I SÉRIE — NÚMERO 43
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estamos a fazer na nossa economia — e, evidentemente, o clima de procura externa influencia diretamente
essas previsões. Por isso o Banco de Portugal, no relatório que a Sr.ª Deputada agora citou e que outros Srs.
Deputados também recordaram, vem corrigir a sua previsão do outono para o inverno, estritamente — imagine
a Sr.ª Deputada —, em função da procura externa e não de medidas de austeridade. Com isto quero dizer que
o Banco de Portugal está mais pessimista do que estava inicialmente a propósito das nossas exportações e da
procura externa.
Sr.ª Deputada, em relação à procura externa — que é como quem diz em matéria europeia —, espero que
a crise não seja tão profunda e que tal nos permita resistir, neste período, melhor. Mas não vou aqui
comprometer-me com outra coisa além do que já disse.
O Governo entende que este será um ano importante para preparar o crescimento da economia, que nós
prevemos em 2014 — e que o Banco de Portugal também prevê —, e que, algures, ao longo deste ano,
haverá uma inversão de tendência no ciclo económico, o que nos permitirá pressupor que não estamos dentro
de uma espiral em que a recessão é cada vez maior, mas estamos justamente a controlar a situação recessiva
e a preparar o terreno para o crescimento. No entanto, saber exatamente qual é o mês em que vai ocorrer a
inversão de tendência e qual é, exatamente, o nível de crescimento que se vai registar, isso só um bruxo
poderia afirmar — e eu nisso, Sr.ª Deputada, passo a palavra.
Aplausos do PSD e do CDS-PP.
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Então para que servem as previsões?!
A Sr.ª Presidente: — Tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, de acordo com o que o Sr. Primeiro-Ministro
disse, as previsões não servem para rigorosamente nada!
Vozes do PCP: — Exatamente!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Andamos todos a brincar com os números e a brincar às
previsões…
Vozes do PCP: — Servem para enganar!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Não nos parece que seja assim, porque há coisas que são
absolutamente lógicas.
É óbvio que quer o programa da troica quer os níveis de austeridade que o Governo ofereceu — aliás,
impôs! — aos portugueses teriam como consequência lógica um aumento brutal do desemprego, um aumento
significativo da recessão e tudo o mais que estamos a viver hoje, designadamente uma emigração forçada, a
níveis de que já não nos lembrávamos, uma situação perfeitamente desgraçada;…
O Sr. Bernardino Soares (PCP): — Com o seu convite!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — … pessoas a sair do sistema de saúde porque não têm dinheiro
para pagar; pessoas com propinas em atraso porque não têm dinheiro para pagar, pessoas a abandonar o
ensino porque não têm dinheiro para o pagar! Mas, Sr. Primeiro-Ministro, tudo isto era óbvio, tudo isto é lógico!
O Sr. Primeiro-Ministro continua sempre a falar de um futuro próximo que nunca mais chega. O ano da
viragem, o momento da viragem é sempre um passo a seguir, mas que nunca mais chega. Porquê? Porque
tudo isto é lógico, porque estas políticas de austeridade não conseguem fazer a viragem. O Sr. Primeiro-
Ministro diz: «Estamos aqui sentados, à espera que a procura externa não nos finte». Mas pode fintar, e até é
previsível que finte, Sr. Primeiro-Ministro.
Nós temos um mecanismo no País que tem a ver justamente com o mercado interno, com a nossa
potencialidade de gerar riqueza e que o Sr. Primeiro-Ministro e este Governo estão a desperdiçar