21 DE FEVEREIRO DE 2013
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todos nós e, claramente, é também uma matéria da maior importância para o CDS, uma vez que o traz aqui
pela terceira vez desde 2008.
De facto, não podemos deixar de concordar que se trata de procedimentos e competências que deveriam
estar ao alcance de um maior número possível de cidadãos e que, naturalmente, por essa razão, e não só,
ganhariam em ser ensinados, aprendidos e dominados em idade escolar, no 3.º ciclo do ensino obrigatório.
Na verdade, a acreditar no Governo e na legislação que tem produzido, nada impediria que assim fosse.
Senão, vejamos: no Decreto-Lei n.º 139/2012, de julho passado, deste Governo PSD/CDS, lê-se que o
Governo «reforça o papel de decisão dos agrupamentos escolares», que a alteração curricular deste Governo
«assenta na definição de princípios que permitem uma maior flexibilidade na organização das atividades
letivas» e que as «medidas adotadas passam pelo aumento da autonomia das escolas na gestão do currículo,
por maior liberdade de escolha das ofertas formativas através» — pasme-se! — «da redução da dispersão
curricular».
Diz ainda que «a autonomia é reforçada através de disciplinas de escola e pela possibilidade de criação de
ofertas complementares» e que «a educação para a cidadania passa a ser abordada em todas as áreas
curriculares, possibilitando às escolas a decisão da sua oferta».
Se assim é, Sr.as
. e Srs. Deputados do Grupo Parlamentar do CDS-PP, como se explica este projeto de
resolução? Se compete às escolas exercerem em autonomia esta liberdade de escolha na oferta educativa
complementar e se este Decreto-Lei, que estabelece os princípios da reforma curricular, só existe porque teve
o apoio do CDS, dos seus Deputados e Membros do Governo, como se explica, então, que o CDS traga de
novo aqui este projeto de resolução?
Aplausos do PS.
Afinal, concordam ou não com a autonomia prevista neste Decreto-Lei? Se concordam, como se
compreende, então, que pretendam que o Governo determine superiormente a introdução de uma nova
competência, contrariando, assim, o que os seus ex-Deputados, atualmente Membros do Governo, aprovaram
em Conselho de Ministros — que, de resto, quando eram Deputados, em 2008, coassinaram um projeto de
resolução igual a este e que agora aprovam o seu oposto —, determinando uma alegada autonomia das
escolas neste domínio e uma efetiva redução do leque multidisciplinar a que o Ministro da Educação chamou
de combate à dispersão curricular?
Ou será que apresentam este projeto de resolução porque sabem que, na realidade, no 3.º ciclo, a oferta
complementar ao currículo base e a educação para a cidadania estão ambas reduzidas ao mínimo e que as
escolas já não podem contar sequer com a Formação Cívica para introduzir matérias como esta que o CDS
aqui hoje nos trás hoje? A Formação Cívica, a disciplina extinta nesta senda contra a oferta da escola pública,
é a mesma disciplina que o CDS, em 2010, considerava como «o espaço privilegiado para o desenvolvimento
da educação para a cidadania».
Julgo que a razão por que apresentam este projeto de resolução é por que, no fundo, sabem que, para
além de termos hoje uma escola mais pobre, mais fechada para o mundo e para o desafio às mentalidades,
temos, afinal, uma falsa autonomia nas escolas, porque a liberdade que elas detêm mais não é do que uma
mão cheia de nada e outra cada vez mais vazia para a cidadania.
Aplausos do PS.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Para uma intervenção, tem a palavra a Sr.ª Deputada Rita Rato.
A Sr.ª Rita Rato (PCP): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, discutimos hoje uma proposta do CDS para
introduzir no 3.º ciclo do ensino básico das escolas nacionais — é assim que dizem — uma formação de
frequência obrigatória em suporte básico de vida.
Naturalmente que reconhecemos a importância relativa desta matéria e, do ponto de vista dos princípios,
acompanhamos globalmente a proposta que apresentam.
Contudo, não podemos deixar de assinalar que, depois de este Governo PSD/CDS ter aplicado uma
reorganização curricular, contra tudo e contra todos, de desvalorização profunda dos currículos da perspetiva