I SÉRIE — NÚMERO 43
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O Sr. Pedro Filipe Soares (BE): — Mas não é nada disto que querem, não é um debate sério e
transparente o que querem fazer! Isso viu-se naquela amostra de debate que teve lugar há dois dias atrás, à
porta fechada. Quem sabe se os Deputados até não iriam para esta Comissão de olhos vendados, sem saber
onde ela se iria realizar!
O que querem fazer é um teatro, fazer de conta que debatem para, depois, fazerem de conta que se tiram
conclusões e para essas conclusões serem coincidentes com a vontade do Governo.
De teatro está o País farto e o Bloco de Esquerda não entra para figurar nesta peça, que é,
verdadeiramente, uma farsa ao País e a qualquer debate sério sobre o Estado social.
Aplausos do BE.
Para uma caricatura de debate e para cortar no Estado social, que demorou décadas a construir, não
contem com o Bloco de Esquerda. Não há nenhum Deputado do Bloco de Esquerda que participe numa
comissão liquidatária do Estado social. Para debater alternativas e, principalmente, para debater a
responsabilidade — essa, sim, Sr.ª Deputada, é que é um princípio da democracia —, temos toda a abertura e
frontalidade, mas para debater a desresponsabilização da maioria nós não participamos.
Aplausos do BE.
A Sr.ª Presidente: — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia.
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr.ª Presidente, Sr.as
e Srs. Deputados: Sobre esta proposta de
constituição de uma comissão eventual para a reforma do Estado, da autoria da maioria PSD e CDS, a Sr.ª
Deputada Teresa Leal Coelho, em nome do PSD, falou quase como se estivesse a dirigir um convite às outras
bancadas para integrarem esta comissão.
O Sr. Luís Montenegro (PSD): — Foi mesmo!
A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Não sei a quem temos de agradecer o convite: é à Sr.ª Deputada
ou ao Sr. Dr. Marques Mendes? Não sabemos.
Também não sabemos — o PSD e o CDS ainda não disseram — se seria uma comissão à porta fechada
ou, eventualmente, por algum motivo, à porta aberta, pública. Mas, Sr.ª Deputada, também não nos interessa
saber. Sabe porquê, Sr.ª Deputada? O Governo tem muito bem estruturado, no seu pensamento, aquilo que
quer para o País, designadamente em termos de liquidação do Estado social: saúde, o menos possível;
educação, o menos possível; segurança social, o menos possível. É tudo o menos possível. É mais ou menos
como aquela lei da selva social em que quem é rico vive, quem é pobre sobrevive ou, então, nada,
absolutamente nada! Entende, Sr.ª Deputada?
Isto é uma situação ideológica, é mesmo assim.
Os senhores estão, também a pretexto desta crise, a fomentar as vossas opções ideológicas. Noutra altura,
provavelmente, teriam muito mais dificuldade em fomentar essas opções, mas agora, a pretexto de que não há
dinheiro… Mas os portugueses não podem ir nessa conversa, porque há dinheiro para os bancos mas não há
dinheiro para o Estado social. São opções!…
O que é que a maioria quer? Constituir uma comissão, ir-se para lá debater o que a maioria já tem decidido
e depois, no final, fazer um relatório a dizer exatamente aquilo que quer porque, como tem os votos
maioritários, vota o conteúdo que quiser. De facto, não há democracia na discussão daquilo que os senhores
anunciam que pretendem.
Pegam no relatório e depois andam a acenar com ele pelo País a dizer «até a Assembleia da República
quer aquilo que o Governo quer», como se fôssemos todos iguais! Não, Sr.ª Deputada, nós não entramos
nisso.
Quero, pois, declarar, Sr.ª Presidente, à semelhança daquilo que outros partidos fizeram, que Os Verdes se
recusam literalmente a participar nesta comissão.