelo Serviço Regional de Saúde dos tratamentos de doentes açorianos nos hospitais
do território continental da República, quando é certo serem tratados nos hospitais açorianos quaisquer
pessoas, independentemente da sua origem. Demos por isso o nosso apoio às propostas de alteração
subscritas pelos nossos colegas do PS/Açores, infelizmente rejeitadas pela maioria parlamentar, apesar do
bem fundado das mesmas. Por outro lado, congratulamo-nos com a emenda introduzida pela maioria
facilitando às regiões autónomas o financiamento da execução dos seus orçamentos.
Os Deputados do PSD/Açores, Mota Amaral — Joaquim Ponte — Lídia Bulcão.
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O Orçamento do Estado apresentado pelo Governo não contribui para a superação do modelo socialista de
desenvolvimento que, mais coisa menos coisa, temos seguido nas últimas décadas e que, em minha opinião,
é responsável pela circunstância de Portugal estar, pela terceira vez na sua História recente, sob intervenção
externa.
A essencial superação desse modelo socialista exigia um outro Orçamento: um Orçamento que refletisse
uma consolidação orçamental pelo lado da despesa, que espelhasse alterações substanciais no modelo de
Estado e reduções significativas da despesa estrutural, que iniciasse uma reforma tendente à transformação
da carga fiscal em amiga das famílias e do investimento e que evidenciasse um compromisso geracional de
liberalização da economia.
Por razões que não se prendem apenas com opções governativas, e que resultam também de uma pesada
e insuportável herança socialista, o Orçamento hoje votado afasta-se desse caminho, verdadeiramente
alternativo.
É assim um Orçamento que, não assumindo o desafio de superar o socialismo, comporta riscos adicionais
e dispensáveis, tendo em conta o contexto internacional em que nos encontramos.
As melhorias que o Parlamento introduziu ao Orçamento do Estado, através das alterações propostas pelo
CDS-PP e pelo PSD, sendo de saudar, foram ainda assim insuficientes para corrigir materialmente o sentido
socializante do Orçamento.
Este foi, no entanto, o Orçamento do Estado apresentado pelo Governo, validado, note-se, porque não é
um pormenor, pela missão externa, no âmbito da assistência económica e financeira a que estamos
obrigados. E foi sobre este que coube decidir o sentido de voto.
Votei o Orçamento do Estado. E importa deixar claros os fundamentos que me conduziram a esse voto. É
esse o sentido de uma declaração de voto, declarar o porquê de um sentido de voto e não justificar por que
razão se não votou de outra forma.