17 DE JANEIRO DE 2013
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possível dizer isso?! Foi o que dissemos na altura e é o que confirmamos agora, pelos dados do insuspeito, do
nosso ponto de vista, Banco de Portugal, que até defende uma política contrária àquela que nós defendemos.
Isto comprova uma coisa. Sabe porque é que é responsabilidade do Governo, Sr. Deputado? É porque não
há recuperação económica com o abandono do mercado interno e da procura interna que os senhores estão a
fazer. E o relatório do Banco de Portugal afirma que essa quebra da procura interna será o dobro daquilo que
o Governo propôs.
E é fácil de verificar isso. Quando se cortam os salários a as reformas, quando se aumenta o desemprego,
quando se cortam as prestações sociais, explique-nos lá, Sr. Deputado, onde é que as empresas que
trabalham para o mercado interno — e que são a maioria delas — vão vender os seus produtos e os seus
serviços? A quem, se o povo não tem dinheiro para os comprar?
E é aí que está o problema, Sr. Deputado. É que isto não funciona só com o discurso das exportações. As
exportações são muito importantes, mas é indispensável promover o mercado interno. Sem isso não haverá
crescimento económico. E o que os senhores estão a fazer é a afundar o País, porque querem retirar direitos,
querem que os salários sejam mais baixos para o futuro, querem que as reformas sejam mais baixas para o
futuro. Por isso, é que estão a tomar estas medidas.
Sr. Deputado, aquilo que o PCP quer para o País é um governo de esquerda, com uma política de
esquerda. Caberão aqui todos aqueles que defenderem uma política de esquerda; não caberão aqueles que
falam da esquerda com uma política de direita.
Aplausos do PCP:
A Sr.ª Presidente: — Ainda para pedir esclarecimentos, tem a palavra o Sr. Deputado Pedro Filipe Soares.
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Sr.ª Presidente, Sr. Deputado Bernardino Soares, cumprimento-o pela
sua declaração política, assumindo olhos nos olhos e com responsabilidades aquelas que são as suas
palavras, porque vão muito em contraste com aquilo a que assistimos no dia de ontem e no dia de hoje. O
Governo lançou o repto para um debate alargado na sociedade civil e depois mandou desligar os microfones e
as câmaras de filmar. Aquele que era o largo debate, numa rapidez, transforma-se num diálogo de surdos,
demonstrando que essa é a realidade que o Governo tem nas suas políticas: partir para um debate importante
para o País já numa posição inamovível. E até se percebe assim o que é a novidade dos dias que correm: é
que o FMI até apresentou um relatório pedido pelo Governo, aconselhado pelo Governo, revisto pelo Governo
e, lá está!, com as conclusões que o Governo queria que se tirasse.
Vozes do BE: — Exatamente!
O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Mas, depois, o Governo não assume a responsabilidade das suas
políticas. Por isso, fica claro que um Governo que quer promover um grande debate na sociedade civil à porta
fechada, um Governo que pede a outros para assumir responsabilidades que deveriam ser suas é um
Governo que tem também uma maioria que está claramente em negação para os resultados das suas próprias
políticas, porque é isso que se retira das palavras do PSD e das palavras do CDS sobre o que foi dito pelo
Banco de Portugal.
O que o Banco de Portugal nos disse no relatório que ontem tornou público é que o Governo não quis ouvir
todos os avisos que foram feitos de que os seus dados macroeconómicos não eram credíveis, que as suas
políticas iam muito mais longe na destruição do País. Pois bem, o diálogo de surdos é mesmo isso: o Governo
insiste, mas o Banco de Portugal desmente essa realidade. E diz-nos mais: diz-nos que a recessão será o
dobro da prevista pelo Governo. Quando já estamos confrontados com o flagelo brutal do desemprego, as
políticas do Governo vão criar ainda mais 100 000 desempregados e, perante esta realidade, não há uma
responsabilização da parte do Governo, não há uma responsabilidade que esta maioria assuma aqui, nesta
Assembleia da República.
Por isso, neste diálogo de surdos, permita-me que lhe faça uma pergunta: será que não precisamos de
transparência, de responsabilidade na política e, também, que a maioria assuma aqui, na Assembleia da
República, olhos nos olhos, as políticas que quer, sem se esconder atrás de uma nova proposta que, antes,