I SÉRIE — NÚMERO 26
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A Sr.ª Presidente: — Srs. Deputado, inscreveram-se, para pedir esclarecimentos, os Srs. Deputados Pedro
Delgado Alves, Cecília Honório, Heloísa Apolónia e Emídio Guerreiro e o Sr. Deputado João Oliveira informou
que pretende responder a cada um dos Srs. Deputados.
Tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Delgado Alves.
O Sr. Pedro Delgado Alves (PS): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado João Oliveira, começo por saudá-lo a si
e, em particular, ao Partido Comunista Português pela realização do seu Congresso, partido fundamental do
sistema político português, e, portanto, com muita atenção o Partido Socialista acompanhou os seus trabalhos.
Partilhamos o diagnóstico que o Partido Comunista fez e também a intervenção que acabou de ser feita
quanto ao estado do País e quanto ao rumo que leva. De facto, atravessamos um período de grande
dificuldade. A população portuguesa sofre os efeitos de uma espiral recessiva em grande medida autoinfligida
pelos erros da política económica do atual Governo. Mas se é certo que concordamos quanto ao diagnóstico,
quanto à urgência de tomarmos medidas que permitam inverter o rumo, é certo que também discordaremos de
muitas das opções e, obviamente, em relação a vários pontos, trilhamos um caminho diferente.
Mas há um aspeto em relação ao qual gostaria de colocar uma questão ao Sr. Deputado, aspeto este que
me parece estruturante para ultrapassarmos as dificuldades que enfrentamos. É precisamente um aspeto que
também referiu na sua intervenção e que diz respeito ao rumo europeu e à opção europeia que Portugal
abraçou. É que me parece que é nesse plano que, em grande medida, teremos de ter capacidade para
construir respostas, ser mais inventivos e ser capazes de dizer que é a recuperação do ideal de solidariedade
que esteve na base da adesão de Portugal à União Europeia, que esteve na base da opção por uma Europa
democrática, solidária, social, que importa, porque, no fundo, no passado, foi essa a opção. E, por pouca
capacidade de realização que esteja a ter no momento, por dificuldades de concretização que possa estar a
sofrer, é esse, verdadeiramente, o debate fundamental no qual, penso, todos temos de participar e ao qual o
Partido Socialista tem procurado dar resposta, mobilizando os agentes europeus que estão disponíveis para
este debate.
Quando o Governo falha em reconhecer que é na Europa que se encontra o caminho, quando o Governo
vira as costas às opções que se vão abrindo, na descoberta de novos caminhos, pela Europa, a pergunta que
deixo vai no sentido de saber se não é esse, verdadeiramente, o caminho que devemos abraçar em primeira
linha. É que sozinhos, voltando a uma lógica de «sozinhos» a resolver os nossos problemas, dificilmente
conseguiremos ultrapassar o fosso que nos afasta cada vez mais da coesão e do rumo de progresso que os
nossos parceiros europeus também esperam de nós.
Portanto, a pergunta que deixo é a de saber que visão tem, efetivamente, dessa Europa e se está,
verdadeiramente, disponível para vir ao encontro desse debate, refundador, em certa medida, do projeto
europeu, mas estruturante para o futuro do projeto europeu e, por isso, também para o futuro do País.
Aplausos do PS.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado João Oliveira.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Pedro Delgado Alves, agradeço as questões
que colocou e quero dizer-lhe que, de facto, em relação a matéria de política europeia, temos uma
divergência, que não é uma divergência de pouca monta, é uma divergência de fundo em relação ao Partido
Socialista.
É que, da parte do PCP, fazemos uma opção clara e definimos um objetivo do qual não prescindimos, que
é o de garantir ao nosso País todas as condições de desenvolvimento, quer do ponto de vista económico, quer
do ponto de vista social, mas também do ponto de vista político e cultural. Não abdicamos da nossa
soberania,…
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!