21 DE DEZEMBRO DE 2012
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Estou a lembrar-me, por exemplo, Sr.ª Ministra, da configuração do Tribunal da Relação e no que ela
implica no distrito de Aveiro, com populações que têm uma identificação histórica, cultural, social e até
económica com o distrito de Coimbra e que até hoje têm na Relação de Coimbra o tribunal de 2.ª instância, a
que ficam submetidos no âmbito da competência territorial, e que passam a estar, infelizmente, remetidos para
o do Porto, com o qual nada têm a ver e com o qual não há ligação rigorosamente nenhuma.
Aplausos do PCP.
O Sr. Presidente (António Filipe): — Para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado José Luís
Ferreira.
O Sr. José Luís Ferreira (Os Verdes): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.as
e Srs.
Deputados: Sr.ª Ministra da Justiça, hoje é um dia importante para a justiça, porque hoje vamos dar mais um
passo naquilo a que podemos chamar a debandada do Estado.
O Estado está de saída de muitas localidades do nosso País. Primeiro, foram os centros de saúde, os CTT,
as escolas, a GNR, as juntas de freguesia, os transportes e, agora, chegou a vez dos tribunais. Hoje será,
portanto, um dia negro para a nossa justiça, e sê-lo-á porque o Governo está a fazer exatamente o contrário
daquilo que devia fazer, porque o que se exigia do Governo era que trabalhasse no sentido de construir um
sistema de justiça mais célere, mais eficiente e, sobretudo, mais acessível, mas, afinal, o Governo está a dar
mais um empurrão não só para agravar a morosidade processual como também para tornar a justiça ainda
mais distante dos cidadãos.
Ninguém tem dúvidas de que o resultado do encerramento de dezenas de tribunais será o agravamento
das condições de acesso dos portugueses à justiça e sabemos que, em muitos casos, o Governo nem sequer
respeitou os critérios que o próprio Governo definiu quando avançou com esta proposta.
Mas sabemos mais: também sabemos que o Governo afasta ainda mais os cidadãos da justiça, sobretudo
nas regiões onde a mobilidade é mais difícil e isso torna a justiça mais cara, porque agora é necessário
acrescentar o custo às deslocações.
Para além disso, o processo que levou ao mapa proposto pelo Governo conheceu alguns contornos a que
eu, no mínimo, chamaria estranhos. E passo a dar-lhe um exemplo, Sr.ª Ministra, que me chegou dos autarcas
de Mértola.
Segundo os autarcas de Mértola, quando os serviços fizeram contas ao volume processual dos tribunais,
os processos de Castro Verde foram contabilizados em Almodôvar e Ourique, e depois foram buscar os
processos de Aljustrel, que pertenciam a Beja, para serem contabilizados em Ourique. Uma confusão pouco
transparente!
Mas eu também podia falar do caso do Tribunal de Chaves, porque é um exemplo claro da falta da
racionalidade deste processo e da forma como o Governo olhou para os critérios que o próprio Governo
estabeleceu, porque, segundo dados do próprio Ministério da Justiça, o Tribunal de Chaves tem maior volume
processual, quer ao nível de processos de competência do Tribunal de Trabalho quer quanto à grande
instância criminal, do que o Tribunal de Vila Real e, ao mesmo tempo, o Tribunal de Vila Real apresenta o
dobro de processos de execução em relação ao Tribunal de Chaves, mas a proposta do Governo — pasme-
se! — coloca o Tribunal de Trabalho e a grande instância criminal em Vila Real e as execuções em Chaves, ou
seja, exatamente ao contrário do que o Governo definiu. Não se entende!
Depois ainda temos algumas diligências do Ministério da Justiça para proceder a obras em tribunais sem
que o novo mapa esteja devidamente concluído e aprovado por esta Assembleia, o que também não deixa de
ser estranho.
Mas o que eu queria perguntar-lhe, Sr.ª Ministra, é o seguinte: já ouvimos a Sr.ª Ministra dizer, com alguma
frequência, que a impunidade vai acabar — e ainda bem, Sr.ª Ministra, Deus queira que tenha razão! —, mas
eu queria saber de que forma é que esta reforma, que vai tornar a justiça menos acessível e mais distante dos
cidadãos, vai contribuir para tão nobre propósito, o de que a impunidade vai acabar. Dito de outra forma, como
é que o Governo consegue explicar que este novo mapa contribuiu para termos uma justiça mais célere, mais
eficiente e, sobretudo, mais acessível aos cidadãos?