I SÉRIE — NÚMERO 26
8
A Sr.ª Cecília Honório (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado João Oliveira, antes de mais, quero
cumprimentá-lo pela sua declaração política. O Bloco de Esquerda saudou e saúda o importante Congresso
do Partido Comunista Português, saúda os órgãos eleitos e acompanha o diagnóstico que aí foi feito e que o
Sr. Deputado confirmou aqui, na sua intervenção.
Este Governo é um Governo de serviço relativamente às políticas da troica — políticas de uma violência
desconhecida sobre o trabalho e os rendimentos do trabalho — e, por isso, Sr. Deputado, acompanhamo-lo
também na necessidade de construir uma alternativa e na responsabilidade dos partidos políticos à esquerda
pela construção dessa alternativa. Mas, evidentemente, a perspetiva não é a de os partidos políticos serem
donos dessa alternativa, porque a luta social, o movimento popular será capaz de a construir. Há, no entanto,
de facto, uma necessidade de apelar a todos os partidos políticos que se dizem, sentem ou sabem de
esquerda, para que ensaiem a responsabilidade de rasgar com o Memorando de Entendimento e com as
políticas violentas impostas pela troica. É sobre isso que gostaria de o ouvir, sobre essa responsabilidade
acrescida dia-a-dia relativamente a todos os partidos de esquerda, quanto à expectativa da luta social, do
movimento popular, que, como sabe, nos colocou nesta necessidade de trilhar um caminho conjunto para a
criação de um Governo de esquerda, investido no sentido da recuperação da dignidade deste País e deste
povo.
Confirmo, desde já, que o Bloco de Esquerda, com as diferenças que, evidentemente, nos assistem, pela
nossa história, está absolutamente empenhado nessa perspetiva de unidade de luta da esquerda pela criação
de uma alternativa política que responda à voz popular, que responda às exigências de um povo humilhado
pelas políticas deste Governo e pela submissão às políticas da troica.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Para responder, tem a palavra, Sr. Deputado João Oliveira.
O Sr. João Oliveira (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr.ª Deputada Cecília Honório, agradeço também as
saudações que nos dirigiu.
De facto, as questões relacionadas com a política alternativa de que o País precisa foram matéria central
da discussão que tivemos oportunidade de realizar no nosso Congresso e o PCP regista, efetivamente, a
importância da discussão das soluções alternativas à política que, hoje, é executada por este Governo, mas
que, nos seus traços essenciais, corresponde à política que temos tido no País, nos últimos 36 anos.
Consideramos que, para definir com exatidão, rigor e correção aquela que é a política alternativa capaz de
arrancar o País da situação em que se encontra e apontar-lhe, de facto, um futuro de progresso e
desenvolvimento, não podemos ser condescendentes nem displicentes, digamos assim, na análise das causas
que estão na origem desta situação, no apontar de responsabilidades àqueles que foram os seus
executores…
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Muito bem!
O Sr. João Oliveira (PCP): — … e na definição da exata importância da discussão da política alternativa.
Foi por isso que, na declaração política, fizemos questão de afirmar uma expressão que temos utilizado,
porque julgamos ser muito adequada: antes de dizermos com quem se constrói o Governo, temos de dizer
para quê e para quem se governa. É na base desta discussão e, sobretudo, na identificação desta prioridade
de definição da política alternativa que temos feito um esforço, sobretudo, de caracterização e clarificação
daquilo que o PCP entende que devem ser as bases da construção de uma política alternativa.
É óbvio que, no quadro que hoje vivemos, sem a rejeição do pacto da troica e sem a derrota deste Governo
e da política de direita, não há possibilidade de construir soluções duradouras e de progresso e, sobretudo, de
construir alternativas políticas a este Governo. Não há possibilidade de construir alternativas políticas a este
Governo que sejam verdadeiras alternativas sem a assunção de um conjunto de objetivos imediatos, entre os
quais se inscreve, obviamente, a necessidade de rejeição do pacto de agressão da troica e da política de
direita.