I SÉRIE — NÚMERO 56
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A Sr.ª Ana Drago (BE): — Sr. Presidente, Sr. Deputado António Braga, havia em tempos uma piada, talvez
injusta, sobre os economistas, que dizia que os economistas eram aqueles que explicavam hoje por que é que
se tinham enganado ontem.
Verdadeiramente, quem inventou esta piada não sabia que os seus destinatários naturais ainda estavam
por chegar, mas agora estão em funções governativas: Pedro Passos Coelho, Vítor Gaspar, Álvaro Santos
Pereira. Aqui estão! São os homens que hoje nos explicam por que é que se enganaram ontem e que amanhã
vão explicar-nos por que é que se enganaram hoje.
De facto, há toda uma discussão sobre a questão das previsões e do ajuste do Governo, mas não quero
discutir a credibilidade do Governo em matéria de previsões, quero discutir a realidade, Sr. Deputado. Quero
discutir a realidade de perto de 7000 falências que aconteceram ao longo de 2012 e de 923 000
desempregados registados pelo INE. É essa realidade, é esse resultado objetivo da realidade que creio que
temos de discutir.
Ora, creio que temos de ter também algum cuidado com o que foram hoje as palavras do Ministro Vítor
Gaspar, em sede da Comissão de Orçamento, Finanças e Administração Pública. O Sr. Ministro das Finanças
veio dizer-nos que há estes resultados lamentáveis dos indicadores, dos factos, da realidade, e pode ser que
se possa pensar numa outra política, como nos dizia agora o Sr. Deputado do CDS, numa política de
contraciclo, mas, na verdade, espremendo bem os compromissos que foram feitos por Vítor Gaspar, foi
apenas um, e só, e ele é pro-cíclico: cortar mais 800 milhões de euros, além de todos os cortes que já estão
programados para 2013.
Vozes do BE: — Muito bem!
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Portanto, em cima da desgraça, é criar mais desgraça! Em cima das
dificuldades, é criar mais dificuldades!
E bem pode agora o Governo vir falar de investimento, de tentativas de reestruturação, de
empreendedorismo, porque há uma coisa de que não é possível fugir: é que não há mercado, não há
investimento, não há criação de iniciativa empresarial se não houver consumo. Portanto, se não há
sustentação ao rendimento das famílias portuguesas, não há qualquer possibilidade de investimento, em
Portugal, que possa criar riqueza, que possa criar emprego.
Portanto, bem podemos discutir o que tem vindo a ser dito pelo Governo nos últimos dias, mas, de facto, só
existe esta política a favor do ciclo depressivo e recessivo que estamos a ter. Esta é a espiral recessiva: o
corte de 800 milhões de euros.
O Sr. Deputado trouxe-nos aqui uma discussão importante. Colocou a questão sobre como é que atacamos
o problema da dívida.
Temos ouvido com muita atenção o Partido Socialista e há um conjunto de matérias nas quais temos
concordância: é preciso ver prazos, é preciso ver juros, mas é preciso também entender exatamente a
situação em que estamos. Não é possível, nos termos que atingiu hoje a dívida pública portuguesa, pensar
que se pode trabalhar sobre este problema, com o peso que tem sobre a economia portuguesa, sem fazer
uma restruturação que ataque o problema do abatimento do stock da dívida. Esta é a questão fundamental.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Peço-lhe que termine, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Vou terminar, Sr. Presidente.
Temos de dizer aos credores, institucionais e privados, que aquilo que é possível à Nação portuguesa é
implementar um ciclo de crescimento económico, mas esse ciclo de crescimento económico só pode
acontecer se houver, de facto, um abatimento ao stock da dívida.
O Sr. Presidente (Guilherme Silva): — Tem mesmo de terminar, Sr.ª Deputada.
A Sr.ª Ana Drago (BE): — Termino, Sr. Presidente, com uma última questão.