I SÉRIE — NÚMERO 34
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O Sr. Primeiro-Ministro: — Nem sempre conseguimos obter o reconhecimento do trabalho que fazemos
— e eu espero que esse reconhecimento possa acontecer. Mas, Sr. Deputado, há uma diferença entre
«navegar à costa» sempre a contar os votos e dirigir um Governo a pensar no futuro do País. E eu,
manifestamente, prefiro a segunda situação à primeira.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra, Sr. Deputado Jerónimo de Sousa.
O Sr. Jerónimo de Sousa (PCP): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, de facto, temos divergências de
fundo.
Em relação à questão das alterações à legislação laboral, sabe qual é a sua desvantagem? É o facto de
termos uma Constituição da República Portuguesa, que engloba uma constituição laboral e que, no momento
da sua aprovação e depois de sucessivas revisões no confronto de interesses entre o poder económico e dos
trabalhadores, definiu estar do lado de quem trabalha. E este Governo coloca-se do lado do interesse
económico, contra os trabalhadores, contra os seus direitos ao trabalho e ao salários, o seu direito a ter
direitos!
Por isso, podemos ter esta divergência de fundo. A diferença é que eu identifico-me com a Constituição da
República e o senhor está contra ela e contra os seus princípios.
Aplausos do PCP.
O Sr. Primeiro-Ministro veio dizer que nós queremos uma sociedade de pobres — parece mentira! Um
Governo que é responsável pelo alargamento, o alastramento da pobreza em Portugal, um Governo que
definiu, tal como no tempo do fascismo em que existiam os albergues onde punham os mendigos e os
obrigavam a trabalhos forçados, relativamente ao rendimento social de inserção, algo que se aproxima dessa
realidade,…
Aplausos do PCP.
… numa demonstração de que, afinal, em relação à pobreza, o Sr. Primeiro-Ministro e este Governo não
estão nada preocupados!
Sr. Primeiro-Ministro, temos, de facto, divergências. Nós temos a consciência de que o ano 2013 vai ser
ainda mais duro para os portugueses, mas esta esperança que lhes nega nunca será resgatada, porque os
portugueses — aqueles que lutam, aqueles que sofrem com esta política, aqueles que acreditam que é
possível uma vida melhor em Portugal — olham para o seu Governo, reconhecem-lhe representatividade, mas
já não lhe reconhecem legitimidade para continuar esta política, por isso mesmo, mais tarde ou mais cedo,
será derrotado!
Esta é a minha convicção profunda. E, se isso acontecer, ainda bem para o País, para os portugueses,
para os trabalhadores. Oxalá, mais cedo do que tarde isso aconteça!
Aplausos do PCP.
A Sr.ª Presidente: — Srs. Deputados, o próximo grupo parlamentar a formular perguntas ao Sr. Primeiro-
Ministro é o do Bloco de Esquerda, pelo que tem a palavra, para o efeito, o Sr. Deputado João Semedo.
O Sr. João Semedo (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Primeiro-Ministro, só mesmo por inspiração natalícia vem
fazer esta retrospetiva do ano, esquecendo o que é — essa, sim — uma marca impressionante deste seu
mandato: o aumento da dívida.
Na sua intervenção, o Sr. Primeiro-Ministro ignorou que, pela primeira vez, a dívida ultrapassou 120% do
PIB e é, hoje, superior a 200 000 milhões de euros. Essa, sim, é uma marca impressionante da sua
governação; essa, sim, não deveria ser esquecida nas suas palavras.